A Garota da Moto Rosa -Choque

Capítulo 7: Um Aliado Misterioso

A noite caía densa e silenciosa, como um cobertor que envolvia a estrada vazia. Simone pilotava sua Rosa-Choque com confiança, cada vez mais segura das habilidades que havia desenvolvido. O sino guardião pendurado na moto balançava suavemente, soltando seu tilintar familiar a cada curva. Simone mantinha o olhar firme à frente, mas sentia uma sensação estranha, como se algo ou alguém estivesse acompanhando-a à distância. Esse pressentimento a inquietava, mas ela estava decidida a continuar a jornada. Havia algo na estrada que a atraía, uma espécie de chamado que não podia ignorar.

Enquanto acelerava para deixar a sensação desconfortável para trás, Simone notou uma figura sombria surgindo na curva da estrada à frente. Era uma presença imponente, quase surreal, em uma moto preta que parecia uma sombra viva. A figura estava encapuzada e usava um capacete negro, obscurecendo completamente seu rosto. A aura ao redor desse misterioso motociclista era intensa e quase sobrenatural, mas ao invés de medo, Simone sentiu um certo alívio. Era como se a presença dele significasse que ela estava segura, mesmo sem saber quem ele era.

O silêncio foi quebrado pelo ronco forte da moto dele, que, num piscar de olhos, acelerou e emparelhou ao lado da Rosa-Choque. Simone, surpresa, virou-se rapidamente, tentando ver mais detalhes, mas tudo que conseguiu captar foi o brilho de um par de olhos profundos sob o capacete. O motoqueiro fez um gesto com a cabeça, indicando que queria que ela o seguisse. Sem entender bem o porquê, Simone decidiu confiar e manteve a velocidade, acompanhando o estranho misterioso.

O Encontro com as Criaturas

Eles seguiram pela estrada até que, em determinado ponto, o motoqueiro diminuiu a velocidade e parou ao lado de Simone. Ela fez o mesmo, sentindo a tensão crescente no ar. A escuridão ao redor parecia mais densa ali, e o som de folhas farfalhando nas árvores próximas era inquietante. De repente, Simone ouviu ruídos que se aproximavam rapidamente — passos pesados, acompanhados de grunhidos baixos e ameaçadores. Não demorou para que figuras esquisitas surgissem na beira da estrada, as mesmas criaturas que ela encontrara naquela noite assustadora.

Simone sentiu o coração disparar. Ela não sabia se aquelas criaturas eram hostis ou apenas curiosas, mas, lembrando do que tinha passado da última vez, sentiu um calafrio na espinha. A criatura mais próxima possuía uma pele esverdeada e uma estrutura encurvada, com olhos pequenos e brilhantes. Parecia estar se comunicando com outras criaturas que também avançavam lentamente em direção aos dois motociclistas.

O motoqueiro encapuzado rapidamente entrou em ação. Ele desceu da moto e fez um sinal para que Simone ficasse atrás dele. Observando-o em ação, ela notou a segurança e a firmeza de seus movimentos, como se soubesse exatamente o que fazer. Ele avançou com determinação em direção às criaturas, balançando os braços em movimentos circulares, tentando dispersá-las.

Simone, observando a coragem e o preparo daquele estranho, sentiu um impulso de ajudar. Ela tocou o sino guardião, que começou a tilintar de maneira intensa e quase mágica. O som ecoou na noite, reverberando pelas árvores e atingindo as criaturas, que pareciam reagir ao som de forma negativa. Algumas começaram a recuar, enquanto outras se entreolhavam, incertas. O motoqueiro misterioso, vendo a reação das criaturas ao sino, usou isso a seu favor, enfrentando-as com redobrada energia e espantando-as para longe da estrada.

A Revelação do Encantamento

Quando as criaturas desapareceram na escuridão, Simone soltou um suspiro de alívio. Ela olhou para o motoqueiro misterioso, ainda sem palavras para expressar sua gratidão. Ele caminhou até ela, seus passos firmes ecoando na estrada deserta, e, em um movimento lento e decidido, ergueu as mãos para remover o capacete e o capuz. Quando o rosto dele finalmente ficou visível, o coração de Simone disparou de surpresa e alegria.

— Jofre! — exclamou ela, incapaz de conter o sorriso.

Jofre, o homem que tinha sido seu mentor, seu amigo e o criador da Rosa-Choque, estava ali, em carne e osso, acompanhando-a na jornada. A presença dele parecia ao mesmo tempo improvável e profundamente reconfortante, como se uma peça do quebra-cabeça estivesse finalmente se encaixando.

— Sim, Simone — disse Jofre, sorrindo de um jeito sereno. — Eu disse que sempre estaria por perto. A estrada pode ser traiçoeira, e sei que você tem coragem, mas nunca deixaria você enfrentar tudo sozinha.

Ela abriu um sorriso amplo, sentindo uma mistura de admiração e gratidão. Jofre era mais que um amigo; ele era o guardião silencioso que havia se tornado uma parte essencial de sua vida de aventuras.

— Mas... como você sabia que eu estaria aqui, passando por isso? — perguntou Simone, ainda processando a presença de Jofre.

Jofre apontou para o sino pendurado na Rosa-Choque.

— O sino guardião, minha querida. Ele não é apenas um enfeite. É uma ligação entre nós. Sempre que você toca esse sino, é como um chamado, e eu posso sentir onde você está. — Ele fez uma pausa, olhando-a com ternura. — Essa é a nossa conexão. E não se preocupe, não vou deixá-la sozinha nesta estrada.

Simone percebeu que aquele pequeno sino era, de fato, um presente mais valioso do que poderia imaginar. Ele não apenas representava a proteção de Jofre, mas também uma amizade e uma ligação inquebrável entre eles.

Uma Nova Aliança na Estrada

Com a ameaça das criaturas agora resolvida, Jofre propôs que seguissem juntos por um tempo, para que pudessem explorar mais da estrada lado a lado. Simone aceitou de imediato, animada com a ideia de compartilhar o caminho com ele. Saber que Jofre estava ali, tão próximo, trazia uma segurança e uma força renovadas. Ela sentia que, com ele ao seu lado, poderia encarar qualquer desafio que surgisse.

Eles rodaram juntos pela noite, trocando histórias e gargalhadas. Simone contou a Jofre sobre todos os lugares incríveis que havia visitado, os motoqueiros que conhecera e as lições que aprendera pelo caminho. Jofre, por sua vez, compartilhou detalhes de suas aventuras da juventude, histórias das antigas estradas e segredos sobre mecânica e pilotagem que ele ainda não havia revelado.

A jornada se tornou um encontro de gerações, onde o conhecimento de Jofre se somava à energia e à paixão de Simone. Ela entendia agora que, embora a estrada fosse sua, o apoio de amigos e mentores tornava a experiência mais rica e cheia de significado.

A Promessa do Sino Guardião

Enquanto o céu começava a clarear, indicando que o amanhecer estava próximo, Jofre e Simone pararam em um mirante à beira da estrada. O horizonte tingido de laranja e rosa iluminava as montanhas ao longe, criando uma visão majestosa que capturava a beleza e a grandiosidade do mundo. Eles desceram das motos e ficaram ali, lado a lado, contemplando a paisagem e o silêncio ao redor.

Jofre olhou para Simone com um sorriso sereno e tocou levemente o sino guardião pendurado na Rosa-Choque.

— Lembre-se sempre, Simone. Este sino é mais que um símbolo. Ele é um pacto. Um pacto de amizade, de proteção e de lealdade à estrada. Onde quer que você vá, ele sempre me chamará, e eu virei, não importa o que aconteça.

Ela assentiu, tocada pelas palavras de Jofre. Entendia agora o verdadeiro valor daquele presente, a importância da ligação entre eles e com todos os que amavam a estrada.

— E eu prometo, Jofre, que farei o mesmo pelos outros que precisarem. Esse sino me ensinou que, na estrada, ninguém deve estar sozinho. Vou sempre ajudar meus amigos e compartilhar esse pacto com eles.

Juntos, eles tocaram o sino, o som se espalhando pela manhã calma, ecoando entre as montanhas e prometendo que a amizade e o espírito da estrada continuariam vivos, para sempre, entre todos aqueles que se aventurassem pelas curvas e retas do mundo.

O nascer do sol trouxe uma nova luz à Rosa-Choque, e com Jofre ao seu lado, Simone se sentiu mais preparada do que nunca para encarar qualquer aventura que viesse. Sabia que a estrada lhe reservava desafios, mas, agora, com o sino guardião e a presença de seu mentor, ela seguiria em frente, destemida, rumo a novas aventuras.