Capítulo 2: O Encontro com o Ancião das Motos

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O dia começara cedo para Simone. Ela saiu de casa com uma energia diferente, ansiosa pelo que poderia encontrar na oficina de Jofre, o lendário "Ancião das Motos", como era conhecido entre os apaixonados por motocicletas na cidade. Jofre era uma figura misteriosa e respeitada, e a lenda dizia que ele conhecia cada centímetro das estradas do país. Ele se tornara uma lenda não só pela habilidade em restaurar motocicletas, mas pelo respeito com que abordava cada aspecto do mundo sobre duas rodas. E era ele, agora, o mentor de Simone.

Simone chegou à oficina, e o som das ferramentas de Jofre já ecoava no ambiente, misturado ao cheiro de óleo e metal polido. O lugar parecia um pequeno museu de histórias guardadas, onde cada moto restaurada era um fragmento do passado, uma recordação de lugares distantes, encontros inesperados e longas jornadas noturnas. Jofre levantou o olhar quando ela entrou e, com seu habitual sorriso acolhedor, fez um leve aceno com a cabeça.

"Pronta para mais um dia?" perguntou ele, enquanto ajeitava seu chapéu de couro.

"Mais do que pronta!" respondeu Simone, sorrindo, cheia de energia.

Para Simone, Jofre era mais do que apenas um mentor; ele se tornara como um pai. E Jofre, por sua vez, sentia-se em casa ao lado dela. No fundo, sabia que Simone carregava dentro de si o mesmo desejo que o movia quando jovem: o de explorar o mundo sem amarras, buscando em cada quilômetro uma nova experiência. Era algo que ele não via há muito tempo, e isso reacendia nele uma antiga paixão, agora revivida através dos olhos da jovem.

Após algumas horas de trabalho na oficina, Jofre e Simone decidiram fazer uma pausa. Sentaram-se nos bancos de couro desgastado, perto da entrada, enquanto Jofre tirava de uma gaveta duas latas de refrigerante, uma tradição entre eles. Ele olhou para ela de forma pensativa antes de falar, seu tom carregado de uma gentileza e uma seriedade que pareciam carregar a profundidade das estradas por onde andara.

"Simone, sabe o que faz uma pessoa realmente amar esse mundo das motos?", perguntou ele, encarando-a.

Ela sorriu, ansiosa pela resposta. "Acho que é a liberdade, Jofre. A possibilidade de ir a qualquer lugar, a qualquer momento."

Jofre assentiu. "Sim, tem um pouco disso. Mas é mais que isso também. É sobre se conhecer. A estrada, o vento, a moto... tudo isso te desafia a ser fiel a si mesma, a encarar os próprios medos e descobrir quem você realmente é." Ele fez uma pausa, encarando a parede repleta de pôsteres antigos de corridas e viagens épicas. "E não é qualquer um que consegue viver assim. Você, por exemplo... tem esse desejo por algo além do que a cidade oferece, não tem?"

Simone balançou a cabeça afirmativamente. Era verdade, ela sempre sentira um desejo profundo por algo mais, um anseio que muitas vezes não sabia expressar. Desde pequena, a ideia de ficar presa à rotina lhe causava inquietação. Ela queria mais — queria aventuras, descobertas e histórias próprias.

"Sim, Jofre. Não sei exatamente o que é, mas sinto que minha vida precisa de algo a mais, sabe? E eu acho que a estrada pode me dar isso."

Jofre sorriu. "Eu sabia. Quando te vi pela primeira vez, percebi isso. Uma alma livre e aventureira. É raro. Não se encontra todos os dias." E, após uma pausa significativa, acrescentou: "E, por isso, decidi te ajudar a realizar esse sonho, Simone. Vamos construir a sua própria moto."

Ela arregalou os olhos, incrédula, sentindo uma onda de emoção tomar conta de si. Não sabia o que dizer. Por um instante, ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras, enquanto Jofre continuava:

"Mas não será qualquer moto, e também não vai ser uma tarefa fácil. Quero que sua moto seja algo especial, como você mesma. Ela precisa ser rápida, mas também encantadora, única. Algo que carregue o seu espírito e mostre ao mundo quem você é."

A  Garota da Moto Rosa -ChoqueOnde histórias criam vida. Descubra agora