Capítulo 5: Criaturas na Noite

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A noite pairava, silenciosa e misteriosa, enquanto Simone avançava estrada afora, apenas iluminada pela fraca luz do luar. A Rosa-Choque ronronava suavemente, como se partilhasse da serenidade daquele momento. Simone sentia-se livre, leve, e, pela primeira vez em muito tempo, completamente em paz. Mas, de repente, o céu escureceu ainda mais, como se uma sombra gigante tivesse se colocado diante da lua. Simone levantou os olhos, buscando o que pudesse ser, e então avistou uma luz prateada cortando o céu.

Seu coração disparou. A luz não era comum; era algo diferente, que parecia dominar o horizonte com uma presença quase mágica e ao mesmo tempo ameaçadora. Ela tentou acelerar, mas sentiu um estranho peso na atmosfera ao seu redor, como se o ar tivesse ficado denso. A Rosa-Choque pareceu resistir ao comando, e a estrada à frente, normalmente deserta e silenciosa, foi tomada por figuras escuras que se formavam em meio a uma neblina crescente.

Simone prendeu a respiração quando finalmente distinguiu as silhuetas. As criaturas eram baixas, de pele esverdeada e olhos vazios, como se não houvesse vida em seus semblantes. As orelhas achatadas eram pontudas, e, mesmo na penumbra, ela pôde ver que suas peles reluziam de uma forma estranha. As figuras começaram a sair da luz que irradiava de um grande objeto que flutuava acima do chão — um disco que cintilava prateado no céu, rodando devagar, emitindo um som hipnotizante.

Ela tentou manter o controle da moto, mas o susto foi tamanho que sua mão tremeu no guidão, e o próximo segundo foi uma sucessão de movimentos e sons caóticos. A moto derrapou no asfalto, e Simone sentiu seu corpo ser lançado para a lateral da estrada. O impacto foi brutal; ela se chocou contra o solo, sentindo uma dor cortante na perna, que logo se espalhou pelo corpo.

Sem conseguir ficar de pé, Simone se arrastou para mais perto da Rosa-Choque, seu coração batendo tão rápido que ela podia ouvir o som ecoando em seus ouvidos. Olhou para as criaturas, que agora avançavam em sua direção, seus olhos inexpressivos fixos nela. Cada passo que davam parecia diminuir a distância entre elas e Simone em um ritmo assustador.

Sem outra alternativa, ela agarrou a bolsa pendurada em seu ombro e começou a jogar objetos na direção das criaturas. Chaves, moedas, qualquer coisa que suas mãos trêmulas conseguiam alcançar. Mas nada as afastava. As criaturas pareciam imunes aos objetos, como se nada fosse capaz de deter sua aproximação.

Quando tudo parecia perdido, Simone se lembrou de um detalhe: o pequeno sino que Jofre havia pendurado na Rosa-Choque. Ele o chamava de "sino guardião", uma peça decorativa que ela até então acreditava ser apenas um toque de charme. O som do sino sempre a acalmava, como uma música reconfortante em momentos de tensão, mas naquele instante, tornou-se sua única esperança.

Com dificuldade, ela conseguiu se arrastar até a Rosa-Choque e alcançou o sino, segurando-o com toda a força que lhe restava. Sacudiu-o freneticamente, e o som metálico do sino começou a ressoar pela estrada. O som reverberou pela noite, ecoando na floresta ao redor e alcançando distâncias inimagináveis.

Para seu espanto, o tilintar do sino pareceu perturbar as criaturas, que hesitaram, dando alguns passos para trás. Os olhos vazios das figuras piscaram, e elas começaram a cobrir as orelhas, como se tentassem bloquear o som. E então, como um milagre surgido da escuridão, ela ouviu o ronco distante de outra moto aproximando-se.

Um feixe de luz rasgou a escuridão, iluminando as criaturas, que agora recuavam mais rapidamente. O som da outra moto ecoava alto, e, logo depois, um vulto em uma moto preta, vestindo um capuz escuro, apareceu no fim da estrada, acelerando em direção a Simone e às criaturas. O motoqueiro misterioso parou ao lado dela, desceu de sua moto e encarou as figuras sombrias. Sem hesitar, ele avançou contra elas, enfrentando-as com uma coragem surpreendente.

O estranho motoqueiro lutava com uma ferocidade impressionante. Ele desferia golpes rápidos, enquanto as criaturas tentavam em vão contra-atacar. A batalha parecia uma dança frenética sob a luz pálida da lua, com o motoqueiro se movendo com agilidade, desviando dos ataques das criaturas e rebatendo cada investida com precisão.

Simone observava tudo, sua respiração presa enquanto o mistério daquele desconhecido herói preenchia sua mente. Ela tentava decifrar quem era aquela pessoa e por que tinha aparecido para salvá-la justo naquele momento. Finalmente, após uma luta intensa, as criaturas começaram a recuar para dentro do disco prateado, que emitia uma luz mais forte e pulsante à medida que elas entravam.

Quando a última criatura desapareceu, o disco voador se elevou e, em um instante, desapareceu no céu, como se nunca tivesse existido. O motoqueiro misterioso se virou para Simone, que o observava ainda assustada, mas agora mais aliviada. Ele se aproximou dela, e ela percebeu, com o coração acelerado, que conhecia aquele olhar determinado.

O motoqueiro abaixou o capuz, revelando seu rosto: era Jofre. O mesmo Jofre, seu mentor e protetor, aquele que lhe dera a Rosa-Choque e o sino guardião. Os olhos dele tinham um brilho de emoção e cuidado que ela jamais havia visto antes. Ele se abaixou ao lado de Simone, examinando sua perna ferida com atenção e preocupação.

— Você está bem, garota? — perguntou ele, a voz rouca e cheia de afeto.

Simone, ainda tentando recuperar o fôlego, assentiu, deixando escapar um sorriso trêmulo.

— Eu... eu não sei o que teria acontecido se você não tivesse aparecido — murmurou ela, emocionada.

Jofre a ajudou a se levantar com cuidado e puxou de sua mochila alguns curativos improvisados para tratar rapidamente o ferimento em sua perna. Após limpá-lo e cobrir a área machucada, ele se levantou e fitou Simone com um olhar sério.

— Esse sino que coloquei na Rosa-Choque é mais do que uma decoração, Simone. Ele é uma ligação entre nós, uma forma de eu saber onde você está em momentos de perigo — explicou ele, tocando o pequeno sino que pendia da moto. — Sempre que você precisar de ajuda, basta sacudi-lo, e, se eu puder, estarei ao seu lado.

Simone sentiu as lágrimas brotarem em seus olhos. A gratidão que sentia por Jofre era imensa, e ela se jogou em seus braços, abraçando-o com força. Ele retribuiu o abraço, e por um instante, os dois ficaram ali, em silêncio, apenas sentindo o peso daquela amizade que os ligava.

Antes de se afastar, Jofre retirou duas tiras de couro do assento da Rosa-Choque e entregou uma para Simone, amarrando a outra em sua própria moto.

— Essas tiras também são um símbolo da nossa conexão. Se alguma coisa acontecer e o sino guardião não for suficiente, essa tira servirá para você me lembrar que eu sempre estarei de olho em você — disse ele, com um sorriso gentil.

Simone assentiu, tocando a tira de couro que agora também fazia parte da sua Rosa-Choque. Jofre, com sua moto já preparada para partir, montou e fez um aceno breve para Simone.

— Agora vá, garota. A estrada ainda é sua, e as aventuras não vão esperar por você — disse ele, acelerando sua moto e desaparecendo na noite, deixando apenas o eco do ronco de seu motor.

Simone ficou ali por alguns instantes, com o coração ainda acelerado e o espírito renovado. O que acabara de vivenciar a deixava com uma força que ela jamais sentira antes. A Rosa-Choque ainda estava com ela, firme e forte, e agora, além do sino guardião, ela tinha uma tira de couro como símbolo de que, em qualquer lugar do mundo, seu amigo Jofre a protegia.

Simone ajeitou o capacete, subiu novamente na moto e, com uma nova determinação, acelerou, deixando para trás o cenário do seu primeiro encontro com o desconhecido e misterioso. Mas agora ela sabia que, com a Rosa-Choque e o sino guardião, estava pronta para enfrentar qualquer aventura que o mundo lhe reservasse.

A  Garota da Moto Rosa -ChoqueOnde histórias criam vida. Descubra agora