Capítulo 2: O Príncipe Enclausurado

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Os anos passaram, e o pequeno príncipe Narciso cresceu sob a sombra constante da maldição. Com 10 anos de idade, ele já era conhecido por sua inteligência afiada e uma curiosidade incansável, mas também por sua teimosia em quebrar regras. Embora fosse amado por todos no reino de Smeron, Narciso não se sentia verdadeiramente livre. As proibições impostas pelo rei Haskel faziam o mundo ao seu redor parecer mais como uma gaiola dourada do que um lar.

No castelo, espelhos eram inexistentes, janelas estavam sempre cobertas por cortinas grossas e o brilho das superfícies metálicas era cuidadosamente apagado. Os criados evitavam qualquer coisa que pudesse refletir a imagem de Narciso, e ele não tinha permissão para visitar rios ou lagos, nem mesmo em sonhos. Ainda assim, o príncipe não conseguia entender o motivo de tantas restrições. A única explicação que recebia de seu pai era sempre a mesma: "Para sua própria proteção".

Essa justificativa se tornou insuficiente para Narciso. Sentado à beira de uma das janelas cobertas do castelo, ele olhava para o horizonte, tentando imaginar como era o mundo além dos muros. Ele suspirava, uma mistura de frustração e desejo em seus olhos verdes.

Foi nesse contexto de confinamento que Oliver, seu único e verdadeiro amigo, surgiu como uma luz. Desde pequenos, os dois compartilhavam um laço único, um laço que Narciso considerava mais forte do que qualquer barreira que o rei pudesse impor. Oliver era filho de um jardineiro do castelo, e seu jeito aventureiro e destemido contrastava com a vida meticulosamente controlada de Narciso.

- Hoje, vamos além do pátio - sussurrou Oliver com um sorriso travesso, enquanto se esgueirava pela porta do quarto de Narciso.

Narciso ergueu os olhos, seu rosto iluminado por um entusiasmo raro.

- Você descobriu uma saída? - perguntou ele, quase sem acreditar.

Oliver assentiu, os olhos brilhando de excitação.

- Sim, mas precisamos ser rápidos e silenciosos.

Sem hesitar, Narciso pegou sua capa, sentindo a adrenalina pulsar em suas veias. Era a primeira vez em semanas que ele sentia um verdadeiro vislumbre de liberdade, e não pretendia deixar a oportunidade escapar. Os dois garotos se esgueiraram pelos corredores, evitando criados e guardas, até chegarem a uma pequena passagem nos fundos do castelo.

A passagem era apertada e escura, cheirando a mofo e abandono. Oliver abriu um painel secreto na parede, revelando um túnel estreito que levava para fora do castelo. Narciso hesitou por um momento, o medo e a excitação se misturando dentro dele. Mas, guiado pela coragem de Oliver, ele entrou no túnel, com o coração batendo forte no peito.

Quando finalmente emergiram do outro lado, a luz do sol os envolveu como um abraço quente. Narciso olhou ao redor, maravilhado. Era um campo aberto, com árvores ao longe e uma brisa suave que trazia o aroma das flores. Ele fechou os olhos por um momento, respirando fundo, como se quisesse absorver cada pedaço daquela liberdade recém-descoberta.

- Isso é... incrível, Oliver - disse ele, quase em um sussurro.

Oliver sorriu.

- Ainda não viu nada, Narciso. Vamos para a floresta, é ainda mais mágico lá dentro.

E assim, os dois garotos correram em direção à floresta, rindo como se fossem apenas duas crianças comuns, sem maldições ou restrições para contê-los.

A floresta de Smeron era um lugar de beleza e mistério. As árvores eram altas e antigas, suas copas formando um dossel que deixava o chão do bosque em uma penumbra suave. Narciso e Oliver se moviam com a destreza de exploradores, rindo e se maravilhando com a natureza ao redor. Narciso se sentia livre de uma maneira que nunca havia experimentado antes. O som do vento, o farfalhar das folhas, o canto dos pássaros... tudo parecia cantar uma canção de liberdade que Narciso ansiava por tanto tempo.

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