Capítulo 3: A Cerimônia de Escolha

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O tempo não fora gentil com Narciso, mas ele aprendera a ser resistente. Agora, com 17 anos, ele estava no limiar da idade adulta, mas ainda preso às mesmas proibições que o acompanharam desde o nascimento. Sua beleza, que antes era apenas um traço marcante, agora se tornara quase sobrenatural. Os servos no castelo o olhavam com admiração, os olhos sempre fascinados por sua presença, mesmo que ele nunca pudesse retribuir o olhar.

O rei Haskel havia aumentado a vigilância. Guardas mais atentos, janelas cobertas com ainda mais zelo, e ordens ainda mais rígidas. Mas nada disso era suficiente para conter a sede de liberdade de Narciso.

— Outro dia preso no paraíso dourado, hein? — disse Oliver, sentando-se ao lado de Narciso na borda de um dos telhados do castelo, um dos poucos lugares onde podiam falar sem serem ouvidos.

— Paraíso dourado? Está mais para prisão reluzente — respondeu Narciso, soltando um suspiro profundo.

Oliver riu, mas logo ficou sério ao ver a expressão sombria de Narciso.

— Você está pensando em algo, não está? — perguntou ele.

Narciso virou-se para Oliver, os olhos verdes cheios de uma mistura de determinação e frustração.

— A Cerimônia de Escolha é daqui a uma semana — disse ele. — Eu deveria estar lá. É a minha chance de finalmente ser alguém além de uma maldição ambulante.

Oliver olhou para Narciso com preocupação. Ele sabia o quanto a cerimônia significava para seu amigo. Era um rito de passagem, um momento em que todos os jovens do reino podiam provar seu valor e encontrar seu lugar no mundo.

— Você sabe que seu pai não vai permitir — disse Oliver em um tom baixo. — Ele tem medo do que pode acontecer.

— E eu tenho medo de nunca ser nada além de uma promessa quebrada — retrucou Narciso, a voz carregada de emoção. — Eu não quero ser conhecido apenas pelo que não posso fazer ou pelo que não posso ser. Eu preciso disso, Oliver.

Oliver ficou em silêncio por um momento, considerando as palavras de Narciso. Ele sabia que não seria fácil, mas também sabia que Narciso estava disposto a arriscar tudo.

— E se eu te ajudar? — sugeriu ele, seus olhos escuros brilhando com a mesma determinação.

Narciso olhou para Oliver, surpreso e grato.

— Você faria isso?

Oliver sorriu.

— Faria. E farei.

A semana que antecedia a Cerimônia de Escolha foi uma mistura de ansiedade e expectativa para Narciso. Ele e Oliver passavam as noites em segredo, planejando cada detalhe da fuga. O risco era enorme, mas o desejo de Narciso de participar era maior do que o medo.

— O salão onde a cerimônia será realizada é no centro da cidade — explicou Oliver, apontando um mapa rudimentar que desenhara em um pedaço de pergaminho velho. — Se sairmos daqui à meia-noite, conseguiremos chegar lá antes do amanhecer.

Narciso olhou para o mapa, seu coração acelerando com a perspectiva de finalmente ser parte de algo mais grandioso do que os muros do castelo.

— E quanto à segurança do castelo? — perguntou ele. — Não quero que você se meta em problemas por minha causa.

Oliver sorriu, tentando parecer confiante.

— Eu já cuidei disso. Durante a troca de guardas, haverá um momento em que o portão oeste ficará sem vigilância por alguns minutos. É a nossa chance.

Narciso assentiu, sentindo um calor de gratidão e companheirismo pelo amigo. Oliver não apenas o apoiava, mas também arriscava tudo por ele, o que apenas reforçava o laço inquebrável entre os dois.

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