Capítulo 1: O Banquete do Destino

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O sol despontava sobre o reino de Smeron, lançando raios dourados que iluminavam as torres do castelo e as colinas ao redor. Naquele dia especial, o reino estava em festa. As ruas estavam enfeitadas com fitas coloridas, flores perfumadas e estandartes brilhantes que anunciavam o nascimento do tão aguardado herdeiro real, Narciso, o primeiro filho do rei Haskel e da rainha Lira.

O som de flautas e tambores ecoava pelos salões do castelo, enquanto os súditos, nobres e plebeus se reuniam para o grande banquete de celebração. No centro do salão principal, um berço de ouro e veludo repousava sobre um estrado elevado, adornado com flores brancas que simbolizavam pureza e esperança. Nele, um bebê de pele pálida e cabelos castanhos dourados dormia pacificamente. Seu nome era Narciso, e sua beleza já encantava a todos que se aproximavam.

O rei Haskel estava de pé ao lado do berço, um sorriso orgulhoso nos lábios, enquanto a rainha Lira o observava com os olhos marejados de alegria. Era um sonho finalmente realizado após anos de esperas e orações. Decidido a compartilhar essa felicidade, o rei havia convidado todos os habitantes do reino para o banquete, sem distinções. Nobres, camponeses e até as seis fadas de Smeron estavam presentes, prontas para agraciar o recém-nascido com dons mágicos.

As seis fadas, vestidas com vestidos que refletiam suas cores e poderes, se alinharam diante do berço, preparadas para oferecer suas bênçãos a Narciso. A primeira fada, com um vestido vermelho cintilante, se aproximou e, com um sorriso caloroso, beijou a testa do bebê adormecido.

- Terás graça e será o mais belo cavaleiro do reino - ela proclamou, sua voz doce ressoando pelo salão. Um brilho suave envolveu Narciso, como se a promessa estivesse sendo selada pela magia.

A segunda fada, vestida de laranja, inclinou-se para sussurrar sua bênção:

- E o de caráter mais justo que já se viu - disse ela, acenando com a cabeça enquanto uma brisa suave enchia o salão.

Uma a uma, as outras fadas seguiram, cada uma acrescentando um dom diferente: força, coragem, caridade e inteligência. Cada bênção fazia Narciso brilhar mais, seus pequenos olhos verdes piscando como se ele pudesse sentir a magia ao seu redor.

Então, chegou a vez da sexta fada, que vestia um manto de cor índigo. Ela estava um pouco desajeitada, ajustando o vestido após derramar um pouco de néctar de fruta sobre si mesma. Antes que pudesse se aproximar de Narciso, uma nuvem roxa e espessa surgiu no meio do salão, densa como a noite. Um frio cortante percorreu o ar, e o murmúrio da multidão se transformou em um silêncio apreensivo.

Da névoa roxa emergiu a figura da sétima fada, que não havia sido convidada. Sua presença era ao mesmo tempo majestosa e aterrorizante, com um sorriso gélido nos lábios.

- Ora, ora, ora... mais que linda celebração, rei Haskel - disse a fada violeta, sua voz sarcástica cortando o silêncio como uma faca. - Nobreza, realeza, cortesãos e até a... escória...

A multidão recuou, temendo o pior. O rei Haskel franziu o cenho, seus olhos cheios de fúria e preocupação.

- Você não é bem-vinda aqui! - bradou ele, sua voz ecoando pelo salão.

- Não sou!? - respondeu a fada violeta, fingindo surpresa. - Ah, que descuido da minha parte. Eu realmente achei que fosse um esquecimento... Bem, já que estou aqui, por que não agraciar também o pequeno príncipe?

Antes que o rei pudesse impedir, a fada violeta ergueu as mãos, e um círculo de fogo violeta se formou ao redor do berço de Narciso. As outras fadas tentaram intervir, mas o círculo de chamas as impediu de se aproximar.

- Ouçam bem! - exclamou a fada violeta, sua voz fria e firme. - O príncipe crescerá com toda a graça e beleza que vocês lhe deram.

- São belas palavras... - disse a rainha.

- Mas... no entanto... com todas essas qualidades, temo que o tornariam um tanto arrogante, não acham? - ela olha de relance o seu próprio reflexo em uma das janelas do salão. - por isso... ele nunca poderá ver a própria imagem. Se o fizer, ficará preso na beleza de seu reflexo e definhará até a morte!

A rainha Lira caiu de joelhos, lágrimas escorrendo pelo rosto. O rei Haskel, em desespero, gritou:

- Não! Prendam-na!

Mas a fada violeta apenas riu, suas chamas crepitando enquanto ela desaparecia na névoa. O salão ficou em silêncio novamente, agora carregado de medo e incerteza.

A sexta fada, a de manto índigo, ainda estava no local, abalada, mas determinada. Ela se aproximou do berço de Narciso e, com um estalo de dedos, entoou:

- Belo príncipe, se por um acaso cruel te encantar-te com tua própria imagem, a morte não te levará. Em vez disso, te transformarás em uma flor, e a pessoa certa poderá te regar e trazer-te de volta à vida.

O rei Haskel, ainda tomado pela raiva e desespero, gritou para as fadas:

- Saiam daqui, agora!

As fadas saíram rapidamente, a fada índigo visivelmente perturbada com a situação. Do lado de fora do castelo, elas discutiam sobre o que poderia ter sido feito, mas a tristeza já havia se instalado em seus corações.

Enquanto isso, o rei Haskel ordenava a remoção de todos os espelhos e objetos reflexivos do castelo. A maldição de Narciso agora era um segredo sombrio e uma tragédia anunciada, que apenas o amor verdadeiro poderia, um dia, quebrar.

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