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Eu estava sentada em um tronco qualquer, com as mãos na cabeça e chorando

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Eu estava sentada em um tronco qualquer, com as mãos na cabeça e chorando. Eu estava me odiando por isso.

Me odiando por chorar. Chorar faz você enfraquecer, chorar te deixa vulnerável e eu odiava isso, odiava a minha vulnerabilidade.

Mas era inevitável não chorar, meu melhor amigo não se lembrava de mim, não sei se as pessoas que eu amava dentro daquele laboratório estão bem, não sei o que ouve, não tenho controle.

Eu não tenho respostas.

Meus pensamentos são cortados por Dean.

Mentiria se eu dissesse que não conheci pessoas aqui, na clareira, que me fazem bem. Conheci pessoas por quem eu daria minha vida aqui, conheci pessoas que eu prometi para mim mesma que, custe o que custar, eu protegeria.

Dean, Chuck, Newt, Gally e Alby. Mas, o foco é Dean.

Dean apareceu na minha vida de forma inesperada. Eu ainda lembro do dia em que nos encontramos pela primeira vez na Clareira. Ele é um homem de 23 anos, com uma personalidade que pode ser descrita como um misto de tempestade e calmaria. Para os outros, ele era uma figura assustadora — irônico, impaciente e, a maioria das vezes, grosso. Mas, comigo, ele era diferente. Havia uma gentileza escondida por trás de toda aquela dureza, uma suavidade e amor que ele só mostrava para mim.

Com o passar do tempo, ele se tornou mais do que apenas uma presença em minha vida. O que sentimos um pelo outro é muito mais do que as palavras podem descrever. E, mesmo que eu hesite em admitir, posso afirmar que Dean é, sem dúvida, a pessoa mais importante da minha vida. O tipo de importância que não pode ser medida em laços de sangue ou de convivência; o tipo de conexão que surge poucas vezes na vida, e quando surge, é impossível ignorar.

Ele não era apenas um amigo. Dean representava para mim a figura de um irmão mais velho, alguém em quem eu podia confiar de olhos fechados. Ele me protegia de tudo e todos, estamos tão conectados que nossos silêncios falam mais do que nossas conversas.

Apesar da distância emocional que ele mantinha do mundo, eu sempre soube que, se algo acontecesse comigo, ele estaria lá. E essa certeza era impossível de ser quebrada. Não importa o que o destino traga, ele sempre seria meu irmão, alguém que eu amo profundamente e por quem eu daria minha vida sem hesitar. Porque, no fundo, sei que ele faria o mesmo por mim. Dean enfrentaria qualquer tempestade, qualquer perigo, para me proteger. Ele lutaria contra o impossível se isso significasse me salvar.

Nossa relação ultrapassava os limites convencionais de amizade ou família. Dean era uma parte de mim, e essa parte eu jamais abriria mão. Pessoas vão e vêm, mas o que construímos é inquebrável. Eu o amo com todas as fibras do meu ser, com uma intensidade que não consigo explicar em palavras. É um amor que vai além do comum, além do esperado, além do que se entende como fraternal. Eu sei que ele faria qualquer coisa para garantir minha felicidade e segurança — até mesmo, coisas que o levariam a sacrificar tudo o que ele tem.

E, por isso, se algum dia o destino nos colocasse em uma encruzilhada onde eu tivesse que escolher entre minha vida ou a dele, eu não hesitaria em me sacrificar. Porque, no fundo, sei que ele faria o mesmo, e talvez até mais.

— O que ouve, pequeno sol? — Dean pergunta se sentando no mesmo tronco que eu colocando seus braços no meu ombro. O homem sempre me chamou assim, desde da primeira vez que nos vimos, dizendo ele que me chama assim porque eu sou a única coisa boa e pura da vida dele, diz que eu sou a luz que guia ele diante da escuridão.

— Não é nada, manito. — Eu disse o chamado do apelido que eu o dei. Manito era tão bobo e brincalhão, Dean amava esse apelido. — Só fica um pouquinho comigo. — Sussurrei me deitando no ombro dele e me encolhendo mais sobre ele.

Eu amava o abraço do meu irmão.

*QUEBRA DE TEMPO*

A noite já havia caído, e uma das tradicionais festas Clareanas animava o lugar. O som dos tambores artesanais ecoava no ar, misturado às risadas e aos passos desajeitados de quem dançava ao redor das fogueiras. A energia vibrante daquele lugar sempre me envolvia, como se as preocupações do mundo lá fora desaparecessem por algumas horas. Piruetas tortas e movimentos cômicos se espalhavam pelo círculo de dançarinos, e eu não conseguia evitar o sorriso no rosto enquanto assistia.

Estava sentada com Dean e Gally, que se encontravam em um estado lamentável – bêbados a ponto de mal conseguirem ficar de pé. A receita de bebida do Gally era forte, e a prova disso estava bem diante de mim.

Os dois tentavam manter o equilíbrio, oscilando como se estivessem sobre um barco em alto-mar, e eu não conseguia parar de rir. Lágrimas escorriam dos meus olhos de tanto que ria, minha barriga doía, e o som das minhas gargalhadas se misturava ao caos da festa.

— Vocês dois tão parecendo aqueles bonecos infláveis de posto de gasolina! — exclamei, segurando minha barriga, enquanto tentava recuperar o fôlego entre risadas. — Tá ridículo!

Gally me mostrou a língua, um gesto infantil que só aumentou minha diversão, enquanto Dean me presenteava com um dedo do meio cambaleante.

— Não, não, sol! Isso é uma coreografia avançada, você não entenderia! — disse Dean, arrastando as palavras, balançando de um lado para o outro como se estivesse prestes a cair.

— Isso aí, Dean! É tipo balé... — Gally fez uma tentativa desastrosa de girar sobre os pés, mas terminou caindo de bunda no chão. — Mas é balé bêbado! Arte pura!

Dean arregalou os olhos e, como se tivesse tido uma grande ideia, começou a rodopiar desajeitadamente de um lado para o outro, apontando para si mesmo.

— Eu sou o Picasso da... da dança! — anunciou ele, entre risadas, tropeçando nas próprias palavras e nos próprios pés.

Gally tentou se recompor, com uma expressão de seriedade que não combinava nada com sua falta de equilíbrio.

— Se você é o Picasso, então eu sou o Van Gogh... — Ele chutou o ar com um movimento descoordenado. — ...do chute no ar!

— Seu idiota! Van Gogh não chutava o ar, só retardados fazem isso! — exclamei, dando um tapa na nuca de Gally, o que fez ele gemer de forma exagerada, enquanto Dean ria da situação.

As risadas eram contagiantes, e, por um momento, tudo parecia fácil e leve. As preocupações, as tensões do dia a dia no labirinto, tudo parecia tão distante. Era como se, naquela festa, entre risos, bebidas e tombos, a liberdade existisse de verdade.

LABYRINTH OF LIES, minho Onde histórias criam vida. Descubra agora