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Eu estava deitado naquela rede desconfortável, com as mãos na barriga e olhando para o céu estrelado

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Eu estava deitado naquela rede desconfortável, com as mãos na barriga e olhando para o céu estrelado. Não sabia que horas era porque, obviamente, não tínhamos acesso a eletrônicos nesse lugar mas, eu tinha a certeza de que era tarde.

É estranho não saber nada sobre si mesmo. Eu não sei se tenho família, uma namorada, amigos talvez, até um cachorro, eu provavelmente tenho um cachorro, amo eles. Não sei meus gostos, se gosto mais de comida doce ou salgada, qual minha cor favorita, filme ou série favoritos , não sei nada sobre mim. E isso está me desgastando.

Eu só queria respostas para as minhas perguntas, respostas que eu não tenho. E o pior, tenho a impressão de que eu não devia estar aqui, tenho a impressão de que eu devia estar em outro lugar fazendo algo muito importante e eu não sei o que é.

A rede balança suavemente e meus olhos estavam fixos no céu estrelado. As constelações brilhavam no céu mas eu as via de um jeito diferente, elas estavam tão distantes e desconexas e isso me lembrava minha própria mente.

Tudo parecia um grande vazio. Minha cabeça parecia uma caixa sem nada dentro, sem memórias e sentimentos.

Eu tentava puxar algum fragmento de lembranças, algo que desse sentindo a essa sensação ruim de impotência.

Fechei os olhos por um segundo numa tentativa falha de dormir e então, de repente, flashes invadiram minha cabeça.

Imagens desfocadas e murmúrios distantes iam e vinham e isso me trazia uma sensação de medo e desconforto. Eu via máquinas, pessoas de jalecos pairavam ao meu redor e ao de uma garota, uma garota de cabelos pretos que também estava de jaleco. Todos ao nosso redor diziam coisas para ela, coisas que eu tentava e não conseguia entender e ela apenas assentia com um sorriso falso no rosto, como se não quisesse fazer o que lhe foi dito.

A garota me era familiar. Tinha olhos castanhos, profundos e expressivos, sobrancelhas bem definidas, traços delicados, lábios cheios e um sorriso lindo, mesmo sendo falso.

Por um segundo tive a certeza de ser Olivia.

— Thomas? — Uma voz suave — Thomas, você está bem? — Senti alguém sacudir meu corpo

Então eu acordei e lá estava a garota do meu sonho. Exatamente igual, com o mesmos traços e sorriso e, principalmente, os mesmos olhos expressivos.

Lá estava Olivia.

— Está bem? — A garota sussurrou — Está suando frio e estava soltando um murmúrios estranhos.

— Eu estou bem. — Limpei minhas testa que estava suada com as costas da mão. — Podemos conversar, Liv? — A chamei pelo apelido que veio na minha cabeça, do nada, sem motivo.

Consegui ver seus movimentos travarem, o olhar de preocupação dar espaço para um olhar de supresa e um sorriso pequeno e tímido crescer lentamente em seus lábios. Era quase imperceptível mas sua expressão suavizou, como se eu tivesse, de alguma forma, tirado todo o peso que estava em seus ombros.

— C-Claro...  — respondeu, a voz arrastada e gaguejando um pouco, como se tivesse tentando segurar toda a felicidade que ameaça transbordar.

Afastei minhas pernas da rede, abrindo espaço para que ela se sentasse ao meu lado e assim a garota fez.

Nossos joelhos se encostaram e eu me senti tão à vontade com o pequeno toque que tive a impressão de que fazíamos isso sempre.

— Você me conhece? — Foi a única coisa que eu disse depois de longos minutos em silêncio.

A garota suspirou passando as mãos pelo rosto, o peso em seus ombros voltou e parece que ainda mais forte.

— Sim. — Ela disse baixinho — Você se chama Thomas, tem 21 anos, eu era sua melhor amiga e sua colega de trabalho também. Antes de vir para cá você trabalhava para a CRUEL e ajudava no desenvolvimento de testes e no mapeamento do Labirinto. — A morena disse tudo de uma vez.

A revelação me atingiu como um tiro. As palavras que Olivia disse se repetiam na minha cabeça como um disco arranhado e eu tentava respirar fundo, mas o ar parecia não querer preencher meus pulmões.

Eu encarava o chão com minhas mãos tremendo levemente e eu balançava a rede suavemente mas, nada naquele momento parecia verdadeiramente suave. Meu coração estava acelerado e eu esfregava minhas mãos uma na outra como se tentasse apagar algo que me enojava. Olhei para Olivia buscando nela uma explicação, um alívio, qualquer coisa que tirasse aquele desconforto de mim.

— O que diabos é CRUEL? – Foi minha vez de falar.

— É uma organização científica criada para combater a crise global pelo vírus Folgor, que provoca loucura e morte. Para encontrar a cura, a CRUEL realiza experimentos em jovens que tem resistência ao vírus, utilizando métodos brutais. — A garota fechou os olhos — Não pode contar para ninguém, Thomas. Ninguém pode saber sobre a CRUEL, sobre o laboratório, sobre os testes. Ninguém pode saber.

Senti a raiva crescer dentro de mim.

— Liv, isso é ridículo! — Exclamei — Porque? Porque eles fazem tudo isso?

Vi o olhar triste de Olivia e senti um embrulho no estômago. Acabei de descobrir que não gosto de ver-lá triste.

— Eles acreditam que os fins justificam os meios. Acham que se entenderem como o vírus reage, poderão encontrar uma cura. Mas... — Ela hesitou, mordendo o lábio. — Mas eles não se importam com os custos.

A ideia de ter uma vida controlada, de ser um experimento, de ser um teste me deixa atordoado.

— A gente precisa fazer algo. — Suspirei — Não somos testes, Liv. Somos seres humanos e ninguém merece viver nessas condições. — Me refiro a Clareira.

— Não é tão simples. Ninguém pode saber sobre a CRUEL e o laboratório. Se as pessoas soubessem, o que acha que aconteceria? Eles não iriam parar e iríamos ser alvos ainda maiores.

— Quer viver aqui pra sempre Liv? — Perguntei — Eles não vão parar, você já disse. Não vou ficar parado vendo eles usarem a gente.

A garota ficou em silêncio.

Um, dois, três minutos se passaram.

— Certo. Eu te ajudo. — Eu sorrio. Sorri para Olivia pela primeira vez, pelo menos a primeira vez que eu me lembro— Mas não conte nada por enquanto.

— Certo.

— Certo. — A morena repetiu.

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⏰ Última atualização: Nov 07 ⏰

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