Capítulo 1

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Dulce Maria Saviñon

– Você só pode estar brincando comigo! – protestei quando Tana, minha locatária, passou por mim e saiu para o corredor.

– Não estou brincando, Dulce – ela respondeu – você tem que sair até o final da semana. Já aguentei muito de você e não estou disposta a deixá-la continuar... continuar tratando este lugar como uma instituição de caridade!

Ela jogou os braços para o alto e eu mordisquei o lábio, desejando ter algo inteligente para responder a ela, mas minha mente estava completamente vazia. Eu sabia que não havia nada em que eu pudesse me apoiar, nada que eu pudesse argumentar. Fazia quase três meses que eu não conseguia pagar o aluguel em dia e eu não podia culpar Tana por querer se livrar de mim.

Ela cruzou os braços sobre o peito e ergueu as sobrancelhas para mim.

– Estou lhe fazendo um favor ao não chutar seu traseiro para o meio-fio agora mesmo – ela me disse – a maioria das outras pessoas em minha posição já teria feito isso. Você tem alguns dias para organizar suas coisas e, depois, vai embora. Está bem?

Eu me equilibrei em meus calcanhares, totalmente perdida quanto ao que fazer em seguida. Eu queria ter coragem de brigar com ela, mas já estava atrasada para o meu turno e, se eu quisesse encontrar um novo lugar para morar, teria de conseguir todo o dinheiro que pudesse.

– Tana, por favor – implorei – só mais um mês...

– Foi o que você disse nos últimos três meses – ela me lembrou, balançando a cabeça e suspirando – preciso que esse apartamento vá para alguém que possa realmente pagar o aluguel, Dulce. E não posso permitir que você me faça perder tempo assim. Fim da semana e você está fora. Entendeu?

Fechei os olhos. Que merda. Isso era ruim. Isso era muito, muito ruim. Mas ela claramente não ia me dar mais margem de manobra. Eu tinha realmente testado sua paciência até o ponto em que não havia mais volta, e não conseguia pensar em nada que pudesse fazê-la mudar de ideia.

–Tudo bem – murmurei.

Quem sabe uma das garotas do clube me daria um sofá para eu dormir nos próximos tempos? Eu não tinha ideia. Eu era muito próxima da maioria delas, mas talvez elas não me quisessem em seu espaço pessoal dessa forma.

Olhei para o meu telefone - eu precisava estar no clube em quinze minutos e, com esses saltos, levaria todo esse tempo para chegar lá.

– Preciso ir – disse à Tana, sentindo os olhos marejarem com as lágrimas que ameaçavam cair.

– Boa sorte, Dulce – Tana me disse e, por um segundo, ouvi uma ponta de arrependimento em sua voz. Como se ela desejasse que houvesse outra maneira de fazer isso, mas não soubesse como. Passei por ela até o elevador um pouco frágil que me levaria ao andar térreo, entrei e cliquei no botão para fechar a porta.

Droga. Minha cabeça estava girando e eu sabia que não ia ganhar muito dinheiro se minha mente estivesse em outro lugar agora. Mas como eu poderia pensar em outra coisa? Eu tinha acabado de ser expulsa do meu apartamento. Podia não ser muito mais do que um estúdio com um banheiro anexo, mas era um lugar para dormir, um lugar para tomar banho depois de uma longa noite na boate e um lugar onde eu podia relaxar - e agora, ele tinha desaparecido. Eu não tinha muitas coisas, portanto, mudá-las não seria muito difícil, mas sair dali e deixar tudo para trás? Sim, isso ia ser difícil.

As portas do elevador se abriram e eu saí. A maioria das garotas com quem eu trabalhava não se preocupava em calçar os saltos até chegar à boate, usando tênis confortáveis, mas, para mim, eu precisava entrar no clima o mais rápido possível. Eu queria sentir toda a minha fantasia de stripper, olhar no espelho e ver a mulher sexy e confiante que eu me tornava quando subia no palco - essa era a versão de mim que eu mais gostava.

SOB O MESMO DESEJOOnde histórias criam vida. Descubra agora