banho

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29 de setembro de 2023 -

Janja estava sentada no chão do seu quarto, cercada de nostalgia e dor. A caixa preta à sua frente parecia um cofre, guardando não apenas objetos, mas também fragmentos de uma história que, para ela, ainda era vibrante. Para Simone, no entanto, essa história havia se juntado em meio ao turbilhão das lembranças apagadas.

Com as mãos trêmulas, ela abriu a caixa, revelando um mundo que parecia pertencer a outra pessoa. Os bilhetinhos secretos que trocavam, cada um deles trazia uma mensagem carinhosa ou uma piada interna que fazia seu coração acelerar ao relembrar os risos compartilhados. Entre eles também tinha uma caixinha em especial com folhas eternizadas de alguns buquês recebidos. As fotos reveladas também estavam lá, capturando momentos de pura felicidade: suas noites de vinho, noites de banheira e momentos do dia a dia. Uma foto de Simone em seu gabinete na semana do acontecimento, estavam tão felizes que jamais imaginariam o que aconteceria naquele dia.

Os olhos de Janja se encheram de lágrimas enquanto ela observava a foto delas duas. O sorriso largo de Simone naquela tarde quente de verão, era difícil acreditar que a mulher que ocupava seus pensamentos e sonhos havia se tornado uma estranha. O vazio deixado era como um eco ensurdecedor no coração de Janja.

— Como você pode esquecer tudo isso? Justo disso… — ela murmurou para si mesma, a voz embargada pela emoção. 

A dor era quase palpável, e cada lembrança parecia um golpe afiado em seu peito. Janja sempre acreditou que memórias eram eternas, mas agora entendia que algumas poderiam ser levadas pelo vento da vida. Ela fechou os olhos por um momento, tentando encontrar forças para aceitar a nova realidade. A vida tinha sido tão generosa com elas e agora se tornara uma cruel ironia. Decidida a não deixar essas memórias se perderem completamente, Janja começou a organizar os objetos da caixa com carinho. Cada presente trocado tinha uma história; cada recordação merecia ser lembrada. 

O ano havia sido uma montanha-russa emocional. Enquanto Simone lutava para recuperar sua saúde e memória, Janja se tornara uma espectadora silenciosa, sempre presente, mas invisível. As sessões de fisioterapia, as consultas médicas e as longas conversas durante a terapia eram marcos de uma jornada que ela desejava compartilhar, mas que agora parecia tão distante.

Maria Fernanda, a filha de Simone, se tornou sua confidente. Em encontros furtivos ou em mensagens trocadas, Fernanda sempre trouxe notícias sobre a mãe. Era um alívio saber que, mesmo em meio ao caos da recuperação, Simone estava se reerguendo. A alegria de ver sua amada voltando ao trabalho como ministra era um pequeno consolo para Janja. Ela a observava de longe, admirando a força e a determinação com que Simone abraçava sua carreira novamente. Certa vez, enquanto se encontravam em um parque próximo à casa de Simone, Fernanda decidiu abrir seu coração. 

— Eu vi as mensagens no celular da minha mãe. — confessou, olhando para o chão com um pouco de vergonha. — Eu sabia do caso de vocês. Eu só… eu queria que você soubesse que eu torço por vocês.

Janja sentiu seu coração acelerar. Era um misto de alívio e dor saber que alguém na vida de Simone entendia o amor que existia entre elas. 

— Você não precisa esconder isso. — Janja respondeu suavemente. — Eu só quero que ela seja feliz.

Fernanda assentiu, seus olhos brilhando com emoção. 

— Eu vi como você fazia minha mãe feliz. Mesmo agora, quando ela não se lembra de você… eu tenho esperança de que ela possa voltar a lembrar. — A sinceridade da jovem tocou profundamente Janja.

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Infelizmente não era apenas Simone que lhe preocupava, em seu coração havia nuvens que pareciam não se dissipar. A vida como primeira-dama não era o conto de fadas que ela havia imaginado. Desde a posse, Luiz havia se distanciado. As conversas que antes fluíam naturalmente se tornaram raras, ela lembrava das risadas compartilhadas, das pequenas piadas que faziam um ao outro durante os momentos mais tensos. Mas agora, a distância era palpável. 

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