Mensagem da primeira dama

Merece ser feliz

O sol brilhava tímido naquela manhã, mas Janja despertou leve, com a sensação de que o dia seria apenas mais um na rotina meticulosa e planejada. Após os rituais matinais, se arrumou com a calma habitual e resolveu enfrentar seu primeiro problema: a troca do celular. Deixou o palácio da alvorada e seguiu pelas ruas tranquilas, apreciando o tempo fresco. Após resolver os detalhes na loja e já munida de seu novo aparelho, Janja dirigiu-se ao gabinete, onde mergulhou nas atividades que a aguardavam, como sempre fazia, com dedicação e atenção plena.

A manhã transcorreu sem maiores acontecimentos, e o início da tarde trouxe uma reunião na agenda: uma visita à ministra Anielle Franco, com quem tinha uma relação respeitosa e amigável. O clima descontraído permitia risadas pontuais entre conversas sérias sobre pautas importantes. Mas no momento em que se despediam, Simone Tebet cruzou o corredor e, com um sorriso acolhedor, convidou Janja para uma conversa rápida em sua sala. Surpresa pelo convite, Janja aceitou, carregando consigo uma sensação leve de curiosidade.

Ao cruzar a porta, notou Simone trancando-a num gesto discreto, mas incomum. Aquilo lhe causou uma estranheza quase imperceptível, e Janja manteve-se em silêncio, aguardando que Simone iniciasse a conversa. O que veio em seguida, porém, alteraria o curso daquele dia e da relação entre elas.

Quando Simone se voltou para Janja, seu rosto, que geralmente irradiava uma simpatia discreta, trazia agora uma expressão austera, quase impiedosa. Os lábios finos comprimidos, os olhos cravados em Janja como se pudessem enxergar além do que estava visível. A luz fria da sala parecia acentuar as linhas de seu semblante sério, tornando o momento ainda mais sombrio. Sem rodeios, ela disse: 

— Eu recebi algo, Janja. Algo que talvez você queira ver.

Janja piscou, ainda sorrindo de maneira descontraída, sem entender o que Simone queria dizer. Mas antes que tivesse tempo de formular uma resposta, Simone estendeu o braço e virou o celular na sua direção. Na tela, uma mensagem ainda aberta exibia um vídeo. Bastou um segundo para que Janja reconhecesse as imagens, uma gravação íntima dela mesma, algo que ela não fazia a mínima ideia de como havia sido gravado. Seu coração deu um salto e uma onda de calor subiu, ruborizando-lhe o rosto. Sentiu as pernas fraquejarem, como se o chão estivesse prestes a ceder sob seus pés. A mão involuntariamente se levantou até a boca, num gesto de choque e horror.

— Simone… Eu… Isso foi… Eu não sei como aconteceu. — Balbuciou, sentindo a garganta seca e a voz fraquejar. A ideia de que aquele vídeo, algo tão privado, agora estivesse ali, exibido na frente de Simone, era esmagadora. — Eu jamais enviaria isso de propósito, jamais faria algo assim…

Simone manteve-se imperturbável, seus olhos fixos em Janja. O rosto de Janja começava a tremer, ela esperava algum gesto de compreensão, uma reação que lhe trouxesse um pouco de alívio, mas tudo o que encontrou foi uma frieza que lhe era desconhecida. Simone, com uma calma gélida, respondeu:

— Entendo, Janja. Mas a questão não é só o acidente, é a confiança que isso afeta. Se essas imagens podem parar na minha mão, poderiam parar em qualquer outra, concorda?

— Por favor, Simone, eu… Eu não sei o que dizer, isso foi uma falha. Nem sei como isso aconteceu, meu celular caiu na banheira e talvez possa ter enviado isso, mas eu jamais faria isso com você.

Simone levantou uma das sobrancelhas, mas sua expressão permaneceu imutável. 

— Caiu na banheira, Janja? E se fosse com outra pessoa? Uma distração não torna o assunto menos grave.

Janja tentava organizar as palavras, mas a mente estava caótica, como uma tempestade prestes a desabar. A frieza de Simone era como um peso opressor, uma barreira intransponível que ela não conseguia ultrapassar. Nunca viu a ministra daquela forma.