Capítulo 4 - Companheiros de sobrevivência.

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O homem que não soube sobreviver aos maus tempos, não vai ver os bons.”

- Textos Judaicos

Ethan e Liam entram em um prédio abandonado para se abrigar durante a noite, eles entram em silêncio e barram as entradas.

Liam: - Ufa… Finalmente nenhuma ameaça por perto.

Ethan: - Tem razão, a gente bem que tava precisando de um tempo pra descansar…

Liam coloca fogo em alguns pedaços de madeira, para aquecer a fria noite. Os dois se sentam em volta do fogo e decidem conversar.

Ethan: - Ei, Liam.

Liam: - Fala.

Ethan: - A gente podia aproveitar o tempo pra conversar mais um sobre o outro, já que somos colegas a partir de agora e estamos indo pro mesmo lugar.

Liam: - Mandou o papo, cara. Então, tu tinha dito que sua irmã mora na cidade vizinha, né?

Ethan: - Isso mesmo.

Liam: - Então por que quando seus pais… você sabe…

Ethan: - Por que quando eles morreram eu não fui morar com ela?

Liam: - Isso.

Ethan: - Eu estava com medo, medo de sair de onde eu cresci, medo de conhecer pessoas que eu nunca vi, medo de esquecer dos meus pais depois de sair da casa que eles lutaram tanto pra conquistar, medo de recomeçar… Talvez tenha sido uma escolha ruim.

Liam: - Cara… deve ter sido difícil. Outra coisa, não é querendo ser escroto, mas o que rolou com os teus pais?

Ethan: - De boa, cara. O que aconteceu com eles é um mistério pra mim até hoje… Eu lembro de estar em casa com eles, eram mais ou menos 11 da noite e eu tinha ido pra cama, tudo tava normal… Até eu ouvir um som estranho vindo do quarto vazio da minha irmã, ela tinha saído e ia passar a noite na casa de uma amiga, eu me levantei e fui olhar o que tava fazendo aquele barulho estranho que parecia como se algo queimasse, mas não tinha nenhum cheiro de queimado ou fumaça pelo ar…

Liam: - Que coisa bizarra… e depois?

Ethan: - Quando eu abri a porta e olhei, minha mãe tava lá, parada do lado do meu pai e quando eles viraram e olharam pra mim… E-Eles não… não tinham olhos…

Liam engoliu em seco enquanto olhava Ethan contar sua história, Ethan suava frio ao relembrar de seu passado.

Ethan: - Eu corri pra fora de casa e fui até o vizinho que chamou a polícia logo depois de eu pedir ajuda, quando eles foram até o quarto pra conferir… Os corpos dos dois estavam mutilados em partes, mas nem a polícia, investigadores ou peritos, nenhum conseguiu dizer
o que cortou eles em pedaços. Depois disso, arquivaram o caso como mortes por causas desconhecidas, suspeitaram de ser um Serial Killer mas nunca tinha acontecido algo parecido com aquilo antes…

Liam: - Merda, cara… Foi mal por ter perguntado…

Ethan fica em silêncio, Liam resolve quebrar o clima ruim contando sua própria história.

Liam: - Então… Eu sou filho de um caçador, vivíamos no meio da floresta e meu pai era um caçador esportivo que amava a caça… Mas ele nunca foi uma pessoa ruim mesmo gostando de coisas como armas, caça e abate, meu pai era bondoso e feliz…

Ethan: - Como assim ele “era”?

Liam: - Ele não morreu, caso você tenha pensado isso. Como eu tava dizendo, em mais um dia na floresta que a gente morava, meu pai saiu pra caçar e eu acompanhei ele já que também sempre gostei de armas e caça, muito provavelmente por causa dele… Enfim,
ficamos o dia inteiro caçando um cervo. Meu pai me disse que a gente tinha ido tão longe de casa que provavelmente teria ursos por perto, ele me entregou uma arma por precaução e a gente se separou por alguns metros pra procurar o rastro, poucos minutos depois que já
tava tudo escuro, eu ouvi um disparo e sabia que tinha vindo do rifle dele… Eu corri pra ver a situação e aí…

Liam respira fundo.

Ethan: - O que tinha acontecido?...

Liam: - Meu pai não sabia que aquela parte da floresta não era a que ele dizia ser a com risco de ursos, mas era a parte que tinha a maior concentração de acampamentos e barracas, ele se confundiu e entrou em uma parte tão densa da floresta que não dava pra
s

e localizar tão bem… Era um erro de principiante mas nem eu notei esse erro, a gente se distraiu pelo caminho tantas vezes e quando percebemos já era noite…

O silêncio e o barulho do fogo queimando relevam a dúvida de Ethan sobre o que tinha acontecido.

Liam: - O que aconteceu foi que… Quando eu cheguei, meu pai tinha atirado em um garoto.

Ethan fica surpreso e triste com a história, mas mantém o silêncio.

Liam: - Quando percebeu o que tinha acontecido, meu pai entrou em pânico e tentou salvar a vida do menino que tinha mais ou menos a mesma idade que eu. “Desculpa, desculpa, desculpa, desculpa.”, isso era tudo o que ele dizia enquanto fazia pressão no ferimento da bala. Suas mãos se mancharam de sangue e seus olhos se encheram de
lágrimas… Depois de tudo isso, ele nunca mais foi a mesma pessoa, eu não o vi sorrir ou caçar de novo, nem se quer tocar em uma arma… A gente se mudou pra cidade perto dessa e ele tentou de tudo pra esquecer aquilo, mas nada funcionava, eu resolvi vir pra
essa cidade e deixar ele relaxar em uma vida tranquila com a minha mãe, prometi mandar o dinheiro que eles precisam, e é praticamente isso.

Ethan: - Não sei nem o que falar…

Liam: - Relaxa, cara. Esse mundo é uma merda.

Ethan: - Tem razão.

Liam: - Acho melhor você dormir, eu vou ficar no turno pelas próximas duas horas e te acordo pra trocar quando acabar o tempo, demorou?

Ethan: - Acho que é uma boa, ainda não tô legal o bastante por causa daqueles ataques de sangue.

Liam: - Dorme bem, irmão.

Ethan: - Valeu, cara.

Ethan se deita em um canto por lá e dorme, enquanto Liam fica de guarda por um tempo… A noite é silenciosa e não parece ter nenhuma ameaça próxima ao prédio em que os dois estão. Ethan sonha com seus pais, algo mais como um pesadelo, Liam percebe ele se contorcer de desconforto e o acorda, para que eles troquem de turno e assim a noite segue até que quando os dois menos percebem, já amanheceu.

A jornada continua…

Blood n' GodOnde histórias criam vida. Descubra agora