TPB - relato

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A seis anos descobri o que era a escuridão que vez ou outra insistia em me dominar, o que era aquela dor que eu não sabia explicar que se juntava com uma vontade imensa de sumir. Toda aquela culpa, choro, raiva, vazio, autodepreciação, a vontade de me infligir dor, tinha um nome.
A seis anos fui diagnosticada com TPB, transtorno de personalidade borderline. Fui diagnosticada após uma séria tentativa de partir. A aceitação foi difícil, como em qualquer diagnóstico. Mas era nítido que isso já fazia parte da minha vida há um bom tempo.
A seis anos sei o que é a escuridão dentro de mim. Ela vem e vai, como um balanço. Quando vai é como viver normalmente, dias bons e dias ruins. É como ter duas ensolarados, dias nublados e dias chuvosos. Uma rotina normal, com muita terapia envolvida.
Mas quando ela vem é avassalador. É como um temporal com catástrofes, do tipo enchentes ou deslizamento de terras. Tudo fica escuro, o olhar fica vazio, mudo de humor como o relógio muda de minuto, a impulsividade pulsa pelo meu corpo e a irritabilidade também, a dor é torrencial mas oculta, a ansiedade aperta o peito de forma esmagadora. Inflijo me dor para sentir alguma coisa porque o vazio também é dominante e para aplacar a culpa também. Uso o sexo e a comida para afastar a dor e o vazio, mas é apenas temporário. O corpo grita tanto quanto a mente, as consequências físicas não se deixam passar.
Causo danos e inflijo dor aos outros sem intenção. As pessoas ao redor também sofrem.
Tudo é penoso.
Tudo é doloroso.
Desgaste como me falaram.
Me disseram que sou insuportável em uma crise de TPB.
Nem imaginam o quão insuportável é para mim. Viver fadada a esse ciclo cruel, que me suga para a escuridão, que me mata aos poucos, que me dói o peito que chego não conseguir respirar, que faz eu me sentir culpada e faz eu me auto penalizar de diversas formas.
Viver fadada a um ciclo que eu não escolhi, não pedi, nunca quis.
As pessoas podem ir e vir da minha vida. Aceitar ou não viver comigo desse jeito, nesse ciclo cruel. Mas eu não tenho escolha.
A seis anos tentando aprender a lidar com algo que não escolhi ter mas que apenas tenho. Seis anos de recaídas e recomeços. De remédios e terapia. De me perder e me achar de novo. De desistir e voltar atrás e tentar de novo.
Ninguém diz a uma pessoa com câncer ou cardiopata que ele é insuportável, que desgasta as pessoas ao seu redor ou que está preocupado as pessoas ao seu redor, por causa de seus sintomas ou ações. Ninguém culpa eles.
Mas uma pessoa com um transtorno mental ou qualquer tipo de problema de saúde mental é culpabiliza pelos seus sinais, sintomas e suas ações. Tudo é motivo de apontar o dedo.
Uma dor não vista é uma dor desvalorizada, ridicularizada, desprezada aos olhos dos outros.
Só que uma dor não vista e desvalorizada pode ser também uma vida perdida!

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Nota da autora: É proposital a falta de imagem neste texto!

Todas as palavras não ditasOnde histórias criam vida. Descubra agora