A visão de Lilian 🍂

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O amor nasce de pequenas coisas, vive delas e por elas às vezes morre.
- Lord Byron

Lilian Ashford

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Lilian Ashford

Confesso que jamais encontrei encanto nas frivolidades que compõem o cotidiano de uma dama. As festas esplendorosas, as intermináveis reuniões para o chá, as conversas sempre iguais, as risadas contidas como se nossa única alegria residisse em dançar em torno das vaidades alheias. Devo admitir que, na maioria das vezes, me contenho para não rir diante de tanta insipidez. Ao que parece, uma dama como eu, filha de um conde, deveria nutrir apreço por tudo isso, mas o simples pensamento de passar o resto dos meus dias reduzida a essa existência enche-me de desespero.

Minha mãe, naturalmente, discorda. Diz ela que a reputação de uma jovem é seu bem mais precioso, um cristal a ser cuidadosamente polido, mas jamais exibido de modo imprudente. Contudo, questiono-me: que valor há em ser uma peça bem moldada e envernizada, se isso significa estar eternamente guardada nas sombras? Oh, como já a ouvi recitar essas palavras: Lilian, contenha-se, Lilian, não corra, Lilian, não fale tão alto! Como se eu fosse algum tipo de autômato, cuja função é apenas embelezar o cenário sem jamais deixar transparecer qualquer indício de verdadeira emoção ou pensamento.

Entretanto, a vida que minha mãe deseja para mim jamais poderá ser a minha. Desde menina, sempre fui atraída pela liberdade, por aquilo que me desperta a curiosidade e desafia o intelecto. Lembro-me, certa vez, ao desobedecer minha governanta e roubar um livro da biblioteca de meu pai. Era um tratado de filosofia, e embora eu tenha compreendido apenas uma fração do que ali estava escrito, algo em mim despertou. A ideia de que existiam, naquele mundo, homens e mulheres que se recusavam a aceitar as respostas prontas — isso inflamou em mim uma chama que jamais se extinguiu.

Fosse eu um rapaz, talvez encontrasse compreensão e, quem sabe, incentivo para tais devaneios. Mas não, como filha do conde de Westbury, espera-se que minha única ocupação seja tornar-me uma boa esposa. E, assim, tal como uma égua deve ser posta à venda para o melhor comprador, vejo-me à beira de um casamento arranjado, um destino que me repugna mais do que posso expressar sem ser considerada imprópria. Já ouvi meu pai mencionar que serei prometida a algum lorde distinto, um homem cuja reputação pode elevar ainda mais o nome de nossa família. Mas que me importa o nome dele, ou a nobreza de seu título, se sou destinada a viver sob uma gaiola dourada, incapaz de expressar-me ou ser quem sou verdadeiramente?

Na semana passada, em um baile insípido na mansão dos Wellesley, fui apresentada a vários cavalheiros que, ao que parece, reuniam todas as qualidades necessárias para um marido adequado. E que desespero se apoderou de mim ao olhar para cada um deles! Homens de postura ereta e olhares vazios, cujos interesses parecem limitar-se ao manejo de terras e ao acúmulo de propriedades. Ah, mas é claro, eu deveria estar encantada, não? Sentir-me grata por tamanha oportunidade de unir-me a um desses senhores, como dizem, “distintos”. Distintos na forma, mas vazios na essência, eu diria.

Eis que surge, porém, a questão que mais atormenta minha alma: serei eu a única a sentir-me assim? Haverá mais damas que, como eu, ansiam por algo além do que as juras de amor encenadas, as poses esvaziadas de verdade? Talvez eu seja tola, mas creio que a vida é mais do que o papel que querem que eu desempenhe. Sinto um chamado a descobrir o mundo de verdade, e não por meio de histórias contadas ou descrições incompletas, mas com meus próprios olhos, com a coragem de quem não teme o próprio destino.

Às vezes, penso que deveria sair de Londres, romper com tudo isso e trilhar um caminho novo, desconhecido e, talvez, perigoso. Há noites em que me vejo correndo por campos desconhecidos, onde ninguém sabe meu nome e não sou filha de ninguém. Em meus sonhos, posso ser qualquer coisa, sem as amarras da sociedade, sem os olhares vigilantes que me seguem a cada passo. Nesses sonhos, sou apenas Lilian, e isso me basta.

Mas então desperto, e o peso da realidade volta a me envolver como um manto sufocante. Sou lembrada, com rigor e zelo, de que não sou livre, de que meu destino é traçado por linhas invisíveis, que eu deveria apenas obedecer. E, assim, torno a esconder esses pensamentos, como se fossem preciosidades proibidas, guardadas longe dos olhos de quem jamais entenderia.

Apesar disso, não sei até quando conseguirei manter-me sob essas rédeas. A ideia de que estou destinada a um casamento vazio, a uma vida onde o único brilho será o das jóias que usarei, é insuportável. E eu, que nunca temi sonhar, agora me encontro temerosa de que meus próprios anseios acabem por devorar-me de dentro para fora.

Se um dia, contudo, eu tiver a chance de ser mais do que isso — se, em algum momento, encontrar uma faísca de algo verdadeiro, alguém que entenda essa vontade de ser e de sentir — não hesitarei. Pois sei que essa minha alma indomável jamais será capaz de ceder ao conformismo; minha vida é mais do que meras etiquetas e tradições. E, até onde depender de mim, lutarei com todas as forças para manter acesa essa chama, por mais que isso me custe.

O Lorde e a Dama Indomável Onde histórias criam vida. Descubra agora