XI. Espinhos e Rosas

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Início do Verão


O dia amanhece escuro, com um céu esverdeado que nunca vi, as nuvens não aparecem e os postes ainda brilham iluminando a rua fria.


Minha casa, diferente da casa de Lana, é um térreo longo, onde me encontro em uma de suas quatro paredes base, no final do corredor, onde fica meu quarto a esquerda, feito uma alma penada.


- Cruzes! - Diz meu pai ao sair do quarto logo a frente, e me ver se aproximar lentamente ao longo do corredor - Já vi que você teve uma noite longa...


- Eu acho que vou enlouquecer! - Digo.


E então uma outra voz surge, dessa vez vinda da outra parede do corredor, mais próxima a mim:


- Não me surpreenderia com base no pai que temos! - Cauã sai de seu quarto com o celular na mão, não olha nem para mim, nem para nosso pai e vai direto à cozinha - Bom dia, mãe! - Ouço de lá.


Meu pai da de ombros, se vira e vai ao aparador da sala mexer em alguma papelada matinal. Ando mais alguns passos, entro no banheiro, me olho no espelho. Parece que eu fui mastigado e depois cuspido durante a noite.


Escovo os dentes, lavo o rosto, me arrumo e vou à cozinha:


- Eles estão ficando malucos! Onde já se viu fazer uma maquete de três metros quadrados em uma semana?! - Ouço a conversa pela metade, mas tenho certeza que é só Cauã surtando sobre seu grupo da faculdade.


- Não sei até hoje porque você escolheu arquitetura. - Diz minha mãe passando manteiga em uma torrada que derrete amarela.


- Provavelmente porque ele era viciado em Minecraft. - Respondo por ele debochando.


- Ha! Ha! Ha! - ele finge uma risada - E você? Vai trabalhar com poções e vendê-las para viajantes de terras distantes e Orcs lutadores? - Zomba Cauã fazendo gesto com as mãos e mudando a voz.


- Ah! Cala a boca! - Rodo os olhos - Foi você quem me levou para esse mundo! - Ele dá de ombros com um risinho maléfico.



Quando eu tinha 12 anos Cauã me apresentou o D&D. O via jogar com os amigos quase todos os finais de semana, ficava fascinado por aquele mundo cheio de magia e batalhas. Até que um sábado eles me deixaram entrar na mesa e desse dia em diante nunca parei, pelo menos não por escolha.



Continuámos comendo em paz e conversando sobre trabalho, escola e qualquer coisa que venha à tona na mesa.


⊹⊱•••《 ✮ 》•••⊰⊹


Antes de sair faço um carinho em Mia, que se joga em meus pés e ronrona baixinho, mas alto o suficiente para eu ouvir. Uma forma injusta de apelo para que eu fique. A pego no colo e a coloco na banqueta da cozinha, digo, na banqueta dela. Ela se senta e começa se lamber tranquilamente.


Saio de casa, mas não ouço a porta fechar, Cauã a para e sai junto a mim.


- Vai, desembucha! - diz ele numa corridinha até mim, que não paro de andar quando o vejo.


- O que?


- Por que você está com essa cara de bunda? - ele faz uma pausa reflexiva - Estão mexendo com você de novo? Thomas se for isso eu juro que...


- Não é nada! - exclamo o interrompendo, antes que ele comece a citar coisas que provavelmente o colocariam na prisão se eu o deixasse fazer.


Nós andamos em silêncio por alguns segundos, até que eu o quebro:

Desde a PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora