A primeira luz do amanhecer começou a despontar por entre as montanhas escocesas, lançando uma luz fria sobre a imponente mansão de Nicholas Bulgarelli. As sombras se dissipavam lentamente, mas o clima sombrio que pairava sobre a casa permanecia. Nicholas acordou cedo, como sempre. Seus hábitos eram meticulosamente calculados – acordar, revisar os relatórios das empresas, tomar um café forte e enfrentar o mundo com sua implacável determinação. Mas, naquela manhã, algo estava diferente.
Ele desceu para o salão principal, onde havia deixado a jovem misteriosa na noite anterior. No entanto, ao chegar, encontrou o sofá vazio. Imediatamente, Nicholas sentiu um aperto no peito. Como ela estava emocionalmente abalada e sem memória, ele temia que tivesse fugido ou se perdido nos arredores da mansão. Decidido a encontrá-la, ele percorreu os corredores silenciosos até ouvir um leve murmúrio vindo da biblioteca.
Ao abrir a porta, encontrou a mulher sentada no chão, envolta em um cobertor, olhando os livros com um olhar intrigado. Ela parecia pequena e vulnerável ali, cercada pelos tomos pesados e antigos das estantes de Nicholas , como se estivesse tentando buscar nas páginas uma pista sobre quem era.
Ele entrou silenciosamente, mas ela percebeu sua presença e o fitou, ainda com aquele olhar misto de confusão e medo.
– Bom dia – ele disse, com sua voz firme mas calma. – Você encontrou o caminho até aqui sozinha?
Ela assentiu, embora parecesse incerta sobre suas ações. Havia uma profundidade assustada em seus olhos, mas também uma determinação, uma vontade de descobrir o que lhe escapava.
– Eu... não sei por que estou aqui – murmurou, baixando o olhar. – Só... senti que precisava ver estes livros. Talvez... talvez eu tenha sido alguém que gostava de ler?
Nicholas a observou por um momento antes de responder. Era evidente que ela estava tentando desesperadamente agarrar qualquer fragmento que pudesse indicar sua identidade. A cada segundo, ele se via mais envolvido com aquela mulher desconhecida, como se algo nela desafiasse sua própria racionalidade e disciplina.
– Talvez sim – respondeu com um leve sorriso. – Mas por enquanto, acho que você precisa de algo mais do que livros. Que tal um café da manhã decente?
Ela hesitou antes de aceitar, e ele a guiou até a sala de jantar. Carl já havia preparado uma mesa farta, com ovos, pães frescos, queijos e frutas. Ela olhou para a refeição com uma mistura de fome e incredulidade, como se a visão daquilo lhe causasse tanto alívio quanto desconforto.
Enquanto ela se servia timidamente, Nicholas decidiu tentar mais uma vez:
– Vou precisar de um nome para te chamar. Alguma sugestão? Alguma lembrança?
Ela parou, pensativa, mas logo balançou a cabeça em negativo, parecendo frustrada com a própria mente em branco. Nicholas refletiu por um instante, observando o reflexo do sol em seu cabelo e o brilho melancólico em seus olhos.
– Que tal... Lira? – sugeriu ele. Era um nome celta, simples, mas carregado de história. Ela sorriu levemente e assentiu.
– Lira... gosto disso.
Eles tomaram o café da manhã em um silêncio carregado de perguntas não ditas. Lira, ou melhor, a mulher que agora tinha um nome provisório, parecia mais à vontade. Embora ainda estivesse claramente perdida, havia uma centelha de esperança em seus olhos.
Quando terminaram, Nicholas a acompanhou até a sala de estar, onde tentaria compreender mais sobre seu passado. Ele a observou cuidadosamente, analisando cada detalhe, na tentativa de extrair alguma informação útil. Decidido, perguntou:
– Lira, você disse ontem à noite que alguém estava te perseguindo. Consegue se lembrar de algum detalhe?
Ela franziu o cenho, seu rosto se contorcendo em concentração. Ela tentou resgatar a memória, mas tudo o que surgia eram fragmentos desconexos. Após alguns segundos de silêncio, ela balançou a cabeça.
– Não tenho certeza... mas sinto que estou sendo vigiada. Como se alguém estivesse... sempre à espreita, esperando eu baixar a guarda.
A resposta não trouxe mais do que incertezas, mas Nicholas percebeu que o medo dela era genuíno. Quem quer que estivesse atrás dela, ela realmente acreditava que ele era perigoso.
Decidido a proteger Lira e descobrir o que havia por trás daquele mistério, Nicholas foi até seu escritório, pegou o telefone e fez uma ligação discreta para seu amigo e investigador particular, Dylan Foster. era um homem competente e de confiança, alguém com habilidades para rastrear informações sem chamar atenção.
– Preciso que investigue uma jovem – disse Nicholas em tom firme, descrevendo Lira e o local onde a encontrou. Pediu também que verificasse se havia algum registro recente de desaparecimentos ou casos de perseguição envolvendo mulheres naquela região. Dylan aceitou a missão sem hesitação, ciente da urgência do pedido.
Enquanto isso, Dylan vagava pelos corredores da mansão, absorvendo o ambiente antigo e elegante, como se cada canto guardasse uma história. Ela parou diante de uma janela que dava para o jardim e sentiu um aperto no peito, uma sensação de familiaridade estranha. Era como se ela já tivesse estado ali antes, mesmo sabendo que isso era impossível.
Por um instante, imagens desconexas passaram por sua mente: um rosto desfocado, uma mão estendida, e depois... gritos. Ela fechou os olhos, apertando as têmporas, tentando se agarrar à lembrança, mas logo tudo escapou. Ao abrir os olhos novamente, se deparou com Nicholas , que a observava com preocupação.
– Está tudo bem? – ele perguntou, aproximando-se lentamente.
Ela assentiu, tentando não parecer assustada, mas Lira percebeu que algo estava errado. Havia uma tensão palpável no ar, e ele se preparou para perguntar mais sobre o que ela lembrava, mas foram interrompidos por um som repentino vindo do lado de fora. Ambos se voltaram para a janela, e Lira sentiu o coração disparar.
Um carro preto, de vidros escurecidos, estava parado ao longe, perto do portão principal. Lira sentiu um calafrio correr pela espinha; algo naquele carro lhe parecia familiar, como uma ameaça silenciosa.
Nicholas percebeu sua expressão de pânico e rapidamente ligou para Carl, ordenando que os seguranças verificasse a situação. No segundos seguintes três seguranças se apressaram para ver o que estava acontecendo, mas quando lá chegaram ao portão, o carro já havia partido, deixando apenas um rastro de poeira.
Ao voltar para dentro, um deles comunicou que o veículo desaparecera, e Nicholas percebeu que a presença daquela jovem em sua vida traria perigos que ele ainda nem começava a compreender. Lira, agora mais assustada do que nunca, apertou o cobertor ao redor de si mesma.
Nicholas sentiu pela primeira vez em muito tempo, que havia algo fora de seu controle. Lira era um enigma, e a sombra que pairava sobre ela era real e implacável. Decidido a mantê-la a salvo e a desvendar o mistério que a cercava, ele sabia que estava apenas começando uma jornada intensa – e que essa mulher mudaria sua vida para sempre.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lembranças Ocultas
Mystery / ThrillerNicholas Blackwood, um magnata charmoso e implacável nos negócios, em meio ao frio intenso da Escócia encontra uma jovem desacordada numa estrada deserta. Intrigado e sentindo um impulso inexplicável de protegê-la, ele a leva para sua propriedade, o...