Lembranças Ocultas

Capítulo 4

O sol já se punha por trás das colinas escocesas quando Lira decidiu que precisava fazer algo para retribuir a gentileza e a proteção de Nicholas e seu filho, Oliver. Aquele homem e seu pequeno haviam acolhido uma completa estranha em sua casa e a trataram com um respeito e bondade que ela jamais esperaria. Sentia-se em dívida e, embora ainda estivesse perdida sobre seu passado, encontrou um resquício de segurança ali.

Decidiu que preparar um jantar seria uma forma simples, mas significativa, de agradecê-los. Sabia que cozinhar não mudaria o mistério de sua identidade, mas o gesto poderia expressar a gratidão que sentia.
Lira  foi até a cozinha da mansão, onde encontrou Carlos , o mordomo, organizando ingredientes frescos. Ele a cumprimentou com um sorriso cortês.

– Senhorita Lira, posso ajudá-la com algo?

– Na verdade, Carlos , eu gostaria de preparar o jantar hoje, se você não se importar – disse ela, com um sorriso caloroso.

Carlos a olhou surpreso, mas logo aceitou, compreendendo seu desejo de retribuir a hospitalidade de Nicholas . Ela então começou a selecionar os ingredientes, vagamente lembrando de uma receita que vinha à mente, embora não soubesse exatamente de onde a conhecia. Decidiu preparar um Filé mignon e risoto de parmesão .

Enquanto cozinhava, Oliver apareceu na cozinha, sentindo o aroma delicioso que se espalhava pelo ar. Observou Lira com olhos curiosos e encantados, interessado em ver o que ela estava fazendo.

– Tá cheirando muito bem,Lira! – exclamou Oliver , segurando seu ursinho de pelúcia e ficando na ponta dos pés para ver melhor o que ela preparava.

Lira sorriu, contente com a aprovação do menino.

– É uma surpresa para o jantar, Oliver– respondeu ela com doçura. – Espero que você goste.

Ele assentiu animado e, voltou a brincar no jardim. Lira continuou cozinhando, com a mente absorta no prazer de criar algo, algo que talvez revelasse um pouco sobre quem ela era ou havia sido. Para agradar Oliver resolveu fazer um pavê de bolacha de sobremesa.

Quando o jantar estava pronto, Lira arrumou a mesa com cuidado,  dobrando os guardanapos com um toque delicado. Nicholas apareceu, visivelmente surpreso ao ver a disposição da mesa e o aroma delicioso vindo dos pratos.

– Você não precisava fazer isso, Lira – disse ele, ainda surpreso, mas com um sorriso no rosto. – Carlos sempre se encarrega das refeições.

Ela deu de ombros, tímida, mas decidida.

– Eu queria agradecer pela sua generosidade, Nicholas . Você e Oliver foram muito gentis comigo.

Ele assentiu, reconhecendo a sinceridade do gesto. Chamou Oliver , que correu animado para a mesa, observando tudo com os olhinhos brilhando. A refeição foi servida, Depois de Nicholas cortar a carne em pedacinhos para Oliver o pequeno experimentou o prato com uma expressão encantada.

– Está muito gostoso, Lira! – elogiou Oliver , sorrindo de orelha a orelha.

Nicholas também provou, surpreso com o sabor caseiro e ao mesmo tempo sofisticado do prato. Sentiu que havia algo familiar naquilo, como se a comida carregasse fragmentos da própria alma de Lira.

– Realmente, você tem talento na cozinha – comentou , observando-a com uma expressão mais suave do que o usual. – Parece que é uma cozinheira experiente.

Ela sorriu, mas com uma leve tristeza no olhar.

– Talvez eu seja, mas... não tenho certeza – respondeu ela, com um leve suspiro. – Algumas lembranças são tão vagas, como se estivessem na ponta da minha mente, mas nunca consigo alcançá-las.

Nicholas a observou, sentindo uma profunda empatia por sua situação. Naquela refeição, ele percebeu que Lira era mais do que uma mulher em busca de respostas; ela era alguém que, mesmo no meio da confusão e do medo, ainda tinha a força para agradecer e demonstrar carinho. Sentiu um aperto no peito, uma mistura de admiração e desejo de protegê-la ainda mais.

— Oliver tenho uma sobremesa especial para você— Lira sorriu docemente.

— Sério, o que— questionou o pequeno.
— um pavê de bolacha— Respondeu Lira

Depois do jantar, enquanto Carlos ajudava a limpar a cozinha,Nicholas convidou Lira para um passeio rápido pelo jardim. As sombras da noite haviam tomado conta do céu, mas as estrelas brilhavam intensamente, iluminando a paisagem ao redor da mansão. Caminharam em silêncio, e ele percebeu que ela estava mais relaxada, mais à vontade.

– Lira, sei que você ainda está confusa, mas saiba que... – ele hesitou, escolhendo as palavras – saiba que Oliver e eu estamos felizes em tê-la aqui. Queremos que se sinta segura.

Ela o olhou, tocada pelas palavras dele, e sentiu que uma parte do peso em seus ombros havia sido aliviada. Aquele homem, tão reservado e protetor, havia se tornado um refúgio para ela.

E, naquela noite fria e iluminada, enquanto o som suave da brisa preenchia o ar, Lira sentiu pela primeira vez que, mesmo sem lembrar quem era, havia encontrado um lar provisório onde, pelo menos por um instante, poderia sentir-se em paz.