Lira acordou com uma sensação estranha. Sonhara com algo intenso e vívido, mas, ao abrir os olhos, tudo já parecia desvanecer-se na neblina de sua mente. Sentiu uma pontada de frustração; aquela vaga lembrança era como uma sombra, dançando fora de seu alcance.
Ao descer para o andar de baixo , encontrou Oliver brincando com seus blocos de montar, enquanto Nicholas lia o jornal. Ao vê-la, ambos sorriram, e ela se sentiu acolhida, quase como se fizesse parte daquela família. Contudo, a sensação incômoda ainda persistia, como se uma voz distante em sua mente tentasse lhe dizer algo.
– Dormiu bem? – perguntou Nicholas , erguendo o olhar do jornal.
– Sim, eu... acho que sim – respondeu ela, hesitante, sentindo a ponta da memória se esgueirar novamente, quase ao seu alcance, mas ainda nebulosa.
Depois do café da manhã,Nicholas precisou sair para resolver algumas questões nos arredores da propriedade. Antes de partir, pediu que Carlos ficasse atento a qualquer sinal de estranhos nas redondezas e instruíra Lira a manter-se próxima da casa. Ela, ainda que intrigada, concordou, entendendo a preocupação de Nicholas .
Enquanto caminhava pelo jardim, tentando clarear a mente, Lira avistou um dos seguranças pousando sua arma em uma mesa que ficava no jardim, depois de responder um chamado no rádio caminhou para algum lugar , Lira caminhou em direção a mesa algo que a fez parar. , avistou a arma. Ela se aproximou lentamente, atraída por algo inexplicável.
Quando pegou a arma nas mãos, uma sensação familiar percorreu seu corpo. Era como se seus dedos já soubessem exatamente como segurá-la, a postura natural, a leveza com que acomodava o peso entre as mãos. Seus olhos miraram um ponto no horizonte, e seu corpo parecia instintivamente preparado para agir, como se ela tivesse feito aquilo inúmeras vezes antes.
O susto a fez recuar, mas logo percebeu que, mesmo com a surpresa, havia algo reconfortante naquela sensação. Ela sabia exatamente o que estava fazendo, cada movimento era calculado e seguro. E foi naquele instante que um fragmento de memória emergiu, quase como uma onda prestes a quebrar na superfície.
– Eu... eu sei atirar – murmurou para si mesma, boquiaberta.
As palavras escaparam como uma confissão. "Eu sei atirar." Sentiu-se dividida entre o alívio de lembrar algo sobre si mesma e a inquietação de perceber que esse conhecimento não combinava com quem ela pensava ser. Quem ela era, afinal?
O som de passos a despertou de seus pensamentos. Carlos apareceu, seu olhar curioso ao ver Lira segurando a arma.
– Tudo bem, senhorita Lira? – ele perguntou, cauteloso.
Ela devolveu a arma rapidamente, tentando disfarçar o nervosismo.
– Sim, sim... eu... só estava olhando – respondeu ela, forçando um sorriso, embora sentisse o coração acelerar.
Carlos aceitou a explicação, mas algo em seu olhar indicava que ele percebera o desconforto dela. Depois que ele saiu, Lira permaneceu no jardim, tentando processar o que havia sentido. O conhecimento sobre armas parecia tão natural que a assustava, como se ela tivesse sido treinada em situações que exigissem mais do que apenas defesa pessoal.
Quando Nicholas retornou mais tarde, percebeu o olhar distante de Lira, como se ela estivesse em um mundo à parte. Decidiu não pressioná-la, mas sua preocupação era evidente.
– Está tudo bem? Você parece pensativa – comentou, puxando uma cadeira para sentar ao lado dela no jardim.
Ela respirou fundo, tentando organizar os pensamentos.
– Algo... algo estranho aconteceu hoje – começou ela, hesitando. – Eu encontrei uma arma... e, ao segurá-la, soube exatamente o que fazer. Como se... como se eu tivesse feito isso a vida toda.
Nicholas a olhou com uma expressão de seriedade e surpresa, tentando absorver o que ela acabava de dizer. A preocupação em seu rosto ficou mais evidente.
– Então, talvez você tenha tido algum tipo de treinamento – sugeriu ele, escolhendo cuidadosamente as palavras. – Isso pode explicar por que estão atrás de você. Talvez você saiba algo importante, algo que eles querem que permaneça escondido.
Ela assentiu, refletindo sobre as palavras dele. A ideia de ser alguém que pudesse manejar armas a deixava inquieta, como se estivesse descobrindo uma nova faceta de si mesma que ela não sabia se queria aceitar.
– Talvez – respondeu, com a voz baixa. – Mas por que eu teria esquecido? Quem faria isso comigo?
Nicholas colocou uma mão sobre a dela, num gesto de apoio.
– Seja lá quem for, não deixaremos que a machuquem. Vamos descobrir a verdade, Lira. E até lá, você está segura aqui.
O toque dele a acalmou, e ela assentiu, sentindo uma pequena centelha de esperança. Mas, ao mesmo tempo, uma nova pergunta surgia: o que mais ela poderia saber fazer? E, se aquilo era um fragmento do seu passado, o que ele dizia sobre quem ela realmente era?
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Lembranças Ocultas
Mystery / ThrillerNicholas Blackwood, um magnata charmoso e implacável nos negócios, em meio ao frio intenso da Escócia encontra uma jovem desacordada numa estrada deserta. Intrigado e sentindo um impulso inexplicável de protegê-la, ele a leva para sua propriedade, o...