Capítulo 7

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A manhã amanheceu calma e ensolarada, um contraste bem-vindo após a tensão dos dias anteriores. Lira sentia uma mistura de alívio e leveza ao acordar e ver que o pequeno Oliver estava animado, brincando pelo corredor com seu ursinho. Naquele instante, ela decidiu que passar um tempo com o menino poderia não só trazer um pouco de normalidade para ela, mas também fortalecer o vínculo com ele, que a fazia se sentir acolhida e mais conectada ao mundo ao seu redor.

Ao se aproximar de Oliver , ela se abaixou ao lado dele, observando-o brincar com uma concentração adorável.

– Bom dia, meu amor! O que acha de fazermos algo especial hoje? – perguntou ela, com um sorriso caloroso.

Oliver a olhou com os olhos brilhando de expectativa.

– Algo especial? Tipo o quê, Lira?

Ela pensou por um instante, lembrando de uma receita simples e divertida que as crianças adoravam. Apesar de não saber de onde vinha aquela memória, sabia que a ideia de cozinhar com Oliver traria alegria para ambos.

– Que tal fazermos biscoitos? Podemos criar formas engraçadas e, quem sabe, até decorar do nosso jeito – sugeriu.

Oliver deu pulinhos de empolgação, segurando a mão dela.

– Sim! Vamos fazer biscoitos de ursinhos! E estrelas, e dinossauros também!

Os dois desceram para a cozinha e, ao chegarem, Carlos , o mordomo, observou a cena com um sorriso discreto, notando o quanto a presença de Lira estava trazendo uma nova energia à casa. Ele preparou rapidamente os ingredientes na bancada, deixando tudo ao alcance dela e de Oliver .

– Divirtam-se, senhorita Lira, senhor Oliver– disse ele, com uma piscadela para a criança.

Lira enrolou as mangas da camisa e ajudou Angus a lavar as mãos, explicando a importância de manter tudo limpo antes de começarem. Em seguida, ela mostrou a ele como misturar a manteiga e o açúcar, deixando que o menino tentasse sozinho. Com cada mexida desajeitada, Oliver soltava uma risada gostosa que preenchia a cozinha com alegria.

– Vou colocar o ovo agora! – anunciou Oliver , com os olhos cheios de determinação.

– Vá em frente! Mas cuidado, ou vamos acabar com casquinhas de ovo nos biscoitos – brincou Lira, sorrindo enquanto ele quebrava o ovo com um cuidado exagerado.

Ela então acrescentou a farinha e deixou Oliver misturar a massa, o que rapidamente se transformou em uma brincadeira de sujar as mãos e o rosto com farinha. Lira riu ainda mais alto ao ver o próprio reflexo com o nariz branco de farinha, e, num gesto brincalhão, Lira tocou levemente o nariz dele, também ficando com um pouco de farinha.

– Agora podemos fazer as formas! – disse Oliver , ansioso para usar os cortadores de biscoitos que Carlos havia deixado separados.

Ele escolheu os formatos com o entusiasmo de quem estava numa aventura épica: ursinhos, estrelas, dinossauros e até corações. Lira o ajudava a pressionar os cortadores na massa, ambos rindo quando os biscoitos saíam com formatos irregulares, mas ainda assim adoráveis.

Após colocar os biscoitos no forno, Oliver insistiu em ficar perto do vidro do forno, observando com atenção enquanto a massa dourava e os biscoitos ganhavam forma. Lira o abraçou de leve, aproveitando aquele momento de paz e diversão. Aquele era um pequeno refúgio em meio ao turbilhão de dúvidas e perigos que rondavam sua vida, e ela se sentiu grata por aquele instante.

Quando os biscoitos finalmente ficaram prontos, ela os retirou do forno com cuidado, e os dois começaram a decorá-los. Com glacê e confeitos coloridos, criaram rostos sorridentes, olhos engraçados e até chapéus em alguns dos biscoitos. Oliver ria a cada nova invenção, encantado com o resultado de suas criações.

Nicholas apareceu na porta da cozinha, atraído pelo cheiro delicioso e pelas risadas de Oliver . Ao ver a cena, ele não conseguiu conter um sorriso. A imagem de Lira e Oliver juntos, sujos de farinha e com os rostos iluminados pela alegria, era uma visão que aquecia seu coração.

– Então é aqui que está toda a diversão, não é? – disse ele, entrando e observando a bagunça encantadora na cozinha.

Oliver correu até ele com um biscoito em forma de dinossauro.

– Papai! Olha, eu e Lira fizemos biscoitos de dinossauro! Quer experimentar?

Nicholas pegou o biscoito e deu uma mordida, fingindo que estava surpreso com o sabor.

– Uau, isso está ótimo! Vocês dois são uma ótima dupla na cozinha.

Lira sorriu, seu coração aquecido pela simplicidade daquele momento. Nicholas olhou para ela com gratidão, reconhecendo o carinho e paciência que ela demonstrava com Oliver.

– Lira, você trouxe uma energia especial para nossa casa – disse ele, com uma sinceridade que fez o olhar dela brilhar.

Ela desviou o olhar por um instante, tocada pelas palavras dele, e riu.

– Acredito que cuidar de Oliver é mais um presente para mim do que para ele.

Nicholas assentiu, seus olhos expressando um entendimento silencioso. A presença de Lira, além de trazer uma luz especial para Oliver , havia começado a despertar nele um sentimento novo – uma admiração que ia além da gratidão.

Depois da bagunça Lira resolveu dar um banho no pequeno Blackwood que estava todo sujo de farinha, realmente Oliver era uma criança encantadora assim como o pai.

Enquanto o dia se passava, Lira se via cada vez mais à vontade naquele lar e na companhia de Nicholas e Oliver . Ela ainda tinha perguntas sobre quem era e sobre as habilidades que surgiam em sua mente, mas, ali, cercada pelo riso de Oliver e pelo olhar protetor de Nicholas , ela encontrava algo que jamais esperava: um vislumbre de felicidade, algo que sentia ser muito precioso e, de algum modo, seu verdadeiro lar.

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