No suave crepúsculo, duas jovens se destacam no topo de um prédio moderno, no coração de um campus universitário isolado. Ao redor, quatro outros edifícios e um vasto gramado desenham o cenário, junto a dois ginásios imponentes e uma grande piscina coberta, todos cercados por uma linha de árvores que limita o horizonte. Contra o céu tingido de laranja, as silhuetas das jovens parecem envoltas em mistério.
A primeira delas, de estatura mediana, exibe uma pele parda e cabelos castanhos que caem em cachos leves até os ombros. Seu porte é saudável e firme, sem traços atléticos, mas com uma presença sutil e segura. Ela observa a outra jovem, alta e magra, de pele clara e cabelos negros que se derramam como uma cascata sobre os ombros. Ambas vestem uniformes no estilo de ternos femininos, que, embora formais, carregam uma elegância que contrasta com o cenário silencioso e isolado.
— Deu certo? — pergunta a pálida, uma expectativa inquieta no tom.
— Foi o melhor que consegui encontrar — responde a cacheada, seus olhos analisando o horizonte, como se tentasse escapar da intensidade do momento.cEla dá um leve sorriso, um toque de ironia nos lábios.— Sempre dá para fazer um teste... — murmura, inclinando-se levemente.
— Vai ser amanhã mesmo?
— Sim. Eu não tenho nada melhor para fazer, mesmo. — A outra dá de ombros, como se estivesse apenas concordando em uma tarde comum.
— Ok. Vou te passar as informações e o local.
As duas encaram o pôr do sol que pinta o céu com tons de laranja e roxo, como se cada cor estivesse antecipando a tempestade que viria.
Dia seguinte:
Passam das onze da noite quando a garota de pele parda, com o moletom preto largo e um capuz que esconde parte de seu rosto, anda pelas ruas desertas. A chuva fina que cai sobre a cidade reflete as luzes dos postes, fazendo com que tudo pareça ligeiramente embaçado. Ao virar uma esquina, ela avista uma oficina ainda aberta. Dentro, três pessoas trabalham — um homem de meia-idade, um jovem alto e magro, e uma garota pequena, com cabelos curtos castanhos. A cena parece ser de uma família descendente de indígenas, unidos naquele espaço modesto.
A garota se aproxima e, com uma voz firme, diz:
— Boa noite.
— Boa noite — respondem os três em coro, como se já soubessem que ela viria.Ela se aproxima da garota de cabelos curtos, que a observa com um olhar curioso e um tanto defensivo.
— Podemos conversar? — pergunta a cacheada, o tom suave, mas a intensidade nos olhos inconfundível.
A garota indígena hesita por um instante, antes de responder:
— Em que posso ajudar?
— No que pode me ajudar... não é algo que podemos falar aqui — sussurra, aproximando-se para que os outros não escutem.
Confusa e um pouco desconfiada, a garota indígena pergunta:
— Do que está falando?
A resposta vem com a rapidez de um soco que parece mais um teste do que um ataque real. A garota indígena bloqueia o golpe com facilidade, sem qualquer dificuldade. Os outros dois observam, alarmados, prontos para intervir.
— Aqui não — murmura a garota indígena, olhando ao redor. — Me siga.
Os outros parecem entender a gravidade do momento e, silenciosamente, deixam que as duas saiam para uma área mais isolada.
Cena seguinte:
As duas estão numa varanda mal iluminada, com a cidade ao fundo.
— Como sabe? — pergunta a indígena, a voz agora mais fria e calculada.
— Eu tenho minhas fontes — responde a cacheada, com um sorriso enigmático.
— O que você quer? — a indígena pergunta, elevando o tom e apertando os punhos.
— Calma, você vai gostar do que eu tenho a dizer.
A indígena hesita, mas a expressão em seu rosto revela uma mistura de curiosidade e relutância.
— Fiquei sabendo que... sua mãe faleceu. — A cacheada observa a reação da garota, cuidadosamente.
A indígena engole em seco, mas não desvia o olhar.
— E por motivos ainda não resolvidos, não é?
— Como sabe disso? — A voz dela é quase um sussurro, mas a intensidade é palpável.
— Digamos que meu nome é Marqueza Bispo.
A mudança na expressão da garota indígena é instantânea. Seus olhos se arregalam, a raiva substitui a surpresa, e sua voz sai carregada de fúria.
— O QUÊ? BISPO? VOCÊ É MALUCA DE APARECER AQUI! — Ela treme de raiva, as palavras cuspidas entre lágrimas. — Vocês adoram silenciar as pessoas e sempre saem impunes!
Ela não espera por mais explicações. Em um movimento rápido, ataca Marqueza com um soco potente, mas a cacheada bloqueia o golpe com o braço, apenas para ser lançada para trás, atravessando a parede e caindo no chão do prédio abaixo. O impacto faz com que tijolos e poeira voem ao redor.
A garota indígena não hesita; ela pula do telhado como um meteoro, atingindo o solo com força, criando uma pequena cratera. Ela começa a caminhar em direção à poeira que lentamente se dissipa.
— Ainda está viva?! — grita, saltando em direção a Marqueza, preparando outro golpe com fúria.Antes que possa concluir o ataque, é lançada para trás, ainda mais forte do que antes, indo de encontro ao chão, gemendo de dor.
— Eu pedi calma, mas você já veio com tudo — diz Marqueza, saindo da nuvem de poeira, o rosto imperturbável. — Acha mesmo que pode enfrentar um Bispo?
A indígena se levanta com dificuldade, sentindo as costas latejarem. Ela tenta atacar novamente, mas desta vez, antes mesmo de perceber, recebe um chute nas costas e cai, sem forças para continuar.
— Como eu disse, pedi calma — murmura Marqueza, ajoelhando-se ao lado dela. — Só quero conversar. Fiz isso para garantir que você me escutasse. Em breve, você estará curada... Então, podemos continuar?
A indígena respira fundo, ainda tentando processar o que ouviu.
— Como espera que eu confie em você? — Ela mal consegue sussurrar, o rosto contorcido de dor e desconfiança.
— Não sei... Mas eu preciso de você, e você precisa de mim.
— Por que um Bispo precisaria de mim? — pergunta a indígena, sua voz amarga.
— Porque, Clara, você sabe o que minha família fez. E tem uma motivação poderosa para seguir a minha missão. No momento — e um sorriso se forma nos lábios de Marqueza —, meu único objetivo é destruir os Bispos. Quero colocar um fim nessa família.
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Raro Diamante
HorrorA linha tênue entre a sanidade e a insanidade. O que reside além do véu da realidade? São as vozes que ecoam em nossas mentes frutos de uma mente perturbada ou sussurros de um mundo oculto? A história se repete: relatos de possessões, visões e exper...