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Fᴀʏᴇ Pᴇʀᴀʏᴀ

— Eu avisei para não tirar a Engfa do sério! — murmurei, ajoelhando-me ao lado de Charlotte e analisando o ferimento. Peguei um pano para tentar estancar o sangue. — Como você achou que isso ia acabar?

Ela me lançou um olhar de raiva misturado com arrependimento, mas não respondeu. Enquanto segurava sua mão, senti a dor dela quase como se fosse minha, e suspirei.

— Fique aqui. Vou chamar a Ling para ficar com você — falei, tirando o celular do bolso. Em poucos segundos, eu já havia enviado uma mensagem para Ling, pedindo que descesse imediatamente.

Enquanto aguardava sua resposta, acariciei o ombro de Charlotte, tentando passar algum conforto.

Pouco depois, ouvi passos rápidos atrás de mim, e Ling entrou na cela. Seus olhos se arregalaram ao ver a mão de Charlotte, e ela se aproximou com urgência.

— Fique com ela, Ling. Eu vou atrás da Engfa — disse, trocando um olhar de cumplicidade com Ling, que assentiu e logo se abaixou ao lado de Charlotte, oferecendo ajuda.

Saí dali e subi as escadas com passos determinados. Engfa precisava entender que a situação tinha passado dos limites.

Caminhei pela casa, verificando cada cômodo até encontrar a porta do escritório entreaberta. Empurrei-a e, lá dentro, estava Engfa, de costas para mim, encarando a janela como se estivesse imersa em pensamentos.

— Engfa — chamei, com a voz firme.

Ela se virou lentamente, o rosto com uma expressão fria, mas havia algo nos olhos dela, algo que parecia... hesitação?

— Isso foi longe demais, e você sabe — continuei, cruzando os braços e a encarando de forma incisiva. — Eu te avisei que ela estava reagindo defensivamente. Não era pra chegar a esse ponto.

Engfa me encarou, mantendo a compostura fria, mas eu sabia que ela sentia o peso das minhas palavras.

— Ela tentou pegar minha arma — respondeu, numa voz baixa e controlada.

— E isso justifica um tiro? — retruquei, erguendo uma sobrancelha, sem deixar espaço para desculpas. — Você precisa trazer um médico agora, para tratar a mão dela. Isso não vai ajudar em nada se ela piorar.

Ela desviou o olhar, parecendo considerar o que eu disse, e então soltou um suspiro resignado.

— Vou chamar a Heidi — disse, pegando o telefone e discando rapidamente.

Heidi era prima de Engfa, uma médica competente e discreta, que sempre ajudava em momentos críticos. Engfa conversou com ela rapidamente, e logo soubemos que Heidi estava a caminho.

Quando Heidi chegou, eu a levei até o porão, onde Charlotte estava sentada, sua expressão mais calma agora que Ling cuidava dela.

Heidi se apresentou com um sorriso gentil e começou a examinar a mão ferida com cuidado, aplicando um curativo e ministrando alguns remédios para dor.

Enquanto Heidi trabalhava, ela trocava algumas palavras leves com Charlotte, e pude perceber que a tensão de Charlotte começava a se dissipar.

Heidi tinha aquele jeito calmo e acolhedor, que fazia as pessoas confiarem nela sem hesitar. Em pouco tempo, Charlotte parecia até relaxada ao lado dela, e vi as duas trocando sorrisos e algumas risadas discretas.

— Está melhor agora? — Heidi perguntou, terminando de colocar a faixa na mão de Charlotte.

Charlotte assentiu, e seu olhar parecia menos carregado de rancor. Havia até um lampejo de gratidão em seus olhos.

Kɪᴅɴᴀᴘᴘᴇᴅ • EɴɢʟᴏᴛOnde histórias criam vida. Descubra agora