Caminho para Rodina

Capítulo 50 - Reabastecimento

No quarto de Hershel, a luz suave de um abajur preenchia o ambiente com um brilho tênue e amarelado, lançando sombras suaves sobre as paredes. A garota que haviam resgatado estava deitada na cama de Hershel, sua expressão marcada pela dor e pelo sofrimento, embora estivesse inconsciente, quase como se finalmente encontrasse algum descanso após o tormento que havia passado. Alexei, com uma expressão séria e sombria, entrou e parou ao lado de Hershel, que estava examinando com cuidado cada ferimento dela.

Hershel respirou fundo, a testa franzida em concentração enquanto descrevia a situação. "Ela sofreu múltiplos traumas por espancamento. A maior parte dos hematomas e contusões está localizada no rosto, braços e abdômen. Ela também tem fraturas na costela — três, pelo que eu posso ver. E pelo menos uma delas está próxima dos pulmões. Felizmente, não houve perfuração, mas o risco de pneumotórax é real, então temos de monitorar isso."

Alexei ouviu em silêncio, absorvendo cada palavra. Era um quadro sombrio e familiar para ele, algo que via em contextos de guerra e tortura. O tom técnico de Hershel era uma forma de manter a compostura, mas Alexei percebia a tensão no rosto do velho médico. Cada palavra parecia ser uma tentativa de entender a extensão do sofrimento que a jovem suportou.

Hershel continuou, apontando alguns dos hematomas maiores. "Apliquei compressas frias para tentar reduzir o inchaço, mas alguns desses hematomas são antigos, indicando que essa violência era... constante." Ele pausou, os olhos fixos no rosto da jovem, parecendo lutar para compreender como alguém podia ser submetido a algo assim. "Administrei alguns analgésicos para aliviar a dor, e já tratei as áreas com antissépticos para prevenir qualquer Infecção, mas com o estado dela, vai ser preciso muito repouso. Vou fazer tudo o que posso."

Alexei assentiu, mas seu rosto estava carregado com uma expressão de tensão sombria. Após um breve momento de silêncio, ele formulou a pergunta que sabia que precisava ser feita, por mais incômoda e cruel que fosse.

"Hershel," ele começou, a voz baixa e firme. "Acha que... pode ter havido... abuso sexual?"

A pergunta atingiu Hershel como um golpe. Ele engoliu em seco, o rosto revelando a perturbação que tentava disfarçar, como se o próprio ar tivesse ficado pesado e difícil de respirar. Os olhos do velho médico desviaram-se da jovem por um instante, o peso da suspeita refletido em seu olhar cansado.

"Eu... eu não tinha pensado nisso, Alexei," disse ele, visivelmente desconfortável, o tom vacilando enquanto a ideia se infiltrava em sua mente. "Ela já passou por tanta coisa... examinar isso seria... uma invasão ainda maior."

Alexei colocou uma mão firme no ombro de Hershel, falando com um tom sério, mas respeitoso. "Eu entendo sua relutância, Hershel. Mas precisamos saber. Primeiro, para verificar se ela está grávida. E, segundo... é melhor que uma mulher examine. Talvez você possa dar instruções a Patrícia, e ela possa procurar sinais."

Hershel ficou em silêncio, respirando fundo, o peso do que Alexei sugeria pesando sobre ele. Após alguns instantes, ele assentiu lentamente, a expressão endurecendo enquanto processava as palavras de Alexei. Ele sabia que Alexei tinha razão, mas não queria, em hipótese alguma, descobrir que a garota havia passado por algo tão atroz.

"Tudo bem," respondeu Hershel com uma voz baixa e rouca. "Eu... darei instruções a Patrícia."

Alexei e Hershel saíram do quarto, e Patrícia entrou silenciosamente, ciente da delicadeza e do horror daquela tarefa. O silêncio no corredor era pesado, cada segundo arrastando-se numa eternidade angustiante. Alguns minutos depois, a porta abriu-se com um rangido sutil, e Patrícia saiu. O rosto dela estava pálido, os olhos brilhando com lágrimas contidas. Ao encontrar o olhar de Hershel e de Alexei, ela apenas acenou com a cabeça, confirmando silenciosamente o que ambos temiam.