Capítulo 4: A linha Ténue entre o desespero e a esperança

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O campus estava animado naquela manhã, mas para Mariana, o barulho era apenas um zumbido distante. Na noite passada, tinha dormido mal e, ao levantar-se, a imagem no espelho fez-lhe um arrepio. Tentava ignorar, fingir que estava bem, mas sabia que a situação estava a escapar-lhe ao controlo. O estômago continuava a doer, e a mente continuava a encher-se de pensamentos que tentava bloquear.

Enquanto se dirigia para a aula, encontrou Inês, que lhe lançou um olhar preocupado.

— Mariana, estás bem? — perguntou a amiga, tocando-lhe no braço. — Pareces cansada.

Mariana forçou um sorriso, tentando manter a compostura.

— Só não dormi muito bem — respondeu, encolhendo os ombros. — Nada de especial.

Inês observou-a com atenção, mas acabou por sorrir e puxá-la para a aula. Durante as explicações, Mariana esforçava-se para focar, mas a mente continuava a divagar, e o estômago continuava a embrulhar-se. Foi quando recebeu uma mensagem no telemóvel.

Miguel: "Hoje, às 18h. Sê pontual."

O coração dela acelerou. Ele não disse onde iam, nem o que fariam. Apenas deu aquela ordem, e ela não conseguiu evitar sentir uma mistura de ansiedade e excitação.

Inês olhou de soslaio para o telemóvel de Mariana e ergueu as sobrancelhas.

— Outra vez o Miguel? — perguntou, com um tom de reprovação.

— É só... só vamos dar uma volta. Nada de especial — respondeu Mariana, tentando parecer despreocupada.

Inês suspirou.

— Não estou a julgar, Mari, mas... sei lá, tens a certeza de que estar com ele é o melhor para ti?

Mariana hesitou, mas, no fundo, sentia que não podia responder com sinceridade. Era como se estivesse a esconder uma parte de si mesma de toda a gente. Inês, Rui, Diogo... todos tinham a mesma preocupação com ela, mas ninguém sabia o que ela realmente sentia.

Às 18h em ponto, Mariana chegou ao ponto de encontro combinado. Miguel estava à espera, encostado à moto, com o mesmo sorriso confiante de sempre. Assim que a viu, entregou-lhe o capacete e montou na moto.

— Hoje vou mostrar-te um lugar especial — disse ele, piscando-lhe o olho.

Mariana sorriu, o nervosismo a desaparecer enquanto a adrenalina tomava conta dela. Montou na moto e segurou-se a ele, sentindo o calor do corpo dele contra o seu. Miguel acelerou, e ambos mergulharam nas estradas sinuosas da ilha, passando por montanhas e falésias, enquanto o sol se punha no horizonte.

Chegaram a uma área mais isolada, onde Miguel parou a moto. O céu estava tingido de laranja e rosa, e a vista era deslumbrante. Eles desceram, e Miguel tirou uma pequena manta da mochila, estendendo-a no chão para se sentarem.

— Este é o meu refúgio — disse ele, com a voz suave. — Quando sinto que não aguento mais... venho aqui. Ajuda-me a clarear a mente.

Mariana observou-o, surpresa com a sinceridade nas palavras dele.

— A sério? Nunca pensei que fosses do tipo de pessoa que precisa de... refúgios — admitiu ela.

Ele riu-se, mas o riso tinha um tom amargo.

— Todos temos os nossos demónios, Mari. Alguns são só mais... óbvios que outros.

Ela sabia exatamente do que ele falava, e sentiu uma onda de compreensão a passar entre os dois. Ficaram em silêncio, observando o céu e as cores que se desvaneciam lentamente.

Miguel virou-se para ela, os olhos dele cheios de algo que ela não conseguia decifrar.

— E tu, Mari? O que é que andas a tentar esconder?

Ela congelou, apanhada de surpresa pela pergunta. Queria negar, fingir que estava tudo bem, mas o olhar dele era demasiado penetrante. Sentiu-se exposta, como se ele pudesse ver todas as inseguranças que tentava manter guardadas.

— Eu... — começou ela, sem saber ao certo o que dizer. — Há coisas com as quais eu luto. Mas prefiro não falar disso.

Ele assentiu, como se entendesse perfeitamente. Não a pressionou, apenas continuou a olhar para ela, com uma expressão que misturava compreensão e tristeza.

— Às vezes, esconder o que sentimos é uma forma de nos proteger — murmurou ele. — Mas, a certa altura, começamos a sufocar.

Mariana não sabia o que responder. Sabia que Miguel tinha razão, mas sentia-se incapaz de desabafar. Talvez, com o tempo, conseguisse baixar a guarda, mas naquele momento o peso era demasiado grande.

Antes de voltarem para a moto, Miguel fez uma pausa e olhou-a nos olhos.

— Só quero que saibas que, seja o que for que estás a passar, eu estou aqui. Não me importo de ouvir... se algum dia precisares.

Mariana sentiu o coração apertar, mas limitou-se a assentir, grata pelo gesto.

Entre o caos e a esperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora