Mariana tentava encontrar alguma normalidade na sua rotina, mas as conversas com o pai e os momentos com Miguel estavam a mexer com ela de uma forma que nunca imaginara. Sentia que uma nova fase da sua vida estava a começar, mesmo que isso lhe causasse medo e ansiedade.
Na manhã seguinte, durante o intervalo, Rui e Diogo chamaram-na para a mesa onde estavam, no refeitório.
— Temos planeado um passeio este fim de semana! — anunciou Diogo, com um entusiasmo contagiante. — E sim, Mariana, tu vais connosco!
Ela riu-se, apreciando o bom humor dele, mas hesitante.
— Vocês sabem que não sou muito de aventuras...
— É um passeio, Mariana! Relaxa — disse Rui, piscando-lhe o olho. — Vai fazer-te bem sair um pouco. Todos merecemos uma pausa.
Inês, que estava ao lado deles, lançou-lhe um olhar de apoio.
— Anda connosco, Mari. Passamos o tempo sempre preocupados com testes e estudos. Vai ser bom desligarmos um pouco.
Mariana suspirou, percebendo que, na verdade, precisava mesmo de um dia longe dos seus próprios pensamentos.
— Ok, estou dentro. Mas nada de loucuras! — avisou, rindo.
No dia do passeio, o grupo reuniu-se numa pequena zona montanhosa, onde podiam desfrutar de trilhos e de um cenário natural diferente da cidade. Miguel chegou na sua moto, para surpresa de todos. Mesmo com a atitude rebelde, parecia animado por estar com o grupo.
— Vejo que também aderiste ao grupo dos "santos" — brincou Diogo, provocando-o.
Miguel apenas riu, dando-lhe um leve soco no ombro.
— Não sejas invejoso, Diogo. É bom ver que até tu podes ser civilizado quando queres — respondeu, piscando-lhe o olho.
O ambiente leve e descontraído fez Mariana relaxar, permitindo-se aproveitar o momento e esquecer, pelo menos por algumas horas, os problemas que carregava.
Eles caminharam juntos, trocando histórias e risos, e Mariana sentia-se realmente em paz. Foi durante uma pausa, enquanto estavam sentados numa pedra, a observar a paisagem, que Rui começou a falar de forma mais séria.
— Sabem... às vezes, sinto que estamos todos a fingir que as nossas vidas são perfeitas, quando, na verdade, todos temos coisas que preferíamos esconder.
O grupo ficou em silêncio, surpreso com a vulnerabilidade dele.
— Verdade. Acho que todos temos os nossos fantasmas — concordou Inês. — Mas, às vezes, é difícil partilhá-los. Nem sempre as pessoas compreendem.
Miguel suspirou, parecendo compreender o sentimento.
— Às vezes, carregar os problemas sozinho parece a única opção. Nem toda a gente quer ou consegue entender.
Mariana olhou para ele, vendo uma profundidade que antes lhe escapara. Sentiu-se compreendida, como se, de alguma forma, todos ali compartilhassem uma ligação que iam além das aparências.
— Se precisarem... estamos todos aqui, certo? — disse Diogo, tentando levantar o ânimo. — Às vezes, precisamos de alguém que esteja disposto a ouvir.
O grupo assentiu, e Mariana sentiu uma nova onda de confiança. Afinal, talvez não estivesse sozinha.
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Entre o caos e a esperança
RomansaA vida de Mariana, uma estudante de 18 anos, nunca foi fácil. Inteligente e perspicaz, ela esconde atrás de um sorriso tímido os problemas psicológicos que enfrenta diariamente. As sessões de terapia e os remédios são parte do seu cotidiano, mas o q...