O dia seguinte amanheceu cinzento, e Mariana sentia-se tão sombria quanto o céu. Estava grata pela noite anterior com Miguel, mas a vulnerabilidade que ele a fizera sentir não saía da sua cabeça. Passou a manhã nas aulas sem realmente prestar atenção. Inês e Rui tentaram puxá-la para conversas, mas Mariana mantinha-se distante, perdida nos próprios pensamentos.
Durante o intervalo, enquanto Mariana olhava para o telemóvel, recebeu uma mensagem inesperada de um número desconhecido.
Mensagem: "Olá, Mariana. Há muito tempo que não falamos. Podemos encontrar-nos?"
Ela reconheceu o nome imediatamente: era do seu pai. A relação entre eles sempre fora difícil, com uma história marcada por ausências e promessas quebradas. Mariana sentiu uma onda de emoções a inundar-lhe o peito. Não sabia o que pensar. Fazia meses que não tinha notícias dele, e agora, de repente, ele queria vê-la.
— Tudo bem? Pareces assustada — perguntou Inês, ao ver a expressão no rosto de Mariana.
— É só... uma mensagem de alguém que eu não esperava ouvir mais — respondeu, ainda processando o que aquilo significava.
Inês pareceu querer perguntar mais, mas notou o olhar distante de Mariana e decidiu não insistir.
Ao final da tarde, depois das aulas, Mariana decidiu responder à mensagem e combinar um encontro com o pai num café discreto. Quando chegou, ele já estava lá, sentado numa mesa no canto, com uma expressão de cansaço e um ar abatido. Os olhos dele mostravam uma sombra que Mariana se lembrava de ter visto muitas vezes enquanto crescia.
— Olá, Mari — disse ele, com um sorriso tímido.
Ela sentou-se, sem saber muito bem como começar.
— Olá... — murmurou.
Eles ficaram em silêncio por um momento, e o pai dela finalmente suspirou, parecendo querer desabafar algo importante.
— Sei que não tenho sido o melhor pai. Tenho... cometido muitos erros, mas queria que soubesses que estou a tentar mudar.
Mariana sentiu uma mistura de ressentimento e esperança. Tantas vezes ouvira aquela promessa, mas, na maioria das vezes, acabava desiludida. Mesmo assim, havia uma parte dela que queria acreditar, que queria dar-lhe mais uma oportunidade.
— Tenho estado a lutar contra... problemas que não contei a ninguém — continuou ele, a voz embargada. — Mas decidi procurar ajuda.
Mariana olhou para ele, tentando decifrar o que realmente sentia. Sabia que ele tinha os próprios demónios, mas isso nunca justificara as ausências e o abandono.
— Eu... agradeço que estejas a tentar, pai, mas... já ouviste isso tantas vezes. É difícil acreditar.
Ele assentiu, compreendendo a reação dela.
— Eu sei, tens toda a razão. Mas eu queria que soubesses que estou disposto a tentar outra vez. Gostava de, pelo menos, fazer parte da tua vida de uma forma que nunca fiz antes.
Mariana sentiu uma lágrima ameaçar escapar, mas manteve-se firme. Havia tanto que queria dizer, tanto ressentimento guardado, mas as palavras não saíam.
Quando voltou para casa, Mariana sentia-se esgotada. Sabia que aquele encontro com o pai iria mexer com ela, mas não imaginava o quanto. Tinha a cabeça a latejar e uma sensação de vazio que parecia expandir-se. Por um lado, queria que ele mudasse, que finalmente fosse o pai que sempre quisera. Por outro, estava cansada de esperar e de sofrer com as promessas quebradas.
Sem conseguir encontrar paz, pegou no telemóvel e mandou uma mensagem a Miguel.
Mariana: "Preciso de sair de casa. Estás livre?"
Em menos de um minuto, ele respondeu.
Miguel: "Estou a caminho. Onde estás?"
Minutos depois, ele estava à porta do prédio dela, com aquele mesmo sorriso despreocupado e confiante. Mariana sentiu um alívio ao vê-lo, como se ele fosse a única pessoa capaz de afastar as nuvens escuras que pairavam sobre a sua cabeça.
Eles começaram a caminhar, sem um destino específico, até que Miguel a levou até um parque tranquilo, longe do barulho da cidade. Sentaram-se num banco, e ele olhou para ela com uma seriedade que raramente mostrava.
— Então... o que se passa? — perguntou ele, quebrando o silêncio.
Mariana hesitou. Parte dela queria manter aquilo guardado, mas outra parte ansiava por desabafar com alguém que não a julgaria.
— O meu pai apareceu do nada, a pedir para se encontrar comigo — começou ela, olhando para o chão. — Ele diz que quer mudar, mas... já ouvi isso tantas vezes. É difícil acreditar.
Miguel assentiu, ouvindo atentamente.
— Deve ser difícil confiar em alguém que te desiludiu tantas vezes — disse ele, com uma compreensão genuína na voz.
— É como se eu quisesse acreditar, mas... sinto que, no final, vou acabar magoada outra vez — confessou, a voz tremendo.
Miguel colocou a mão no ombro dela, transmitindo-lhe uma segurança que ela precisava.
— Às vezes, as pessoas precisam de falhar muitas vezes antes de conseguirem mudar. Mas isso não significa que tens de te deixar magoar por causa disso. Tens o direito de te proteger.
Mariana olhou para ele, surpresa com a maturidade das palavras dele. Aquela camada confiante e rebelde escondia uma pessoa muito mais profunda do que ela imaginara.
— Obrigada, Miguel. A sério... — murmurou, sentindo-se grata por ele estar ali.
Eles ficaram em silêncio, e Mariana sentiu que, naquele momento, talvez estivesse a construir uma amizade verdadeira com ele.
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Entre o caos e a esperança
Любовные романыA vida de Mariana, uma estudante de 18 anos, nunca foi fácil. Inteligente e perspicaz, ela esconde atrás de um sorriso tímido os problemas psicológicos que enfrenta diariamente. As sessões de terapia e os remédios são parte do seu cotidiano, mas o q...