Estou andando de um lado para o outro pensando no que vestir, no que dizer e no que esperar. A forma como a Rio me tirou daquela loja com pouquíssimas palavras abriu margem para as piores interpretações. Não é como se eu esperasse uma reação dramática ou uma grande surpresa, mas confesso que me decepcionou sentir que não surti nenhum efeito nela.
As coisas entre nós não acabaram tão feias como eu costumo me lembrar, mas a culpa é quem narra a situação dessa forma pra mim. Houve uma conversa, houve despedida e eu fui realmente honesta com ela. E é claro que nada disso significa que não tenha sido doloroso. Cruzei um limite que me fez questionar tantas coisas e, naquele momento, ir embora pareceu ser a solução pra mim. Eu estava imersa numa teia de lembranças ruins, acreditava que minha vida estava estagnada e que esse não era meu lar. Me passou pela cabeça que sair da casa de minha mãe não era o suficiente, eu precisava deixar a cidade. E eu fui covarde. Não precisava deixar Rio. Eu o fiz porque a transformei em parte do problema.
Um vestido preto, casaco e o mínimo de acessórios e detalhes. Na minha opinião, é o que deixa o mais implícito possível o fato de que respirar o mesmo ar que Rio me faz querer desesperadamente estar dentro dela. Acaricio Lily por uns minutos antes de sair, ela já está familiarizada com o quarto, isso me deixa aliviada antes de sair. Pesquisei o endereço assim que saí de Eden mais cedo e dirijo até lá com o peito em brasas.
O ambiente é mais apertado do que eu esperava, tem uma atmosfera familiar, imagem de bar de cidade pequena. Rio ainda não está aqui. O que me deixa mais uma vez ansiosa e com tantas perguntas. Me sento numa mesa no canto e preciso de uma bebida. O garçom parece ler meus pensamentos. Com ela em mãos e indo embora mais rápido do que deveria, sinto que Rio chegou. É incrível como seu cheiro denuncia sua presença em qualquer lugar. Camisa social preta, cabelos soltos, calça com caimento perfeito e salto fino. O fato dela ser a visão mais linda que eu já testemunhei dificulta as coisas. Ela se senta na minha frente e esboça algo que parece pouquíssimo com um meio sorriso. Meu nome sai de sua boca e eu não acredito no quão bom é ouvir isso outra vez.- Agatha... O que faz aqui?
- Você me chamou.
- Você entendeu a pergunta. O que faz aqui em Lakewood?
- Fazem tantos anos, Rio, eu tomei a decisão de voltar porque tanta coisa aconteceu e eu tenho me sentido tão vazia, incompleta. Meu trabalho, eu simplesmente não consigo escrever mais nada e...
- E o que você ir até o meu trabalho tem a ver com isso?
- Parte de me sentir incompleta e com tantos assuntos inacabados tem a ver com nós duas. Quer dizer, eu sei que nós duas seguimos em frente, mas eu abri um buraco no meu peito quando fui embora e eu não sei o que fazer com isso agora.
Rio ficou alguns minutos em silêncio, pediu uma bebida e encarou o copo como se eu nem estivesse mais ali. Senti meu estômago revirar e minha respiração está tão pesada que qualquer um nesse lugar pode ouvi-la agora. Tomo a decisão mais imbecil possível e pergunto:
- Quem é aquela mulher?
- Que mulher?
- Aquela que trabalha com você.
- Você já respondeu a pergunta, Agatha. Ela trabalha para mim.
- E mais o que?
- Não que isso seja da sua conta, mas ela é minha ex namorada. Ficamos juntas por quase três anos, até que decidimos que somos melhores como amigas.
- Se são amigas, o que te fez me tirar de lá tão rápido?
- Eu não tirei você de lá.
- Sim, você me tirou. E não queria que ela ouvisse nada.
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Take me back (Fanfic Agathario)
FanficAgatha Harkness é uma escritora de suspenses dramáticos que se vê com um bloqueio considerável há mais tempo do que consegue contar, fazendo-a se questionar se ainda existe ali qualquer resquício de sua criatividade. Com o gênio impulsivo de sempre...