Geralt

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Os primeiros anos depois da queda de Cintra foram difíceis. Criar uma criança, principalmente uma princesa feiticeira com o espírito de um lobo, foi uma das coisas mais desafiadoras que ele já teve que fazer.

Com todo o problema da guerra então? Esgueirando-se pelo continente para escapar das garras de Nifilgaard? Descobrir que o imperador do dito império que invadiu Cintra era, na verdade, o pai biológico de sua filha?

Dizer que os anos depois da Queda foram "difíceis" não passava de um eufemismo muito, muito gentil. Eles foram infernais.

Não bastasse todos os motivos externos e óbvios do porque foram os piores momentos de sua vida, como, por exemplo, sua cabeça estar a prêmio por um império inteiro enquanto ele protege, cria e educa uma menina em um continente em guerra.

Bem, ainda havia o fato de quê Geralt era um péssimo pai. Ele nunca deveria ter se tornado um para início de conversa.

Bruxos eram estéreis. Não inférteis, não apenas incompatíveis com as outras espécies ou qualquer coisa parecida. Estéreis, do tipo "não poderia engravidar alguém nem se a própria Deusa da fertilidade pulasse em seu pau por dias".

Dito isso, Geralt já quis, várias vezes e muito secretamente, uma criança, uma menina para ser mais específico.

Foi seu sonho por algum tempo, um sonho que resistiu a exatos dois anos no Caminho, antes que ele aceitasse que ninguém poderia amá-lo (de jeito nenhum) o suficiente para concordar em adotar uma criança com ele, principalmente com todas as nuances do que isso significava.

E sim, ele poderia ter adotado sozinho, mas com quem deixaria a criança enquanto caçava? Como ele cuidaria dela nos dias em que estivesse sofrendo de sobrecarga sensorial?

O que ele faria quando estivesse desmaiado debaixo de um monstro, preso por dias seguidos até se curar o suficiente para se arrastar para um curandeiro?

Quem a alimentaria então? Quem trocaria suas fraudas e daria banho?

Geralt, na época em que ainda sonhava que poderia ser amado e criar uma família própria, pensava que com um parceiro, homem ou mulher, ele teria apoio para esse tipo de coisa.

Seu companheiro cuidaria da criança nessas situações, então quando ele estivesse curado poderia assumir a responsabilidade e deixar seu parceiro descansar.

Com O Caminho, os treinos de bruxaria e, bem, todos os cuidados que uma criança exige, além dos problemas próprios que seu parceiro com certeza teria, Geralt sabia que criar sua menina não seria fácil.

Mas porra, ele estava ansioso para tentar.

Só... bruxos não eram amados, não construíam família além de seus irmãos de luta e mestres treinadores.

Então Geralt desistiu e tornou-se um pouco mais amargo por isso, mas ninguém além de Eskel (que ele soubesse antes da Montanha) sabia sobre seu sonho tolo, por isso ninguém poderia julgá-lo.

Dito isso, apesar de amar crianças, Geralt nunca dedicou-se a aprender cuidar de uma, muito menos desenvolver em si as virtudes necessárias para tal.

Ele não tinha paciência, tato, cuidado ou inteligência emocional para lidar com princesas feiticeiras ferozes e traumatizadas.

Ele mal conseguia lidar com os próprios traumas, pelo amor da Deusa! Seu mecanismo de enfrentamento preferido era ignorá-los veementemente.

Mas Ciri não era ele, e ele sabia que alguém tão poderoso quanto ela não poderia reprimir o que sentia se não quisesse tornar-se uma bomba relógio extremamente perigosa.

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