Linhas cruzadas • Jjk + Pjm

1. Rivalidade antiga

Giulia

— Que porra de barulheira é essa? — Giorgia se jogou do meu lado, bufando.

— Adivinha. — Rolei os olhos. — Jimin e Jungkook, como sempre.

Sangue Rosso e Smeraldo jogavam uma partida um contra o outro, um grande clássico da cidade de Bolonha. Desde que me conheço por gente, as duas faculdades se odeiam, e é óbvio que isso começou no esporte. O futebol é levado muito a sério aqui, porque ajuda muito nas notas e no currículo. Na Smeraldo Università também.

Só que na nossa, a coisa toda ficou muito mais forte porque Riccardo Grasso, o ícone do futebol, estudou ali. Ele trouxe ainda mais reconhecimento pra faculdade, e por isso o futebol virou o centro dos esportes aqui. Jungkook é filho dele e ex-capitão do Sangue Rosso.

Eu não sou próxima do Jungkook, mas Pamela namora com ele há dois anos, então até que eu sei de algumas coisas da vida dele. Jungkook é rico. Muito rico. Ele não se abre muito sobre essa questão familiar, mas os pais vivem viajando, e Pamela acredita que o futebol seja uma maneira de Jungkook tentar se aproximar mais do pai, e eu acho que faz sentido.

O maior problema na vida de Jungkook, depois dos pais ausentes, estava agora gritando com ele no meio da quadra. Jimin é o capitão do Smeraldo, e toda oportunidade, esses dois estão se xingando.

Eu odeio futebol; não vejo graça nenhuma em um monte de gente suada correndo atrás de uma bola, se matando pra chutar ela numa rede. Fica ainda pior com futebol masculino, que é um prato cheio pra testosterona exalar por todos os poros.

— Amor, chega! — Pamela falou alto, chamando a atenção do namorado, enquanto vinha na nossa direção. — O Jungkook fica insuportável quando tem jogo com os Smeraldos. — Revirou os olhos, sentando do meu lado.

É por causa do Jimin que o Jungkook tem um "ex" antes do nome de capitão do time. Mas isso é história longa.

— O que é que a gente tá fazendo aqui mesmo? — Taehyung perguntou, sentado em um degrau abaixo na arquibancada.
— Eu tô acompanhando a Pam. — Falei, vendo-a sorrir pra mim.
— E você? — Pamela franziu o cenho quando viu Giorgia do meu lado. Ela sorriu, debochada como sempre.
— Eu tô assistindo meu melhor amigo dar um baile no seu namorado. — Pamela revirou os olhos.
— Pensei que você não gostava de futebol. — Falei baixo. Ela riu.
— Não gosto. Mas gosto de ver seu time perdendo. — Rolei os olhos, rindo junto. Eu não podia ligar menos. Giorgia, diferente de mim, era mais competitiva. Assim como ela disse, não importava o esporte, se ela gostava ou não dele, ela gostava de ganhar. Na verdade, ela gostava que ganhassem por ela, porque ela mesma nunca competia.

Nos últimos dois meses, minha vida deu um giro de 360°. Eu sou uma pessoa quieta, na minha; não digo que sou super tímida, só gosto de ter meus poucos amigos por perto, e não sou muito fã do que as pessoas esperam que pessoas da minha idade sejam. Não uso drogas, não gosto de festa, bebo muito de vez em quando e, até uma semana atrás, nunca tinha transado.

As coisas mudaram quando eu conheci a Giorgia.

Na verdade, eu já a conhecia de toda essa rivalidade entre as universidades. Ela é a fiel escudeira de Jimin, e eu, a fiel escudeira de Pamela. Por isso acabávamos nos mesmos ambientes, já que Pamela ia em todos os jogos de Jungkook, e eu a acompanhava.

Em um dos jogos amistosos, as escolas todas se juntaram e fizeram uma festa enorme. Depois de duas semanas de uma Pamela chorosa nos meus ouvidos, resolvi acompanhá-la, na promessa de que ficaria só duas horas naquele lugar.

O que aconteceu foi que eu bebi mais do que estava acostumada e beijei quatro caras diferentes, no último, fui convidada pra um beijo triplo, coisa que nunca tinha feito. Empolgada, com muito álcool no sangue, beijei Giorgia e um cara que nem sei o nome, ao mesmo tempo. Acabou que abandonamos o cara e ficamos o resto da festa nos beijando.

Não chegou a ser escondido, mas foi em um canto bem reservado, então ninguém dos meus amigos viu. E desde lá, nunca mais parou.

Eu nunca senti interesse por mulheres, ou pelo menos não era algo que eu percebia. Mas eu também não sentia muito interesse por homens, então não era muita novidade. Eu já até achei que era assexual, mas não é o caso. Eu só sou nova demais, e ninguém ainda tinha me despertado esse tipo de interesse.

Giorgia despertou.

E eu devo ter despertado o interesse dela, porque, mesmo eu fugindo em algumas situações por pura insegurança, ela sempre teve paciência pra esperar, pra me deixar segura.

Acontece que eu não consigo contar pra minha melhor amiga, e não sei por quê. Pamela é de uma família muito conservadora, o pai é pastor, e a mãe está sempre coberta com roupas simples e fechadas, como uma boa mulher recatada. Credo.

Eu não gosto de nada desse tipo; pra ser sincera, até tenho uma certa aversão, mas eu amo minha melhor amiga. Apesar dos pais que tem, Pamela não é como eles, eu sei disso. Mas não sei como ela reagiria.

Sempre dormimos juntas, trocamos de roupas na frente uma da outra, e ela sempre me confidenciou tudo sobre seu corpo e sua vida sexual, que é muito mais ativa que a minha, já que ela perdeu a virgindade com Jungkook há dois anos atrás.

Eu nunca vi um casal tão foguento como aqueles dois. Pamela sempre me contava os detalhes sórdidos e eu ficava chocada, pensando se um dia seria assim com alguém. Eles se amam muito, apesar dos pesares.

Eles são completamente diferentes. Jungkook não suporta o pai da Pam, estão sempre batendo de frente, e já fazem alguns meses que o pastor não o deixa mais frequentar sua casa. Não que antes ele deixasse, da forma como Jungkook sempre frequentou. O pastor acha que Jungkook só conhecia a sala da casa, mas ele vive pulando a janela da Pam. Por pura birra e rebeldia.

Jungkook praticamente mora sozinho; Pamela vive na sua casa com ele, mas, às vezes, do nada, ele aparece na dela, para surpreendê-la, e ela, mesmo ficando brava, acaba se derretendo pelo namorado. Eu ficava puta da vida quando ele aprontava uma dessas em alguma noite das meninas. Ele simplesmente aparecia lá, engolia Pamela em beijos e depois ia embora rindo.

Eu não tenho nada contra ele. Pelo menos, não muito... Mas também não tenho nada a favor. Jungkook é uma das pessoas mais egocêntricas que já conheci. Se ele quer, ele vai ter. Por isso aparece por lá, mesmo Pamela pedindo pra ele não fazer, porque se o pai dela o ver, ela que sofreria as consequências.

Mas ele segue fazendo, como o grande inconsequente que é. Ele é mimado, ao mesmo tempo que tem uma síndrome de abandono que o faz querer chamar atenção por onde passa. E o pior, ele consegue. Não faz nem um pouco o meu estilo, mas não posso negar que ele tem uma beleza diferente e chama a atenção de todas as garotas da faculdade.

Antes da Pamela, ele era um cafajeste, por isso nunca incentivei minha amiga nessa relação. Mas depois ele até que se ajeitou, coisas do amor...

— Desde quando vocês se conhecem? — Pam perguntou, olhando pra nós duas. Pamela era muito protetora comigo. Tive que me segurar pra não revirar os olhos, mas vi que Giorgia o fez.
— Da vida. — Falei, sem saber o que dizer.
— Todo mundo conhece a Giorgia. — Taehyung falou, me fazendo rir.
— É, mas não sabia que andavam juntas.
— Agora sabe. — Nem tive tempo de responder, Giorgia respondeu por mim, enquanto Pamela me olhava duramente. Dei de ombros, voltando a olhar pra qualquer canto da quadra, enquanto Jimin e Jungkook protagonizavam mais uma discussão.

Quem aguenta?