Capítulo seis

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Lindsay

      Verifico os emails antes de sair para almoçar. Combinei com George e mais uma vez ele disse que não seria possível. Elena acabou de sair com Christopher, Alaia está de licença, Veronica e Dorian não se separam mais, então vou almoçar sozinha. Mas era óbvio que seria assim porque eu não combinei com eles e sim com o meu namorado.
       Ultimamente George tem estado um pouco estranho, talvez eu esteja passando da fase de encanto de um relacionamento ou talvez eu esteja a ser muito exigente. Ele está trabalhando num projeto importante, deve precisar de tempo para isso, embora eu ache que também precisa de descansar e passar mais tempo com a namorada.
        As portas do elevador se abrem e vejo Mark na recepção sorrindo para Debra, a recepcionista, que está corada e não para de olhar para ele. Seu terno preto acentua na perfeição, parece que foi feito para ele, não apenas por ser sob medida, mas porque deixa o homem deslumbrante.
        Não sei se veio por minha causa, afinal Elena e Christopher também trabalham aqui, mas é estranho ele aparecer na minha vista todos os dias, ultimamente. Sei que está apaixonado por mim ou é isso que ele diz, mas há uma grande barreira nele, o meu namorado.
        Mark vira e olha para mim sem me dar a chance de escapar. Estranhamente, sou atingida pelo seu sorriso e caminho até ele, tentando parecer imperturbável.
       — Oi, Mark.
       — Lindsay, você está linda. — olha para a minha calça preta de alfaiataria, blazer e camisa de seda branca e meus saltos altos de quinze centímetros.
       — Obrigada. Você veio falar com Christopher?
       — Combinei com ele, mas parece que esqueceu. Ele acabou de sair com a Elena.
       — Sim. Sei disso. — Como faço para escapar?
       — Almoçamos juntos? — pergunta. Claro que ele faria isso.
       — Sim. Pode ser. — Dou de ombros. Eu não queria, mas não deve fazer mal algum e qual seria a razão para negar seu pedido? Que tenho namorado, sendo que somos apenas amigos e que não vai acontecer nada de mais?
        — Perfeito, vamos.
        Caminhamos para fora do hotel, e eu me sinto desconfortável. Eu nunca me senti assim antes estando do seu lado, não sei porquê ultimamente estou tão estranha.
        Mark me acompanha até seu BMW e abre a porta para mim, como sempre faz porque ele é um cavalheiro. A mulher que estiver ao seu lado será uma sortuda, só vejo qualidades nele.
         — Como está o dia hoje? — ele pergunta quando entra e fecha a porta.
         Coloco o cinto de segurança. — Quente e um pouco entediante. Como foi o trabalho ontem?
         — Trabalhei sem parar. Hoje fiz diferente.
         — E sua amiga gostou do presente?
        Ele sorri. — Eu ainda não entreguei a ela.
         — Por que não?
         — Farei isso num outro dia. — Ele começa a dirigir.
         Parece que eu estava errada, parece que ele comprou a calcinha para mim. Eu não quero machucar o seu coração, mas desse jeito fica difícil. Eu tenho um namorado, não pode acontecer nada entre nós. O que tenho que fazer para ele entender isso?
         Fico em silêncio durante o caminho todo até chegarmos no restaurante. Mais uma vez, Mark abre a porta para mim e entramos para ocupar uma mesa.
        Ele tem bom gosto, o restaurante é luxuoso e com uma decoração sublime, Elena adoraria esse lugar sem dúvidas. Endireito o meu blazer e aprecio o lugar, as pessoas e o ambiente. Nunca tinha vindo para cá, mas acho que a comida deve ser boa.
         — Então, o seu namorado. — Mark me obriga a olhar para ele.
         — O que tem o meu namorado?
         — Vocês estão com problemas?
         — Não, e acho que isso é pessoal demais para você perguntar.
         — Desculpa, achei que era seu amigo. — Ele olha para mim, mas não sei descrever sua expressão. Está magoado ou irritado?
         — Você é, mas às vezes esquece disso. — Respondo, um pouco irritada também.
         — O que isso significa?
         — Eu tenho um namorado.
         — Estou ciente disso. — Revira os olhos.
         — Ouve, simplesmente não acho que deve perguntar isso. O que acontece entre mim e meu namorado não tem a ver com você.
         — Apenas quero saber se ele te trata bem. — Insiste.
         — Ele é maravilhoso. Não precisa se preocupar, na verdade, não quero que se meta na minha vida amorosa.
          — Entendido.
          — Você é uma pessoa maravilhosa, Mark...
          Quero começar com o discurso de amiga preocupada que quer que ele encontre alguém melhor, mas o meu telefone toca. George aparece no tela e meu coração bate porque sinto que ele me vê nesse momento. É sério, ultimamente parece que sente sempre que Mark está perto de mim.
          — Não vai atender?
          Respiro fundo e atendo. — George.
          — Você ainda está no trabalho, amor? Consegui sair a tempo. Posso ir até aí e almoçamos.
          — Eu acabei de sair. Fica para a próxima.
          — Mas posso te buscar, diga em que restaurante está. — Por que ele tem agido assim?
          — Não precisa. Eu não estou sozinha. — Sou sincera. Ele cancelou, achei que não iria mais aparecer.
          — Não? Quem está com você?
          — Eu estou com um amigo. Você não precisa se incomodar, George.
          Ele desliga na minha cara. Verifico para ter a certeza e estou chocada. Ele fez mesmo isso porque eu disse que estou com um amigo? Ele desligou na minha cara porque está com ciúmes?
           — Ele desligou? — Mark pergunta.
           — Não. Deve ter caído a ligação.
          Ele ri sem humor. — Sinceramente, Lindsay. Você é boa demais e inteligente demais para estar com um idiota. Não percebe?
          — Não diga coisas que não entende, por favor.
          — Eu entendo que o que ele acabou de fazer é extremamente infantil e você finge que não percebe.
          Respiro fundo mais uma vez e levanto, quase correndo para fora do restaurante. Eu não entendo porquê, mas estou com raiva, perdi o apetite e só quero voltar para o trabalho. Talvez ele esteja certo, mas eu não sou de desistir assim, provavelmente eu faria o mesmo se soubesse que ele está com outra mulher.
         Mark me alcança e segura o meu braço, impedindo os meus passos. — Lindsay, espera, por favor!
         — Mark...
         — Não vai atrás dele, por favor. Ele não merece. — Ele me vira e toca o meu rosto com as suas mãos. — Eu não mereço. Você não pode fazer tudo o que ele quer.
        Eu não pretendia ir atrás de George, eu simplesmente iria voltar para o trabalho e me fechar na minha sala até o fim do expediente. Meu namorado desligou na minha cara, ele me deve um pedido de desculpas, ele deve vir atrás de mim e não eu.
         — Você não sabe de nada. — Começo a respirar com dificuldade. Nossos corpos estão muito próximos, o seu toque faz as minhas pernas tremerem e quando a sua testa toca a minha, fecho os olhos sentindo as batidas do meu coração cada vez mais rápidas.
        — Sei que você merece alguém que saiba cuidar de você. Sei e você também sabe. — Sussurra.
        — Ele é um bom namorado.
        — Você o ama? — pergunta.
        Dou um passo para trás e abro os olhos. Olhar para ele não ajuda, mas independentemente de tudo, não consigo responder a sua pergunta. No momento, eu esqueci os motivos que me levaram a estar com George.
        Eu tenho sentimentos, e eles vão crescer, porque é assim que as coisas funcionam. Com o tempo, talvez eu possa dizer que o amo, mas nesse momento não tenho a certeza disso. O que significa amar alguém?
        — Não me pergunta isso, por favor. — Peço.
        — Seus olhos dizem que não.
        — Mark, não se meta na minha vida pessoal, por favor. Eu sei o que você sente por mim, deve ser por isso que você pensa que George não merece estar comigo. — Digo, encarando seus olhos verdes brilhantes.
        — Eu sei separar as coisas.
        — Não parece.
        — Está bem. Não quero brigar, podemos voltar para dentro? — pergunta, cautelosamente.
        — Agora que as coisas ficaram ainda mais estranhas?
        — Posso ficar em silêncio. Prometo não dizer nada sobre o seu namorado. Diga o que você quer, e eu faço tudo o que você quiser. — O jeito que ele olha para mim e diz essas coisas faz o meu coração se apertar.
        — Está bem.
        Ele segura a minha mão e me leva para dentro mais uma vez. O seu jeito carinhoso é diferente, me deixa um pouco desnorteada. Confesso que ultimamente George tem tido umas atitudes estranhas e que talvez eu não esteja louca por ele, mas sinto alguma coisa e não quero desistir na primeira dificuldade. Um relacionamento tem altos e baixos, não apenas altos.
        — A calcinha que você comprou é para mim? — pergunto após recebermos o cardápio.
        — Prefiro não responder a isso. — Ele sorri com os olhos no cardápio.
        Então, seu telefone também toca e Mark atende com um sorriso no rosto. — Estranho você ligar para mim. — Diz e ouve a pessoa do outro lado. — Ah, desculpa agora não posso. Estou com a minha amiga nesse momento. — Olha para mim agora. — Estou ansioso por isso. Depois nos falamos. Tenha um ótimo dia. — Desliga.
         — Então o que vai pedir? — pergunto.
         — Ainda não me decidi.
         — Você é sempre assim? Indeciso?
         Sorri. — Claro que não. Eu sempre tenho a certeza do que eu quero.
         Estou arrependida por aceitar o seu convite. Esse momento é um pouco constrangedor e se as coisas já estavam estranhas entre nós agora estarão pior.

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