Capítulo IX - Entre fumaça e proteção

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Era uma manhã silenciosa em Hogwarts, e a sala de Poções estava tomada por uma concentração incomum dos alunos. Sob a orientação do Professor Slughorn, que observava atentamente cada dupla, todos preparavam uma poção complexa e delicada, conhecida por amplificar temporariamente as características primárias de uma pessoa. Cada ingrediente precisava ser medido com precisão e misturado cuidadosamente, ou o efeito poderia ser desastroso.

Harry e Draco estavam trabalhando próximos, ambos cientes da presença um do outro, mas mantendo o foco no próprio trabalho. Harry podia sentir uma sensação constante de alerta ao redor de Draco, como se o instinto de proteção que tinha se tornasse mais intenso. Draco, por outro lado, se mantinha quieto e concentrado, determinado a provar a si mesmo e ao mundo que sua condição como ômega não o tornava menos habilidoso.

Entretanto, tudo mudou em um instante.

Um aluno próximo, distraído, deixou cair um ingrediente errado no caldeirão. Em questão de segundos, a poção explodiu em uma nuvem de fumaça densa e colorida, espalhando respingos por toda a sala. Harry agiu por reflexo, puxando Draco para trás e colocando-se entre ele e o caldeirão acidentado. A fumaça se espalhou rapidamente, impregnando o ar com um aroma doce e quase hipnótico.

Para a surpresa de todos, incluindo Draco, um aroma inconfundível de maçã verde e torta de melaço começou a emanar do loiro, o acidente com a poção revelou sua natureza de ômega de forma inesperada e pública. Harry sentiu seu próprio cheiro de pinheiro, almíscar e âmbar, intensifica-se em resposta, um instinto de proteção tomando conta de cada fibra do seu ser.

Draco, percebendo o que havia acontecido, tentou se afastar, o rosto completamente vermelho. Ele sabia o que aquilo significava. Todos ao seu redor sabiam sua condição de ômega agora, e o olhar de choque de alguns alunos tornava a situação ainda mais embaraçosa.

Nott, que estava do outro lado da sala, lançou um sorriso debochado, enquanto murmurava alto o suficiente para que todos ouvissem:

—  Bem, parece que o seu segredinho finalmente foi revelado. Sabia que ele não poderia esconder para sempre.

Harry sentiu o sangue ferver. Sem pensar, deu um passo firme na direção de Nott, os olhos brilhando entre o  verde e o vermelho com uma intensidade quase ameaçadora. O instinto alfa, principalmente como um alfa lúpus, fez seu corpo inteiro reagir. O queixo firme, os punhos cerrados e os músculos tensos deixavam claro que ele não permitiria que ninguém desrespeitasse Draco.

— Mais alguma palavra e você vai se arrepender, Nott — a voz de Harry saiu baixa, mas com uma autoridade que fez todos se calarem.

Professor Slughorn interveio, tentando acalmar a situação, mas claramente surpreso com a reação de Harry e o aroma de ômega que preenchia a sala. Com um suspiro, ele acenou para os dois.

— Potter, Malfoy, vão para a enfermaria. Vou cuidar do resto aqui.

Harry assentiu, olhando fixamente para Nott antes de guiar Draco para fora da sala. Ele se manteve segurando a mão do loiro, que ainda estava em choque, evitando os olhares enquanto caminhavam pelos corredores. Draco sentia uma mistura de emoções – vergonha, confusão, mas também um alívio sutil pelo apoio inabalável de Harry.

Ao chegarem na enfermaria, Harry se virou para Draco, a expressão suavizando enquanto falava.

— Você está bem? — A voz dele era suave, mas o tom protetor ainda estava presente.

Draco olhou para Harry, tentando encontrar palavras, mas tudo o que conseguia sentir era o conforto que a presença dele proporcionava.

— Eu… Eu nunca quis que fosse assim, Harry. Não queria que todos soubessem assim. — A voz de Draco estava entrecortada, revelando a vulnerabilidade que ele tanto tentava esconder.

Harry deu um passo mais perto, ainda segurando as mãos de Draco com firmeza.

— Eu sei que não foi o jeito ideal, mas ninguém aqui tem o direito de te fazer sentir menos por ser quem você é. — Ele deu um leve sorriso. — Não há vergonha em ser um ômega, e se alguém tentar te fazer pensar o contrário, vai ter que lidar comigo.

Draco sentiu o calor subindo pelo rosto, mas também um conforto inexplicável. Harry era diferente. Ele não apenas o protegia como alfa; ele o respeitava como igual.

— Obrigado, Harry — Draco murmurou, desviando o olhar, mas com um pequeno sorriso.

Harry apenas apertou suas mãos mais forte, seu aroma de pinheiro e almíscar se misturando ao cheiro doce de Draco, criando um ambiente reconfortante entre eles. Ambos sabiam que as coisas mudariam a partir daquele dia, mas enquanto estivessem juntos, poderiam enfrentar qualquer coisa.

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