Capítulo VI - A Primeira Lua Cheia

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O carro avançava pela estrada movimentada da cidade de Silver Hills, o som dos pneus cortando o asfalto ecoando na manhã provavelmente mais normal daquele ano. Gênesis se recostou no banco de trás, ao lado de James Northwood, ambos observando pela janela as árvores que passavam rapidamente, em um borrão de sombras e luzes intermitentes.

—E essa cicatriz aqui é a mais bizarra de todas! –Disse Gen, risonha como nunca. 

—Eca! Afasta isso do meu rosto!  Não, não, eu não quero ver! –Devolveu James, também aos risos.

Damian dirigia com uma expressão serena, observando os jovens amigos pelo retrovisor interno do seu carro. Enquanto Alicia Northwood, ao lado dele, olhava para a Gen com uma curiosidade que beirava a desconfiança. A tensão estava no ar, como se as palavras não ditas fossem mais pesadas do que qualquer coisa que pudesse ser falada em voz alta.

—Eu ainda não entendo o que aconteceu naquela floresta, Gênesis. –Disse o garoto franzino, com dúvida e preocupação. —Você não acha estranho que um animal tenha te atacado daquela maneira? 

Gênesis manteve os olhos voltados para o seu cardigã verde. Não queria dar explicações. Não sabia como explicar o que havia acontecido naquela noite, ou o que havia sentido. Tudo o que sabia era que a dor que a atingira quando o animal a atacou, a havia marcado de uma maneira que ela ainda não entendia completamente.

—Eu não sei o que era, cara. –Ela retrucou com a voz mais firme enquanto esfregava os dedos nervosamente. —Mas eu vou ficar bem. Me deram uns analgésicos que me deixaram com uma felicidade acima da média.  –Ambos riram.

Damian, que até então permanecera em silêncio, disse para James que a sobrinha tivera muita sorte. Nenhuma lesão interna fora encontrada, nenhum osso quebrado. Gen iria voltar à sua vida normalmente, incluindo à rotina escolar.

◾️◾️◾️

Na manhã seguinte, Gênesis se preparou para a escola com um pouco de nervosismo. A lembrança do ataque na floresta ainda a perseguia, mas ela tentava se concentrar no que tinha à frente. Damian explicou que não poderia leva-la à escola nova por que tinha uma reunião com o Conselho de Segurança da Cidade. Mas não havia problema. James estava lá para apresentar a ela o resto do campus. Ser sua companhia. A verdade é que James se tornara seu primeiro amigo de verdade em muitos anos. E Gen gostava dele de verdade, como uma espécie de irmãozinho. Ao chegar à escola, Gênesis respirou fundo, tentando ignorar os flashes de memória da noite anterior. Ela não queria que aquilo a definisse. James ao seu lado, era, sem dúvida, o amigo mais leal que ela já teve. Quando ele percebeu a tensão em seu rosto, tentou distrair Gênesis com uma piada sobre um dos professores, e logo as risadas começaram a fluir. A amizade deles parecia se construir com facilidade, como se já se conhecessem há muito tempo.

A fachada da escola era de arquitetura barroca, cujo charme impressionava qualquer olhar. O ar estava impregnado com uma mistura inusitada de odores: baseado, creme para espinhas, desodorante  e o aroma penetrante dos produtos de limpeza. Naquela manhã, o olfato de Gênesis parecia aguçado, captando cada um desses detalhes com uma clareza, de fato, potente. Eles caminharam rapidamente pelo gramado meticulosamente aparado. James acenara com a cabeça para alguns amigos do ano anterior. As cerâmicas do chão estavam tão devidamente polidas que podia -se ver seu próprio reflexo,  e as portas de cada sala eram talhadas em carvalho antigo, robusto e resistente ao tempo. As salas de aula, mais parecidas com auditórios, contavam com cadeiras acolchoadas que pareciam convidar os alunos a permanecer ali. Enquanto os olhos de Gen caminhavam pela sala da escola Gênesis, ela reparou em um grupo de garotas falando com muita empolgação sobre o teste para escolher novas jogadoras para o time de futebol. A audição de Gênesis também estava apurada.

A Garota Que Falava Com LobosOnde histórias criam vida. Descubra agora