Antes que houvesse amor no coração dos mortais, antes que a maldade nascesse no espírito humano, a dor já estava aqui. Dentro de você todo. Crescendo e acendendo, como um fósforo em um quarto escuro. Não há como escapar da dor; você é tudo o que ela tem também. Ou não.
Gênesis não era tão inteligente, mas estava nos planos dela não morrer naquela noite. Ela escutou sua pulsação cardíaca em uma máquina ao lado da sua cama hospitalar, então fechou os olhos e orou em gratidão pela dor que sentiu por anos a fio. Agradeceu as suas estrelas cadentes preferidas e a todos os deuses que existiram e que existirão, porque ela estava viva como um milagre. E forte como uma tendência literária. A guerra em mim acabou.
Ela pensou.Antes que houvesse amor no coração dos mortais, antes que a maldade nascesse no espírito humano, a dor já estava aqui. Dentro de você todo. Crescendo e acendendo, como um fósforo em um quarto escuro. Não há como escapar da dor; você é tudo o que ela tem também. Ou não.
Gênesis não era tão inteligente, mas estava nos planos dela não morrer naquela noite. Ela escutou sua pulsação cardíaca em uma máquina ao lado da sua cama hospitalar, então fechou os olhos e orou em gratidão pela dor que sentiu por anos a fio. Agradeceu as suas estrelas cadentes preferidas e a todos os deuses que existiram e que existirão, porque ela estava viva como um milagre. E forte como uma tendência literária. A guerra em mim acabou.
Ela pensou.Gênesis permaneceu imóvel, sentindo o frio metal da cama contra suas costas e o cheiro de esterilização do hospital que a envolvia como um manto invisível. As luzes fracas acima de sua cabeça pareciam quase não querer iluminar aquele momento sombrio. Ela sabia que estava à beira do fim, mas havia algo em sua alma que se recusava a aceitar. Era como se a dor, embora a tivesse consumido por tanto tempo, não fosse mais sua inimiga. Ela a aceitava agora, como uma velha amiga que a ensinara mais do que qualquer outra coisa na vida.
A respiração era lenta e irregular, mas ainda havia vida nela. Cada batida do coração que ecoava através da máquina ao lado de sua cama lhe lembrava que estava, de alguma forma, mais forte do que nunca. Quando fechou os olhos, foi como se o peso de todas as suas escolhas, de todos os momentos que a haviam levado até ali, finalmente caíssem sobre ela. Não havia mais como voltar atrás. A vida, com todas as suas complicações, com seus amores, ódios e arrependimentos, parecia ter se distorcido em algo tão intricado que ela mal conseguia distinguir onde começava a dor e onde terminava a esperança.
Ela pensou no que acabara de acontecer. Lembrou-se da festa de fim de verão, o som das risadas distantes, os corpos se movendo ao ritmo da música, e o momento em que se perdeu na floresta. A escuridão daquele lugar parecia ter se fechado ao seu redor, como se o mundo tivesse se desconectado dela por um instante. Aquele ataque dos lobos... Ela sabia que havia algo ali, algo mais profundo e mais primitivo do que qualquer coisa que ela já tivesse enfrentado.
"Isso é o que acontece quando você tenta correr do seu passado", pensou, suas mãos apertando os lençóis como se tentassem ancorar sua alma que flutuava em algum lugar entre o real e o irreal.
Damian havia aparecido, como sempre, na hora certa, embora ele não fosse o tipo de homem em que ela sempre confiaria. Ele era o tio que tentava proteger, mas que, ao mesmo tempo, se esquivava das próprias verdades que precisava encarar. Como ela também o entendia! Eles estavam, ambos, presos em um labirinto de segredos e decisões erradas, tentando salvar uns aos outros sem sequer saber como se salvar a si mesmos.
"Eu não sou um salvador", disse a si mesma em pensamento, sorrindo com tristeza. Ela não tinha ilusões sobre quem realmente era. Não era uma heroína, não estava aqui para resgatar ninguém. A luta era pessoal. Não se tratava de salvar Damian, ou Viktor, ou mesmo o mundo. Era sobre entender quem ela realmente era, para, então, finalmente se permitir ser o que sempre deveria ter sido.
Lá fora, as estrelas começavam a aparecer no céu, pequenas e distantes, como fragmentos de histórias não contadas. Ela as observou por um momento, sentindo que algo se conectava dentro dela. Talvez fosse o destino, talvez fosse apenas a dor, mas tudo o que ela sabia era que estava diante de um precipício, e que essa dor, que parecia nunca ter fim, finalmente estava começando a se transformar em algo diferente.
Quando a porta do quarto se abriu lentamente, Gênesis não se assustou. Ela sabia quem seria. O som dos passos que se aproximavam foi suficiente para acalmar sua mente, que agora estava cheia de pensamentos confusos e dispersos.
"Você está acordada", disse Damian, sua voz grave e baixa, carregada de uma preocupação que não se parecia com ele.
Gênesis sorriu levemente, seus olhos ainda pesados de sono, mas sua mente clara como nunca antes.
"Não vou morrer esta noite", respondeu com uma firmeza que ela não sabia de onde vinha.
Damian ficou em silêncio por um momento, observando-a como se tentasse decifrar o que havia mudado nela. Como se visse alguém que ele não reconhecia mais, e talvez fosse verdade. Gênesis sabia que ele não compreendia. Ele ainda a via como a criança frágil que precisaria de proteção, mas ela não era mais essa menina. Ela havia enfrentado a dor, a perda e a solidão de uma forma que ele nunca entenderia.
"Você me lembra alguém", ele disse, finalmente, sua voz mais suave agora. "Alguém que nunca desistiu. Não importa o quanto a vida a derrubasse, ela sempre se levantava."
Gênesis olhou para ele, seus olhos fixos nos dele. Aquelas palavras a atingiram de uma maneira que ela não soubera como responder. A verdade estava ali, bem na frente dela. Ela era essa pessoa. Ela sempre havia sido essa pessoa, mas precisara de tanto tempo para perceber isso.
"Eu não vou desistir", ela murmurou, mais para si mesma do que para Damian. "Mas o que quer que tenha acontecido naquela floresta... eu não sei. Eu não posso enfrentar isso sozinha."
Damian não respondeu imediatamente. Ele parecia perdido em seus próprios pensamentos, talvez refletindo sobre o que ela dissera ou lembrando-se de algo que ele preferiria esquecer. Gênesis fechou os olhos novamente, sentindo a pulsação do seu coração, mais forte agora. A dor ainda estava lá, mas era diferente. Não era mais a inimiga. Era a força que a sustentava, como uma promessa silenciosa de que ela ainda tinha algo a fazer. Algo a ser, algo a conquistar.
Ele se aproximou dela, colocando uma mão suave sobre sua cabeça, e ela sentiu um calor que a acalmou momentaneamente. Mas, ao mesmo tempo, uma sensação de que nada mais seria fácil. Ela sabia que, por mais que tivesse sobrevivido àquela noite, a guerra dentro dela estava longe de terminar.
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A Garota Que Falava Com Lobos
Manusia SerigalaRebelde e problemática, Gênesis Black é uma adolescente que tenta superar uma grande tragédia familiar. Depois do incidente ela passa a morar na mansão gótica de seu misterioso tio, Damian, um homem rico que é assombrado por um passado trágico e mis...