A IGREJA EM DNIPRO E O TRABALHO COM AS CRIANÇAS

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Depoimento de Jeniffer, esposa do pastor Francisco Baiadori

Chegamos em Dnipro e ficamos surpresos com a movimentação da cidade. Havia muito mais pessoas nas ruas do que antes, tudo estava aberto e funcionando, e as pessoas seguiam sua rotina normalmente. Era verão, e avistávamos crianças brincando nos parques, um cenário completamente diferente do que havíamos encontrado durante nossa viagem.

Ao chegarmos em casa, apesar de tudo, sentimos uma alegria imensa por estarmos de volta e por ver que Deus havia protegido a nossa igreja e nosso lar. Israel parecia ter esquecido tudo o que tinha presenciado no caminho, tão feliz estava por estar em casa novamente.

Aparentemente, nada havia mudado na cidade, mas a verdade era que tudo estava diferente. Fui ao mercado e enfrentei dificuldades para encontrar carne, legumes e frutas. Os preços haviam triplicado, e havia limites na quantidade de alimentos que podíamos comprar. O sal, além de caro, estava em falta; lembro-me das filas enormes de pessoas segurando pacotes de sal nas mãos, pois ele desaparecia rapidamente das prateleiras. Precisávamos ficar atentos para saber quando o sal chegava aos mercados.

Outra escassez nos supermercados era o suco de uva que usávamos para a Santa Ceia. Nessa época, eu mesma preparava o suco com as uvas, mas também era difícil encontrá-las. No entanto, Deus sempre providenciava: membros da igreja traziam uvas de suas plantações.

A rotina da igreja passou por uma transformação total. Dnipro não estava sendo alvo de ataques, então muitas pessoas das cidades vizinhas, que haviam sido invadidas e atacadas, buscaram refúgio ali. Muitas empresas também se mudaram para a cidade.

Dnipro se tornou um grande celeiro de almas e estávamos cientes de que não podíamos perder tempo nem nos distrair. Embora à primeira vista tudo parecesse tranquilo, sabíamos que uma grande batalha espiritual estava acontecendo ao nosso redor.

A sede da igreja principal em Kiev nos enviou a primeira remessa de alimentos, dando início a um trabalho social que se mostraria essencial para muitas pessoas que haviam perdido tudo. Começamos a evangelizar, e a notícia se espalhou de tal forma que o telefone da igreja não parava de tocar. Havia uma grande demanda por ajuda em diversos aspectos, e recebíamos tantas pessoas que mal conseguíamos dar conta. A igreja local, com capacidade para apenas 80 pessoas sentadas, passou a realizar várias reuniões com os refugiados em horários e dias diferentes, além dos cultos regulares.

Era uma oportunidade única para alcançar essas almas. Elas recebiam a mensagem da Palavra de Deus, orações e, ao final, uma sacola com alimentos. Nossa comunidade acolhia pessoas de todas as classes sociais. Lembro-me de uma senhora com formação superior e uma vida estabilizada que, num instante, perdeu tudo, inclusive familiares. Ela chegou à igreja por meio do trabalho social, sem perspectivas e lutando contra a insônia.

Após a reunião, ela se sentiu diferente. Nunca havia escutado palavras como aquelas e ficou curiosa para saber mais. Começou a participar das reuniões aos finais de semana, entregou sua vida ao Senhor Jesus, foi batizada nas águas e encontrou a paz que lhe faltava mesmo antes da guerra.

A guerra nivelou todos os indivíduos; não havia mais classe alta, média ou baixa. A luta pela sobrevivência diária atingia a todos igualmente. Recebíamos pessoas repletas de mágoa, ansiedade, insônia, medo, ódio, depressão e até mesmo pensamentos suicidas.

Um caso marcante foi o de uma jovem mãe que veio até nós com seu filho de sete anos por meio do trabalho social. Era um domingo às 15h quando a conheci pela primeira vez. Não consigo esquecer daquele dia; ela chorou durante toda a reunião. Isso se repetiu por quase um mês. Era necessário levá-la para um lugar reservado algumas vezes, para que pudesse se acalmar.

Ela era mãe solteira, desempregada e enfrentava muitos problemas familiares além de guardar mágoas da própria mãe. Essa combinação levou-a à depressão. Sozinha e sem esperanças, encontrou acolhimento na igreja e gradualmente teve seu interior transformado pela Palavra de Deus. Três meses depois, ela já não chorava mais; estava livre da depressão, foi batizada nas águas e conseguiu um emprego. O perdão à sua mãe mudou completamente a dinâmica familiar.

Enquanto ela participava das reuniões, seu filho ficava na EBI (Escola Bíblica Infantil). Antes muito nervoso e desobediente, ele também começou a mudar seu comportamento ao receber cuidado e ensinamentos adequados.

As crianças foram profundamente impactadas pela guerra. Recebíamos pequenos com medo, insônia, mágoa e desconfiança; algumas tinham perdido tudo o que tinham. Outras sofreram traumas inimagináveis ao ver pessoas serem mortas ou ao passarem dias em abrigos sem comida ou água devido ao conflito constante.

Fazíamos o possível para proporcionar o melhor para aquelas crianças. Organizamos festas para elas e ensinamos a Palavra de Deus de maneira atrativa; também as incentivamos a orar em casa quando sentissem medo e conversávamos muito com elas. Aqueles pequenos precisavam de amor e carinho neste momento tão difícil; mais do que isso, precisavam conhecer o amor do Senhor Jesus – o único capaz de curar as feridas profundas em suas almas.

Nós, adultos, geralmente sabemos expressar nossos sentimentos; porém as crianças não têm essa facilidade. É preciso muita paciência, dedicação e a direção do Espírito Santo para ajudar uma criança que carrega dentro de si tantos traumas.

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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