Apesar da guerra se espalhar por várias cidades da Ucrânia, eu hesitava em deixar tudo para trás. Pensava na igreja, nas pessoas que amava, na escola do Israel… Minha mente era um turbilhão de pensamentos, e um choro preso na garganta me consumia.
A cidade onde estávamos fervilhava de atividade: filas intermináveis nas farmácias, mercados, postos de gasolina e caixas eletrônicos. O desespero era palpável. O aeroporto havia sido bombardeado, as estações de trem estavam fechadas; nossa única opção era sair de carro.
O meu maior temor era proteger meu filho. Como resguardar uma criança de 7 anos em meio àquele caos? Por dentro, estava angustiada, mas tentava manter a calma para não transmitir meu desespero ao Israel. Orei pedindo a Deus que nos guiasse e partimos de Dnipro em direção a Lviv, a cidade mais próxima da fronteira com a Polônia.
Além do clima tenso, havia muitos soldados nas ruas, cães farejadores, barricadas e tanques de guerra. Era como um filme de ação, mas tudo aquilo era real. Durante nossa longa jornada, fomos parados inúmeras vezes pelo exército. As primeiras abordagens eram especialmente tensas: soldados revistando nosso carro com cães ao lado e um fuzil sempre apontado para nós, enquanto outros faziam perguntas incessantes.
Meu coração disparava ao pensar no meu filho. Eu não queria que o Israel ficasse assustado ou traumatizado por tudo aquilo. Numa das situações mais angustiantes, olhei para trás com receio do que encontraria e, para minha surpresa, o Israel estava dormindo tranquilamente. E assim foi em quase todas as abordagens.
Francisco, meu marido, estava exausto. Não dormíamos há dias, mas o que mais me doía era ver meu filho sem comer direito, com frio intenso e os lábios feridos pela baixa temperatura. Isso partia meu coração em mil pedaços. Às vezes, a vontade de chorar era avassaladora.
Os pensamentos que pairavam no ar eram de que, a qualquer momento, um tanque de guerra poderia aparecer ou um míssil cair sobre nós, trazendo o fim. Eu só conseguia pensar: “Senhor, entrego nossas vidas em Suas mãos”. E Deus nos guardou em todos os momentos, mesmo quando não conseguíamos entender.Houve uma situação em que nosso carro apresentou um problema e precisávamos encontrar um mecânico para nos ajudar. Era mais um atraso numa viagem que parecia interminável. No entanto, depois soubemos de uma explosão que ocorreu mais à frente, exatamente no momento em que passaríamos por aquele local. Se não fosse pelo problema no carro, certamente teríamos sido atingidos.
Ao longo da vida, todos nós já passamos por experiências de livramento do perigo; mas naquele dia específico, foi a prova mais concreta de que Deus cuida dos Seus filhos com uma perfeição incrível! A sensação de alívio e segurança que senti, pela Sua soberania tão real, foi extraordinária e difícil de descrever.
Em meio a tudo isso, também tínhamos que acalmar nossa família no Brasil, que estava desesperada com as notícias. Minha mãe enviava áudios aos prantos, pedindo constantemente para voltarmos ao nosso país. Por isso, comecei a fazer vídeos durante a viagem na tentativa de tranquilizá-los.
As noites eram os momentos mais difíceis. Mas quando o dia amanhecia e os primeiros raios de sol começavam a iluminar aquela escuridão, Deus falava comigo e me fortalecia. Por isso, posso afirmar que mesmo diante daquele cenário de guerra, quando o medo tentava se instalar, o Espírito Santo vinha e nos preenchia com paz.
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NUMA MISSÃO
Romanzi rosa / ChickLitSó quem está numa missão sabe o que é ter na alma a força de um desígnio maior, onde cada passo é conduzido pela convicção de que cada desafio tem de ser superado.