Depoimento de Edjane, esposa do pastor Diógenes Santos
Antes de qualquer guerra, surgem os rumores. Já se falava sobre uma possível investida contra a Ucrânia, mas, na verdade, ninguém acreditava que algo tão terrível pudesse acontecer até que, um dia, a realidade nos surpreende.
Eu não estava preparada. Apesar de termos um plano para emergências, a verdade era que a situação se desenrolou de uma maneira totalmente diferente do que imaginávamos. Não fazia ideia do que estava por vir. Era madrugada quando acordamos, assustados pelo toque do telefone. Do outro lado da linha, o bispo Tiago dizia:
— Começou a guerra!
Olhei pela janela e vi as pessoas correndo apressadas para deixar o prédio com suas malas. Meu marido saiu para abastecer o carro enquanto eu tentava arrumar nossas coisas para a viagem. Mas o que levar? Quantos dias ficaríamos fora? Tudo precisava ser feito rapidamente, e eu me sentia paralisada. Consegui colocar o essencial em duas malas, peguei um casaco de outono (mesmo sendo inverno) e partimos: meu marido, nosso cãozinho e eu.
O objetivo era chegar à fronteira com a Polônia, a cerca de mil quilômetros de distância. As estradas estavam congestionadas; todo mundo parecia estar indo na mesma direção. Foi então que começamos a entender a dimensão do que estávamos prestes a enfrentar. Precisamos sair da estrada principal e buscar rotas alternativas para escapar das longas filas de carros. Enquanto dirigíamos, uma enxurrada de pensamentos invadiu minha mente: “E se uma bomba cair aqui?”; “E se nos perdermos nessas estradas escuras?” Foram dias intermináveis e exaustivos.
Após quase quatro dias de viagem, finalmente nos aproximamos da fronteira. No entanto, os portões estavam fechados para carros, e tivemos que deixar o veículo e seguir a pé. Eu estava cansada, com frio e sem dormir há tanto tempo! A mente estava turva, como se estivéssemos vivendo um pesadelo ou um filme de terror. Caminhamos por horas e, como não tinha trazido a coleira do Theo, nosso cãozinho, precisei carregá-lo no colo. Chegamos perto do portão, mas havia um grande tumulto. A passagem para pedestres foi fechada devido à agitação das pessoas que começaram a escalar o alto muro para atravessar para o lado polonês.
Aquelas cenas eram de desespero, com os gritos das pessoas que caíam aflitas e feridas ecoando do outro lado. Em meio ao caos, quase fui pisoteada. Eu tentava proteger o Theo, que estava no meu colo, enquanto o Diógenes fazia o possível para me resguardar. Mesmo assim, acabei machucada, com hematomas nas pernas que levaram semanas para desaparecer. Decidimos sair dali antes que algo pior acontecesse.
Imploramos a motoristas de vários ônibus para nos deixarem entrar e ficarmos no corredor, assim poderíamos atravessar a fronteira. Porém, nenhum deles permitiu. Depois de muito tempo e várias tentativas, conseguimos finalmente entrar em um ônibus e nos deitar no corredor. Apesar de sermos considerados um incômodo pelos outros passageiros, pensávamos que estávamos a salvo. Mas todo o nosso esforço parecia em vão quando a passagem para os ônibus foi fechada.
Era domingo de manhã. Deveríamos estar na igreja naquele momento — essa era a minha constante preocupação — mas estávamos ali, maltratados no chão de um ônibus, esgotados física e emocionalmente. Foi o momento mais doloroso para mim! Desejava estar na igreja, queria sair daquela situação, mas não sabia como...
Em lágrimas, clamei a Deus por ajuda. O gemido vinha da minha alma, pois não conseguia nem falar naquele estado. Mas Ele me ouviu e me socorreu. Nesse instante, uma paz invadiu meu ser e uma força que não eram minhas me renovaram. Recobrei ânimo como se tivesse descansado por dias; minha alma foi restaurada. Essa oração não foi feita em voz alta nem em uma posição específica, mas teve um efeito tão poderoso que me levantei completamente diferente.
Depois disso, surgiu a ideia de atravessar todo o pátio dos guichês de controle até alcançar o outro lado novamente. Vimos uma pequena fila se formando do outro lado. Já havíamos tentado de tudo antes, mas o Espírito Santo insistiu para que retornássemos àquele primeiro ponto. Fomos até lá e entramos na fila. E finalmente conseguimos passar para a Polônia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
NUMA MISSÃO
Romanzi rosa / ChickLitSó quem está numa missão sabe o que é ter na alma a força de um desígnio maior, onde cada passo é conduzido pela convicção de que cada desafio tem de ser superado.