Observo as luzes no céu estrelado e suspiro. Estou deitada no chão do terraço da balada, ao lado de Billie, em silêncio. Ela me trouxe até aqui sem dizer uma palavra, parecia pensativa, mas queria minha presença.
As estrelas formam desenhos no céu, e eu sorrio ao percebê-los. O silêncio entre nós é interrompido apenas pelo som abafado da festa lá embaixo, um eco distante que parece parte do cenário, mas não nos alcança por completo.
-Meus pais morreram quando eu tinha acabado de fazer quinze anos... – a voz dela rompe o silêncio de repente, e a frase me pega de surpresa.
Viro o rosto, buscando entender o que se passa. Billie está tensa, o peito subindo e descendo em um ritmo acelerado, o olhar perdido, como se estivesse longe, presa em lembranças que só ela enxerga.
— Você não precisa falar, Billie — afirmo, mas ela apenas balança a cabeça em negativa.
— Foi um acidente de carro. Eles estavam indo me ver em uma apresentação de Natal na escola. Quando estavam na rodovia, um caminhão desgovernado bateu neles, jogando-os para fora da pista. —sua voz sai pesada, carregada de um peso que me deixa angustiada -Minha mãe e Finneas, meu irmão mais velho, sobreviveram à batida, mas estavam gravemente feridos. Acabaram não resistindo antes mesmo de chegarem ao hospital. Meu pai... morreu na hora.
Vejo os olhos dela brilharem e as lágrimas começarem a surgir, transformando a Billie que eu conhecia — a garota da escola, aquela que me salvou — em alguém completamente diferente. Ali, diante de mim, ela parecia frágil, quase quebrável, vulnerável.
Num impulso, aproximo-me mais e coloco a mão em seu rosto, guiando seu olhar para mim.
— Desde então, eu precisei me virar sozinha. Nunca mais consegui me livrar do medo de me apegar a alguém e depois perder. —ela sussurra, com a voz embargada, passando a mão pelo rosto para limpar as lágrimas que ameaçam cair. —Como posso acreditar que alguém é bom, se ele deixou a vida me ferir tão profundamente, sem qualquer motivo?
Fico em silêncio, apenas acariciando seu rosto, querendo transmitir conforto com meu toque. Por um instante, pergunto-me também por que Deus permitiu que algo assim acontecesse com ela. Ela era tão jovem, precisava da família ao seu lado. Mas Ele os tirou.
— Sinto muito, Billie — sussurro, e ela fecha os olhos— Não consigo imaginar sua dor. Você é muito forte.
É tudo o que consigo dizer. Qualquer coisa além disso me parece insuficiente. Mesmo que eu sinta muito, acho que meu silêncio talvez seja o que ela precisa agora, mais do que qualquer palavra.
— Nunca falei sobre isso com ninguém — ela murmura, colocando a mão sobre a minha. — Nunca consegui dizer em voz alta.
Meu coração acelera com sua confissão. Ela confiou em mim para compartilhar algo tão íntimo, algo que nunca havia contado a ninguém, mesmo nos conhecendo tão pouco. Ela se abriu... confiou.
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Bem Aventuradas
FanfictionAngelina cresceu em um lar cristão, uma vida moldada por princípios e temores religiosos. No fundo, porém, sempre havia algo em sua mente que não se calava: um questionamento silencioso sobre tudo o que lhe diziam, sobre os julgamentos morais que pa...