Assim que o sino do intervalo toca, fecho meu caderno e guardo minhas canetas. Não aguentava mais tantos números misturados com letras. Matemática definitivamente não é o meu forte.
— Você vai comer sozinha? — ouço uma voz ao meu lado e me viro para encarar a garota.
— Sim, vou — respondo.
— Não vai mais, vou com você — diz, já se levantando. — Vem, vamos! — ela aponta com a cabeça, me incentivando a fazer o mesmo.
Sem muita escolha e um pouco desconfortável com sua presença, me levanto e a sigo até a saída da sala. Em um movimento rápido, a garota pega minha mão e me puxa, como se já fosse natural para ela.
Ao chegarmos ao refeitório, caminhamos até a fila da cantina. Só então ela solta minha mão.
— Você não tem amigos? — pergunta sem rodeios. — Até agora, não vi você falar com ninguém.
— Não falo com as pessoas daqui — respondo, sem esconder o incômodo. — Por que resolveu falar comigo? Não pareço ser o tipo de pessoa com quem você gostaria de conversar.
— E não é — ela admite, com sinceridade. — Mas quando cheguei e vi você sozinha, algo em você me chamou atenção. Diferente dos outros. Todos aqui parecem esnobes, e eu odeio esse tipo de gente.
Inna é, sem dúvida, a garota mais diferente que já conheci. E não é só pelo estilo, mas pela personalidade. Ela é forte, decidida, sem medo de ser quem é. E, embora eu normalmente rejeite qualquer tipo de rebeldia, não consigo evitar a vontade de ser um pouco como ela. Ou ao menos ter a ousadia de falar o que pensa, como fez comigo agora.
— Me diz uma coisa — ela chama minha atenção de volta. — Por que você não fala com ninguém? Você é veterana, já deveria conhecer o pessoal.
— Minha mãe tem regras sobre isso — dou de ombros, desviando o olhar. — Ela escolhe minhas amizades.
Chegamos a uma mesa vazia, e Inna coloca sua bandeja sobre a madeira, me encarando com uma sobrancelha arqueada.
— Como assim, "regras da sua mãe"? Ela escolhe suas amizades?
— Mais ou menos. Ela só quer que eu ande com pessoas que sejam boas para mim — explico, tentando evitar o assunto enquanto começo a comer.
Não gosto de falar sobre o controle que minha mãe exerce sobre mim. É um assunto delicado, e tenho medo de ser vista como infantil. Eu poderia desobedecer, claro, mas as consequências seriam grandes demais para suportar.
— Caramba — Inna solta uma risada curta. — Então se ela me ver com você, ela surta, né?
Eu apenas abaixo a cabeça. Ela provavelmente está certa.
— Pelo que percebi, você é toda certinha e perfeitinha — comenta, me analisando.
— Eu não sou perfeita — murmuro.
— Ah, não? Então me diz uma coisa errada que você já fez.
Ela cruza os braços e me olha, desafiadora. Eu fico em silêncio, sem saber o que responder. Mentir que comi toda a refeição? Esconder uma gata no quarto? Pegar livros de romance proibidos? Se isso conta, então esses são meus "erros". Mas nada que impressionaria Inna.
— Estou esperando.
— Eu não sei — suspiro.
— Você não faz nada de errado — ela ri baixo. — Aposto que nem palavrão você fala.
— Não xingo, é errado — digo, sem jeito.
— Exatamente como eu imaginei — ela sorri de lado. — Você é inocente mesmo. Mas não se preocupe, vou te mostrar o lado bom da vida.
— Lado bom? — franzo o cenho. — Que lado?
— O lado errado — ela responde, se levantando da mesa com um sorriso travesso e saindo do refeitório.
As palavras dela ficam ecoando na minha mente. Um arrepio percorre minha espinha só de pensar em como minha mãe reagiria se soubesse que estou andando com alguém como Inna, que quer me mostrar o "lado errado" da vida. Mesmo assim, decido não contar nada para minha mãe. Posso manter meu autocontrole. Não vou me deixar influenciar.
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O final da aula finalmente chega, e eu guardo meu material no armário, aliviada. Com a mochila nas costas, começo a caminhar em direção à saída, sozinha, como sempre. Inna desapareceu após a quarta aula. Eu não me incomodei — minha mãe me busca na escola, e se ela visse Inna, não iria gostar nem um pouco.
Ao atravessar o portão da escola, vejo o carro da minha mãe do outro lado da rua. Mas algo me faz parar antes de atravessar. Alguns metros à frente, encostada em uma moto preta, está uma garota que nunca vi antes. Sua calça jeans rasgada, jaqueta de couro gasta e botas pretas dão a ela uma aparência marcante. Mas é o cabelo azul, vibrante contra sua pele pálida, que mais chama atenção.
Fico encarando-a, intrigada. Ela mantém os olhos presos no celular, alheia a tudo ao seu redor. Até que, de repente, ela ergue o olhar e nossos olhos se encontram. Os dela, de um azul profundo, me analisam de cima a baixo. Sua expressão é neutra, mas o olhar é intenso. Intimidada, desvio rapidamente o olhar e apresso o passo em direção ao carro, meu coração acelerado.
Entro no carro com as mãos trêmulas e me encosto no banco, tentando acalmar minha respiração.
— Você está bem? — minha mãe pergunta, preocupada.
— Estou — minto. — Só um mal-estar.
Ela assente e liga o carro. Enquanto saímos, ela murmura:
— Que Deus tenha misericórdia dessas almas. Essa geração está perdida.
Não preciso olhar para saber de quem ela está falando. Aposto que foi a garota de cabelo azul. Minha mãe sempre tem algo a dizer sobre quem parece "diferente". O carro fica em silêncio, mas minha mente não. O olhar daquela garota ficou gravado em mim, me fazendo questionar por que me senti tão nervosa, tão estranhamente curiosa.
Eu nunca senti isso antes. E, por mais que tente ignorar, não consigo esquecer.
O que está acontecendo comigo?
Vocês estão gostando?
Deixem qualquer sugestão nos comentários.
Até o próximo!
xoxo💗
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Bem Aventuradas
FanficAngelina cresceu em um lar cristão, uma vida moldada por princípios e temores religiosos. No fundo, porém, sempre havia algo em sua mente que não se calava: um questionamento silencioso sobre tudo o que lhe diziam, sobre os julgamentos morais que pa...