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No capítulo anterior...

A igreja estava cheia, como de costume em dias de missa, mas naquela manhã o ambiente parecia carregado de uma tensão diferente, algo mais denso, que se agarrava às paredes e sussurrava nos ouvidos dos fiéis. O calor era sufocante, mas não era apenas o clima. Cada olhar se voltava com curiosidade e julgamento quando Rosemary cruzou o limiar da entrada.

Ela era uma visão inesperada, com um vestido preto justo que delineava suas curvas de forma provocante, uma provocação ao puritanismo do local. Os saltos faziam um som ecoar pelo piso de mármore, e a aba larga de seu chapéu escondia parte de seu rosto, deixando apenas um vislumbre dos lábios pintados de vermelho. Um murmúrio correu entre os bancos como uma onda. Os fiéis cochichavam, alguns escandalizados, outros curiosos, e alguns, que não admitiriam, fascinados.

Atualmente...

Rafael sentiu o coração bater forte. Lembra dela, do jeito dela com ele, mas nunca assim, tão próxima, tão intencional em seu desafio. Quando seus olhares se encontraram, ele sentiu o ar faltar nos pulmões. Ela estava diferente — a doçura havia se transformado em algo mais sombrio, e os olhos, que um dia buscaram abrigo, agora gritavam desafio. Ele prendeu a respiração, incapaz de ignorar o frio que descia por sua coluna.

— Rose? — Ele sussurrou, quase inaudível.

— Mary, por favor... — Ela respondeu, com um tom que fazia seu nome parecer uma declaração de independência. Rafael observou cada detalhe dela, as mudanças que um ano distante havia trazido. Ela era uma mulher agora, forte, moldada pela dor e pelo fogo.

O burburinho se intensificou, mas entre eles, o mundo parecia ter parado. Rafael limpou a testa, sentindo o suor se formar. Não era só o calor; era a presença dela, a memória viva do pecado e da redenção que ele nunca alcançou.

— Senhorita Mary — disse ele com um tom de autoridade que só os anos de sacerdócio lhe ensinaram —, acredito que trouxe importunação à igreja e aos fiéis... preciso que se retire.

Rosemary deu um sorriso amargo, se levantando. Ela deu um passo à frente, desafiadora, até que ficou a poucos centímetros de distância dele. Seus olhos encararam os dele com uma intensidade que o fez estremecer.

— Me retirar? — Ela elevou a voz apenas o suficiente para ser ouvida por aqueles mais próximos. — Eu sou uma fiel, como qualquer outra aqui. Sou cidadã e tenho direitos.

O silêncio na igreja foi interrompido pela voz estridente de Marinez, uma senhora conhecida por sua língua afiada e juízos rápidos: — Puta não tem lar na igreja!

Rosemary virou o rosto para a velha com um olhar que poderia perfurar vidro. Seus lábios se curvaram num sorriso cínico, uma reação que ninguém esperava ver numa igreja, muito menos naquela situação.

Rafael sentiu o sangue ferver, mas não era só de raiva. Havia algo mais profundo, algo que ele não conseguia controlar. Ele deu um passo em direção a ela, sua respiração pesada.

— Se retire, Rosemary! — A voz dele ecoou pelas paredes da igreja, forte e ríspida. Por um instante, o olhar de Rosemary titubeou, mas apenas por um segundo. Ela se virou sem mais uma palavra e caminhou em direção à saída, os saltos estalando contra o chão, ecoando sua despedida.

Rafael sentiu um vazio crescente, como se tivesse rompido algo que jamais poderia ser restaurado. Quando a porta se fechou atrás dela, ele ouviu a voz satisfeita de Marinez: — Muito bem, Padre Rafael. Colocou a meretriz para correr.

Ele voltou os olhos para a mulher, o rosto endurecido e os olhos ardendo de uma raiva contida. — Mais respeito! — Sua voz, baixa e mortal, fez a senhora recuar. — Se quer respeito, tem que dar, senhora.

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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