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Rose andava de um lado para o outro em seu quarto, o olhar percorrendo as roupas que pendiam do guarda-roupa, tentando decidir qual delas provocaria a reação desejada. Hoje não seria apenas mais uma reunião entre as famílias ou uma simples visita à igreja — hoje, ela queria ser notada, não só por Thomas, mas por todos. Depois de alguns minutos de indecisão, seus olhos recaíram sobre um vestido vermelho, justo e delicado, com alças finas que desciam pelos ombros como um toque de desafio. A textura suave do tecido contrastava com o peso das intenções que ela colocava em cada detalhe da produção.

Com um sorriso que escondia um misto de nervosismo e audácia, Rose passou o batom vermelho nos lábios, observando-se no espelho. Cada movimento do aplicador deixava o tom mais vibrante, o vermelho mais marcante. Terminou o gesto e sorriu de leve, um sorriso enigmático, quase provocativo. Aquela não era mais a jovem Rosemary submissa que todos esperavam ver; era uma mulher que finalmente assumia o controle, alguém que ansiava por algo além dos limites impostos por sua família ou pelo próprio Thomas.

Assim que ouviu a voz dele ecoando na sala de estar, Rose pegou os sapatos de salto e ajustou a bolsa, sentindo o coração acelerar. Inspirou fundo, ajeitou uma mecha solta de cabelo e começou a descer as escadas com um andar calculadamente lento, sabendo que cada passo criaria o impacto necessário.

Ao pisar no último degrau, sentiu os olhares sobre si. O pai de Thomas, surpreso e nitidamente impressionado, lançou-lhe um olhar que continha mais do que aprovação, quase uma admiração escancarada. Thomas, por sua vez, endureceu, os olhos faiscando de raiva. Sua mãe cobriu a boca, claramente espantada, como se a visão de Rose daquela forma fosse um insulto direto aos valores da família. E, ao fundo, seu próprio pai suspirou profundamente, esfregando a testa em um gesto que parecia prenunciar problemas.

— Rose, minha querida... — começou a mãe de Thomas, a voz trêmula.

Rose, no entanto, ignorou as reações e, com um sorriso confiante, abraçou os sogros, parando ao lado de Thomas e dando-lhe um beijo no rosto — um gesto que, sob o olhar atento de todos, soava quase como um desafio. Ele permaneceu rígido, os músculos do rosto tensos, mas não retribuiu.

— Pronta para irmos? — perguntou ela com uma voz suave, com um toque de inocência que só intensificava a provocação.

— Sim — respondeu Thomas com os dentes cerrados, desviando o olhar.

No caminho até a igreja, Rose entrelaçou o braço no do pai de Thomas, o senhor Richardson, que não disfarçava o encanto com a beleza da futura nora. Ele soltava pequenas risadas, lançando-lhe olhares divertidos, parecendo ignorar o desconforto do próprio filho.

— Ah, Rose, se eu tivesse uns anos a menos, você seria minha — ele brincou, piscando para ela, enquanto Rose ria junto, um riso leve que escondia o prazer de ver Thomas ainda mais irritado. Ela mantinha o queixo erguido, o sorriso sempre no rosto, irradiando uma confiança que parecia enervar a todos.

Quando finalmente chegaram à igreja, o ambiente imponente os recebeu com o silêncio solene que Rose costumava encontrar ali. Mas, dessa vez, tudo parecia diferente. Ela avançou ao lado do senhor Richardson, e, ao entrar no santuário, seus olhos cruzaram com os de Padre João, o pároco gentil da igreja. Ele esboçou um sorriso ao vê-la, mas o sorriso desfez-se quando percebeu a ousadia da roupa que ela usava, os olhos arregalando-se em choque.

Perto do altar, o Padre Rafael organizava alguns elementos para o próximo ritual. Ele ergueu o rosto ao ouvir passos e imediatamente parou, os olhos escuros recaindo sobre Rose. Rafael não fazia questão de esconder o olhar avaliativo, observando-a de cima a baixo com uma lentidão que beirava o atrevimento. Ele não desviou o olhar, e um sorriso cínico brotou em seus lábios, um sorriso que fazia questão de mostrar o quanto ele a notava, sem reservas.

Entre a Cruz e o PecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora