I can fix her (No, really I can)

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Esse é, sem dúvidas, o maior estúdio em que eu já estive. Uma equipe enorme, falando num dialeto só deles. O co-diretor é o único rosto familiar que eu tenho aqui. Stephen dirigiu o último trabalho de Jennifer, um romance de época. Me pergunto o que ele pode agregar aqui, mas me lembro da delicadeza de seus detalhes e antes que eu pense demais, ele está conversando com Agatha no canto, tirando risadas dela. Ainda não tinha presenciado essa cena, mas estou certa de que eles tem alguma intimidade. O que me faz cerrar os punhos e me perguntar o que mais há ali. Mas fui salva. Meu celular vibra e é Jennifer em ligação.

-  Querida? Está podendo falar?

-  Sim, mas rápido. Já vai começar a reunião e leitura de roteiro.

-  Quero me desculpar pelo meu sumiço. Sendo honesta com você, quando soube que trabalharia com Agatha Harkness, eu fiquei realmente irritada. A experiência de Alice com ela foi muito frustrante e exaustiva, ainda me lembro de como ela chegava em casa. Por mais que Agatha estivesse num momento difícil, você sabe, ninguém tem nada a ver com essa merda.

-  Tudo bem, eu entendo. Me lembro vagamente de Alice arremessando aqueles dardos com tanta força no alvo da parede, que o dono do bar ameaçou chamar a segurança pra ela. Ela estava realmente estressada. O que você sabe sobre Agatha?

-  Sei que ela é uma filha da puta frustrada. Mas algumas coisas são compreensíveis. Quer dizer, ela perdeu o filho num mal súbito nas férias do garoto, no meio da floresta. Eles estavam no Colorado. Quando ela chegou ao hospital mais próximo com ele, ele não estava lá. Na única entrevista que ela deu sobre isso, disse que a sensação foi que alguém ou algo havia tirado o filho dela, arrancado ele das mãos dela. Achei devastador só de imaginar. O ex marido dela mal apareceu depois disso.

-  Eles já eram divorciados?

-  Sim, se divorciaram quando o garoto ainda usava fraldas. Ninguém soube exatamente o motivo, considerando que ele foi bem presente na vida do garoto.

-  Stephen está aqui, se lembra dele? Sabe o que há entre eles?

-  Sim, me lembro. Por que caralhos você quer saber disso?

-  Nada, só quero saber se ela tem alguém.

-  Eu conheço você. Olha, que Deus te ajude...

-  Jennifer, e se eu puder consertar ela? E se eu puder ajudar?

-  Eu duvido muito que possa. Nem tudo está no seu alcance. Mas sobre Stephen, ele tem um relacionamento de longa data com Clea, uma mulher que eu só vi uma vez, mas tem uma beleza memorável. E sobre Agatha, não sei sobre a vida amorosa dela. Honestamente, só quero que saiba que estou aqui pra você, te desejo sorte nesse trabalho.

-  Eu vou conseguir.

-  Espero que esteja falando do papel.

-  Eu te amo! Até logo.

Desligo o telefone e percebo que Agatha está olhando pra mim do outro lado da sala. Ela aponta o dedo pra mim, aponta pra onde devo me sentar e e se senta na cadeira ao lado. Eu aceito ser guiada por ela. Ao meu redor, estão roteiristas, outros três atores, figurinistas, maquiadores, coordenadores e o roteiro final está sobre a mesa. Stephen, que eu havia perdido de vista, adentra novamente a sala de mãos dadas com um menino. "Pessoal, quero que conheçam nosso Nicholas!". Todos estão maravilhados com essa criança, que estranhamente se parece comigo. Percebo que Agatha não para de balançar a perna por debaixo da mesa. Estou começando a sentir na minha própria pele o peso desse luto. A admiro muito mais agora. O roteiro final é mais denso do que o que eu conhecia, com detalhes mais ricos. Mas a mesma história. A experiência de uma mulher com a maternidade e o trabalho, traumas geracionais e a culpa. Quando ela finalmente separa um tempo de qualidade com seu filho, ela o perde. Não consigo imaginar o quão difícil pra ela deve estar sendo tudo isso, mas me sinto grata por fazer parte.

Depois de passar algumas falar com Steve Rogers, que interpretará o ex marido de Agatha, tiramos algumas dúvidas e Agatha chama atenção de todos sugerindo que tiremos uma pausa. Estou faminta, jamais poderia recusar. Terrível com papelada, sou uma das últimas a deixar o estúdio. Do lado de fora, decido ir em direção à um fast food perto daqui que já conheço por servir um dos melhores sanduíches de roast beef da região. Até que avisto Agatha encostada na parede de concreto, ao lado de seu carro estacionado. A nuvem de fumaça saindo de sua boca faz essa imagem congelar em minha mente. Tento passar direto, mas sou surpreendida.

-  Ei, Vidal. Pra onde vai?

-  Vou comprar um sanduíche, aceita alguma coisa?

-  Não, obrigada. Estou bem. E ansiosa para me ver em você.

Não é possível que eu vá conseguir tirar alguma conotação sexual disso. Tarde demais. Eu consegui sim.

-  Eu também, Harkness.

Não imaginava que as horas passariam tão rápido hoje. Explorei alguns cenários, tirei algumas medidas. A figurinista é uma das pessoas mais inconvenientes que já conheci na vida. Mas nada nesse dia inteiro me marcou mais do que sentir Agatha olhando pra mim enquanto estávamos ensaiando as primeiras cenas. Não me permiti estudar tanto os trejeitos e a postura dela, mas essa é a minha tarefa de amanhã. Estou no meu apartamento comendo uma salada de tudo que tinha na geladeira enquanto me lembro de suas expressões. É mais que necessário para entrar no personagem. É mais que suficiente para querer estar dentro dela. Jennifer estava equivocada. À essa altura, sou eu quem precisa de ajuda.

In My Veins (Fanfic Agathario)Onde histórias criam vida. Descubra agora