Guilty as sin?

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Sei que vamos perder a hora, mas estou sentada do lado da cama vendo essa mulher dormir. Parece tudo real agora. Mesmo que eu ainda não saiba como chamar o que estou sentindo, a sensação é divina. Será que tudo isso é real, ou só aconteceu na minha mente? Antes que eu pense que estou louca, minha camisa vintage nela me lembra da noite passada. Estou com o cheiro dela em mim e seu nome gravado na minha pele em cada parte que recebeu seu toque. Por um momento, quero que ela escreva "minha" na mesma perna que ela observa desde o nosso primeiro encontro. Todo o tempo em que me mantive em uma jaula foi confortável por um tempo, mas tenho sentido Agatha desfazer essas amarras e me desarmar desde que pus os olhos nela.

Ela desperta e sorri pra mim com uma doçura que eu ainda não conhecia dela. Demora a se atentar ao tempo, até olhar o relógio e me pergunta onde fica o banheiro. Aponto na direção da porta e em segundos ela se recompõe de seu sono e some da minha vista. Lembrei do seu gosto por café em altas doses e resolvi tentar umas torradas. Pra minha surpresa, ao sair do banho, ela aceita. Ia dizer que não a tinha visto faminta assim antes, mas lembrei da noite passada. O que me faz corar inevitavelmente.

-  O que te deixou com essa carinha, Vidal?

-  Nada demais. Só alguns flashes.

-  Não posso nem sequer me dar esse luxo hoje, temos muito trabalho a fazer. Obrigada pelo café. E por todo o resto também.

Respondo com um beijo em sua testa e vou ao banheiro terminar de me arrumar. Passamos pela sala olhando para o mesmo lugar ao mesmo tempo, é a cena do crime. Sua taça ainda está no braço do sofá, vazia e com a marca do batom dela. Seu cheiro por todo o lugar. Saio o mais rápido que consigo, acaba de me vir em mente a certeza de que não vou mais me sentar aqui sem lembrar de tudo isso nem tão cedo. Ela dirige sem dar uma palavra, entrou no personagem muito antes de mim. Exceto pela sua mão posicionada na minha coxa, que dessa vez está coberta. Achei que uma calça hoje seria mais seguro.

Não sei como ela se sente em relação às outras pessoas, não conversamos sobre isso. Mas a forma como ela sai andando na minha frente quando descemos do carro já responde algumas coisas. Só não foi o bastante. Wanda, a figurinista, me encara do outro lado desde o momento em que eu fecho a porta do carro de Agatha. Está debruçada sobre seu carro vermelho, como seu cabelo. Sem dizer uma palavra, seus olhos me acompanham até eu entrar no estúdio. Seria ingenuidade demais pensar que ficaria por isso mesmo.

Estamos gravando uma cena delicada, em que Agnes passa por um turbilhão de sensações ao encarar o teste de gravidez positivo. Ela está no auge de sua carreira, com uma artista em ascenção em mãos. O que não foge muito da realidade, na verdade. Pelas minhas contas, foi quando Agatha estava grávida de Nicky que ela dirigiu o romance mais famoso dessa década, é um dos poucos que assisti do início ao fim. É uma prova de resistência toda vez que ela entra no cenário apontando o que devo fazer. Preciso ser profissional, mas ela gesticulando o tempo todo é uma visão e tanto. Percebo no canto do estúdio Wanda e a maquiadora, Kate, cochichando. De repente, a preocupação me cega.

Enquanto eu mantive meus pensamentos e desejos presos à sete chaves dentro de mim, nada disso parecia errado. Então talvez o erro tenha sido transformar isso em ação. Eu não queria pronunciar essas palavras nem dentro da minha cabeça, mas estou apaixonada por Agatha Hakness e não posso fazer nada a não ser querer mais dela. Estou reproduzindo essa cena, mas todo o choro é meu. Assim como Agnes, eu choro com desespero. O que era pra ser um momento bonito pra nós duas, provoca medo, ansiedade e a enorme pressão de lidar com uma segunda pessoa agora e as consequências. Se isso dependesse só de mim, seria mais fácil. Mas também se trata de Agatha, sua vida privada e sua ética enquanto profissional que eu arruinei ontem.

Estou escutando alguns aplausos, a voz de Stephen dizendo "Incrível! Não precisamos repassar nada, você entregou exatamente o que queríamos, Rio" e não consigo reagir a nada. Limpo meu rosto, esboço um sorriso forçado e peço para de ausentar. Ando em direção ao meu camarim, entro aqui sentindo meu mundo desabar inteiro de uma vez. Meu telefone toca, ainda me surpreendo com o quão intuitiva minha mãe pode ser.

In My Veins (Fanfic Agathario)Onde histórias criam vida. Descubra agora