Capítulo 10 - Uma pausa no meio do caos

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POV Rebeca

A sala da Simone estava envolta em uma penumbra incômoda, e eu sentia como se as paredes ao redor fossem se fechando cada vez mais. O silêncio ali parecia amplificar o som da minha própria respiração. Depois de três meses desse jogo macabro, eu já estava cansada de tanto silêncio, de tanto medo, de tanta incerteza.

Simone estava sentada à minha frente, me observando, e por um momento eu pensei que talvez ela pudesse ver tudo o que eu tentava esconder. Aquele peso no meu peito, essa sensação de que eu estava me afogando, de que algo estava preso na minha garganta. Eu respirei fundo antes de começar a falar, baixando o olhar para minhas mãos e tentando juntar coragem.

"Hoje... completam três meses," disse, sentindo minha voz embargada, mas forçando-me a continuar. "Metade do prazo que ele me deu no primeiro bilhete. Ainda estamos tão longe de descobrir quem ele é, Simone. Eu... eu fico me perguntando o que acontece quando os seis meses se esgotarem. Ele vem até mim? Ele me deixa viver, ou será que isso é só parte do jogo dele?"

As palavras saíam como um desabafo. Eu mesma não sabia onde queria chegar, mas precisava dizer isso a alguém. Olhei para Simone, buscando respostas, querendo que ela dissesse algo que me tirasse daquela espiral de medo e dúvida. "E se eu descobrir antes do tempo?" continuei, meu tom mais baixo agora. "Ele simplesmente me mata antes? E se a gente não descobrir, ele aparece? O que ele quer de verdade com isso?"

Eu vi os olhos de Simone escurecerem um pouco, e a expressão no rosto dela me trouxe um estranho conforto. Ela parecia entender. Ela sentia a mesma frustração, o mesmo peso, e algo em mim se acalmava ao ver que ela estava ali — não só como a delegada responsável pelo caso, mas como alguém que se importava de verdade.

"Eu entendo essa frustração, Rebeca," ela começou, a voz dela séria e controlada, mas com uma firmeza que prendeu minha atenção. "Ele quer comandar o ritmo, quer definir quando as coisas começam e terminam, um jogo onde ele é quem dita as regras." Ela respirou fundo, e eu vi como seus ombros pareciam tensos, como se ela também carregasse o peso de cada dia dessa investigação. "E isso me incomoda tanto quanto incomoda você. Mas escuta bem o que vou te dizer agora."

Ela se inclinou um pouco para frente, e a intensidade em seus olhos me deixou quase sem ar. "Eu não vou deixar que ele defina como isso vai acabar. Ele pode pensar que tem o controle, mas isso é só o que ele quer que a gente acredite. Eu vou descobrir quem ele é antes que ele machuque alguém de novo, antes que ele pense que venceu." Ela hesitou por um segundo, então concluiu, com um tom que era quase um sussurro carregado de promessa: "Eu vou fazer de tudo para proteger você. Não vou deixar que ele comande isso."

Senti um arrepio me percorrer com aquelas palavras, e, por um momento, aquele peso que vinha me esmagando parecia ter desaparecido. Era como se o medo tivesse se dissolvido, ao menos por alguns instantes. Eu olhei para ela e, num impulso de confiança, respondi, sem saber ao certo como aquelas palavras saíram tão sinceras:

"Obrigada, Simone. Eu... eu confio em você. Eu sei que você vai fazer tudo que puder."

Houve um silêncio denso entre nós, e, ao me dar conta da intensidade daquele momento, senti meu rosto esquentar. Ela estendeu a mão e tocou a minha de leve, num gesto que significava tanto. Aquele toque dizia mais do que qualquer palavra — e, de repente, eu soube que não estava sozinha.

Por mais aterrorizante que fosse enfrentar aquele prazo incerto, a presença dela fazia tudo parecer menos escuro.

"Eu nunca pensei que fosse sentir tanta dor e tanta solidão... até você aparecer e se tornar a única certeza no meio desse pesadelo." As palavras saíram antes que eu pudesse me conter. Tentei desviar o olhar, mas o rosto de Simone estava tão fixo no meu que acabei permanecendo ali, presa na profundidade de seus olhos. Era como se ela me entendesse completamente, sem precisar de mais nada.

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