Capítulo 05

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Eu terminei o expediente naquela noite com o corpo pesado, como se cada músculo estivesse carregando uma tonelada. A imagem de Bruce defendendo-me com um soco ainda rodava na minha mente, fazendo um turbilhão de emoções girar dentro de mim: surpresa, confusão, e, mais forte que tudo, uma raiva contida que eu não sabia de onde vinha. Aquele homem havia me defendido, sim, mas isso não apagava as humilhações anteriores. Ainda assim, era impossível ignorar que, por um segundo, ele fez com que eu me sentisse protegida — uma sensação da qual eu sentia falta, mas que ele mesmo nunca soube, ou sequer parecia se importar em saber.

Assim que cheguei em casa, me joguei na cama, esgotada. A noite prometia ser longa e cheia de pensamentos inacabados.

No dia seguinte, minha folga, acordei cedo, um pouco perdida e ainda com a mente perturbada. Lembrando-me da recomendação de Suzana, decidi ir até a feira local. Ela falava tanto sobre os produtos frescos e os preços acessíveis que acabei me convencendo de que seria uma boa distração.

Ao chegar, fui tomada pela energia daquele lugar: barracas coloridas e uma mistura inebriante de cheiros — frutas, ervas, e assados frescos que faziam qualquer um querer provar de tudo. As vozes dos feirantes misturavam-se aos risos das crianças que corriam entre as barracas, e, por um instante, esqueci completamente da tensão dos últimos dias. Peguei uma cesta de vime emprestada na entrada e comecei minha busca, sentindo-me uma local explorando o que aquela feira podia me oferecer.

Andava despretensiosamente, admirando os produtos, quando uma voz grave e familiar cortou o som das barracas.

— Tomates por dois reais o quilo, sem agrotóxicos e direto da fazenda!

Senti o corpo congelar, e meu olhar buscou automaticamente a origem daquela voz. Lá estava ele, entre as barracas, com uma postura confiante e observando os clientes. Bruce Gutiérrez, de todas as pessoas, ali, vendendo tomates com o mesmo ar autoritário de sempre, como se estivesse fazendo um favor ao mundo.

Eu me aproximei, fingindo desinteresse, enquanto ele parecia ocupado demais para notar minha presença. Escolhi alguns tomates, espremendo um e outro, tentando disfarçar o nervosismo que crescia dentro de mim. E foi então que percebi que ele estava me observando, analisando cada movimento meu, como se quisesse entender o que eu fazia ali.

— Tome cuidado com esses tomates. São sensíveis — disse ele de repente, a voz calma, mas com um tom quase provocador.

Revirei os olhos, sem olhar diretamente para ele.

— Obrigada pela dica, mas acho que sei como escolher um tomate — respondi, mantendo a voz casual, enquanto ele soltava um suspiro quase inaudível.

Decidi seguir adiante, afastando-me da barraca dele e parando em outra onde vendiam morangos. Peguei um punhado e tentei negociar o preço com o feirante, que olhou para Bruce, em pé atrás de mim, e acenou com a cabeça, parecendo nervoso. Olhei de um para o outro, confusa, até que o feirante cedeu e me deu um desconto generoso. Quando me virei, Bruce estava mais próximo, a expressão impassível, mas os olhos com aquele brilho provocador.

— Tem até desconto especial, não é? — comentei, sarcástica, sem poder esconder o riso.

Ele cruzou os braços, observando-me como se eu fosse algum tipo de enigma difícil de resolver.

— Apenas cuido para que os produtos saiam com preço justo.

Não quis alimentar ainda mais a conversa e continuei explorando as barracas. A cada parada, eu sentia o olhar dele em mim, como se ele estivesse me vigiando, mas não de maneira invasiva; era quase... curioso? Comecei a provocar, deliberadamente demorando para escolher cada item, brincando com as frutas e verduras, experimentando o queijo de cabra que uma senhora oferecia, e até me empolguei demais ao pegar um maço de alface, que acabou escapando das minhas mãos e se espalhando pelo chão.

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