AS PESSOAS DESSA CIDADE VIVEM AFUNDADAS NA MERDA, isso nunca foi uma dúvida, uma ideia ou idealismo, não, muito menos eufemismo, apenas um Zaunita sabe como outro Zaunita vive, simples assim.
Apenas um Zaunita poderia saber como a luz não bate lá embaixo, o sol da manhã banhando Piltover como se a saudasse, enquanto lá embaixo, se esgueirando como ratinhos de esgoto, as crianças pulam telhados, procurando um pouco do calor solar, apenas para se amontoarem em alguns fechos que escapam na parta mais alta de Zaun.
Apenas um Zaunita pode saber a sensação do sol de fim de tarde batendo contra seu rosto, aqueles raios quentes e quase desesperados, o único horário ao qual as brechas se tornam maiores.
Apenas um Zaunita sabe como é a vida da criança sentada na calçada, com roupas sujas, rasgadas e pequenas, por que, você já foi aquela criança. Apenas um Zaunita conhece a fome, o desespero, e a raiva.
Vi já foi tudo isso, já foi a criança vestindo trapos remendados pelas mãos delicadas de sua mãe, já foi a que caiu de joelhos, quando sentiu finalmente o peso de Zaun sobre os ombros, o que significava morar aqui. Ela já procurou feixes da aurora se esgueirando por Zaun, e já sentiu o calor desesperado do pôr do sol. Sentiu raiva, remorso, ódio.
Vi se odiou tanto ao longo dos anos, que mal sabe lidar com o amor dos outros. Ela abandou Powder, ela perdeu a Powder, não foi capaz de cuidar, não foi forte o suficiente, Vi se odiou cada dia que socava o concreto da prisão ou se deitava em seu chão gelado e sujo, odiou quem foi, odiou quem era, ela deixou sua família morrer, todos eles, apenas para largar Powder para trás, apenas para-
Vi se odeia, com tanta força, como foi capaz de ser cega? De deixar Caitlyn se tornar aquilo? Como se enganou?
Violet sabe que a Caitlyn que ela ama não existe naquela mulher rancorosa, vingativa e desequilibrada, Caitlyn a traiu, deixou outra cair entre suas pernas, e mesmo assim Vi continuo ali, fingindo não ver, Caitlyn mandou ela deixar os seus princípios de lado, esquecer quem matou seus pais, do uniforme azul que vestia machado de vermelho com o sangue deles, esquecer de onde veio e sua origem, e Violet aceitou, não apenas por que tinha que parar Jinx, mas porque queria ser amada, e ela sabe disso, uma parcelada dela sempre desejou isso, mesmo que nunca tenha tido isso por si mesma, talvez outra pessoa-
Vi já foi cada uma daquelas crianças, das que perdem os pais até as que são presas. E agora, enquanto anda na rua fria, desolada, levemente movimentada e decadente, cada passo que Vi dá, ela pode ver uma criança, um adulto, uma idosa, vivendo suas vidas miseráveis.
Uns estendem as mãos pedindo moedas, Vi joga uma de dez centavos e ele resmunga agradecendo solenemente. Um grupo de pirralhos novos o suficiente para ter deixado as fraudas agora passa correndo na sua frente, rindo como ela costumava rir na idade deles.
Nossa, que saudades disso.
Que saudade da sensação de ter um futuro.
A uma música leve de fundo, algum bar distante, Vi segura forte a sacola com o especial da peixaria que costumava ir quando adolescente junto de seu bando, caminhando, nessa área existem muitos restaurantes e até algumas boates, mas esse horário todos estão dançando loucamente ou em suas mesas, deixando que essa situação, que aquele homem encapuzado estenda a mão pedindo dez centavos ou que a mulher cante para seu bebê enquanto se senta sobre o papelão.
Violet se sente mal ao vê-la, mas não poderia fazer nada, não quando o poder não estava em suas mãos, e até mesmo ela, não tem força para estende-las e tentar agarrá-lo como já tentou.
É frustrante.
Mas Vi ainda tem seu especial em mãos, cheirando bem para caralho, a trazendo memórias boas, fazia tempo que não tinha coragem para come-lo de novo. Além disso, Violet tem Thalia agora.
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𝑅𝑖𝑡𝑚𝑜 𝑑𝑎 𝐷𝑜𝑟 ─ᴀʀᴄᴀɴᴇ─
Fanfiction❞Os malditos olhos de Thalia, que marcaram sua alma e seu corpo, e agora, Vi se via viciada como uma droga na imensidão deles❞ ༗ Às vezes, o amor é lindo, como botões de rosas em seu desabrochar, pe...