𝑅𝑖𝑡𝑚𝑜 𝑑𝑎 𝐷𝑜𝑟 ─ᴀʀᴄᴀɴᴇ─

ғᴏssᴏ ─ 5

O FOSSO CHEIRA A MERDA, literalmente, uma mistura horrível entre suor, sangue e fluidos corporais de qualquer tipo, e faz o nariz queimar. Vi queria ficar em casa, pela primeira vez desde que chegou nele, ela realmente queria se trancar lá dentro, sentar sobre o chão de cimento queimado, tragar um cigarro, beber daquela cerveja barata que compra no mercadinho ali perto e ficar em silêncio, e Violet nunca fica em silêncio, claro, ela não fala sozinha, mas não se deixa ficar em silêncio mental, não mesmo, quando está em casa, ela soca o saco de box, chuta e bate contra a cabeça até ela girar, e então se deita, afundando na autopiedade, e quando não faz isso, está pintando o rosto, cobrindo as tatuagens, retocando o cabelo, tentando não se olhar e ver a si mesma.

Mas hoje, ela queria realmente sentar, comer o chocolate que Thalia deixou e apenas existir, cansada dos socos, da adrenalina do fosso e dos narizes quebrados, ela se viu não querendo socar nada ou ver sangue, escutar a vibração do público, por que não estava com raiva, não, está confusa, talvez, perdida, certeza, mas não sentiu raiva de Caitlyn, dela mesma e de sua vida, apenas se sentiu presa na dor latejante na cabeça e no carinho de um simples papel.

Mas é seu trabalho afinal, é o que precisa fazer, então logo se viu sentada no banco velho antes de entrar para mais uma partida, os seios enfaixados de forma bruta, trancando sua caixa torácica, os punhos machucados cobertos e as pontas dos dedos ainda prestas pela tinta, o olhar vago no chão, a plateia aplaudindo de forma voraz.

❞Vamos garota, eu sei que você consegue!❞

Seu investidor levanta o punho tentando a animar, normalmente ela só o ignora, e essa noite não é diferente, Vi pode ouvir um riso leve vindo de seu colega, fazem parte da mesma "equipe" por causa de terem o mesmo patrocinador.

❞Se continuar enchendo ela assim, que vai acabar com a mandíbula deslocada é você❞

Isso fez outros colegas rirem e o patrocinador engolir em seco, passando seu olhar entre ela e o homem gigante, solto um sorriso breve e mexendo a cabeça em concordância antes de sair apressadamente, aquele cara é uma piada, pequeno e magricelo, e ainda sim, patrocina enormes nomes no fosso. O colega se senta ao lado de Vi, e pelo o que ela lembra o seu nome de guerra é Scorpion, não que ela de fato tenha se lembrado dele muitas vezes, claro, foram ele e mais dois colegas que apresentaram o bar e sempre batem em seus ombros falando que ela é realmente um animal descontrolado no ringue, talvez estejam tentando ser seus amigos, ou apenas tirarem com sua cara, no fim, não faz diferença. O cara suspira, apoiando os antebraços no joelho.

❞Dia merda?❞

Longe disso, mas Vi não responde.

❞Só não vai ficar distraída e levar um sacode❞, murmurou o cara, coçando a sobrancelha, ❞Não quero ter que recolher suas merdas depois❞

Isso a fez soltar um sorriso sarcástico, sim, ela está distraída, claro que está, normalmente o ódio e chama interna estão gravados em seus olhos duros, o azul se tornando cinza-escuro, ninguém pergunta de onde veio toda a raiva, e muito menos se importam, mas hoje, ela chegou distraída, jogou a jaqueta no banco e suspirou alto, os olhos leves analisando a entrada para a arena, nada duro e determinado, só mais um par de olhos azuis.

❞Eu nunca perco❞

❞É claro que não❞

E assim ela escuta o locutor chamá-la para a arena, a fazendo se ergue, limpar a calça e entrar com um punho levantado fazendo todos entrarem em puro êxtase. Hora do show.

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AS COISAS NÃO FORAM BEM, Vi não sabe em que momento as coisas começaram a dar errado, não sabe quando o primeiro soco a deixou desnorteada ou quando o cara agarrou e a jogou contra o chão, só sabia que sua pele está uma mistura de areia, suor e sangue. A dor queima sua pele e ela range os dentes, o nariz sangra, tem quase certeza que cortou o lábio, e é difícil se erguer novamente.