ᴇɴᴄᴏɴᴛʀᴏ 6

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VI SE ENCARA ATRAVÉS DO ESPELHO PEQUENO DE SEU BANHEIRO, a tinta jogada em um pote dentro da pia, os fios de sua cabeça jogados para trás, sendo tingidos novamente de preto, sua testa levemente manchada enquanto prende a língua entre os dentes concentrada. Ela não pensava em retocar o cabelo manchado novamente, mas fracamente, não tinha nada melhor para fazer.

Ela não foi beber no bar na noite passada, não viu Thalia, quando percebeu no meio da luta o peso que ela estava exercendo em sua mente, preferiu beber em casa, assim comprando seis latinas da cerveja mais barata do mercadinho ali perto, sentou sobre a escada de metal na frente de sua porta, e beber cinco delas, a sexta sendo colocada para dentro agora.

Violet sabe o caminho que está trilhando é perigoso, não deveria melhorar por outra pessoa, deveria melhorar por si mesma, e ela sabe disso, mas a força de suas pernas para levantar de manhã parece maior quando pensa em Thalia, ou fica mais fácil de deixar de beber mais um copo quando ela está do seu lado.

Caitlyn foi seu tudo, Vi respirava por ela, não tinha mais ninguém para amar, então colocou tudo sobre ela, colocou sua expectativa, Violet ainda pode se lembrar de acordar mais cedo todas as manhãs para admirar sua mulher entre os braços e afastar o cabelo de seu rosto, Vi colocou todo o cuidado que tinha antes com seus irmãos e Powder em Caitlyn, era como se tivesse um colar elizabetano grudado em si, escondendo todo o resto que não fosse Caitlyn, Vi amava ela, realmente amava ela.

E tudo isso é uma droga, por que não percebeu quando Caitlyn parou de sorrir para ela, parou de responder as suas tentativas de afeto ou conversação no jantar, quando começou a passar mais tempo no trabalho do que dentro de casa.

Caitlyn estava tendo um caso, e isso a destruiu, por que estava focada demais em tentar ser feliz e superar a morte de Powder do que a mantê-la ali.

Não, a culpa não é dela, mas parece.

Muito.

Caitlyn foi tudo, o ar de seu pulmão, o suspiro cansado, foi quem cortou seu coração e mil pedaços pequenos e latejante, e agora, Thalia está sendo a fita adesiva, colando os pequenos cacos.

Não é justo com Thalia, ela não deveria fazer isso, não deveria ter que se preocupar com uma coisa dessas, de longe não deveria, mas parece realmente se importar com o estado atual de Vi.

Talvez Violet esteja apostando todas a suas fichas nelas duas, não, provavelmente está. Perceber que apenas esquece Caitlyn apenas quando está com Thalia é assustador, e colocar um peso assim em alguém talvez não seja a coisa mais saudável.

Mas faz bem para ela pensar nos olhos verdes e nas canções melódicas, faz o grito interno parecer mais brando.

Mesmo assim, no fundo de sua mente, ele ainda existe, no fundo de sua mente Caitlyn ainda está lá, em cada canto escuro, em cada beco, em cada bandeira ou cara que tenta a beijar, e Thalia nem sempre conseguia abafar isso.

No entanto, ela tenta, mesmo sem saber, e isso basta. Por hora.

Um suspiro escapa de seus lábios, daqueles cansados, Vi leva a mão com tinta até a latinha de cerveja, a girando para sentir o líquido remexer, e então leva aos lábios se encarando no espelho, cabelos para trás, pretos, a lateral um pouco maior do que normalmente gosta, começando a roçar sua orelha, e isso a faz bater a latinha na pia com força, será que seria muito ruim pedir para Thalia ajeitar? Quer dizer, virou um costume das duas naquela época depois de Vi quase ter acabado com o próprio cabelo.

Violet se encara com mais força, estreitando os olhos, inclinando a cabeça, rangendo os dentes, não parecia ser ela, e isso é bom, até não ser mais.

𝑅𝑖𝑡𝑚𝑜 𝑑𝑎 𝐷𝑜𝑟                                                  ─ᴀʀᴄᴀɴᴇ─Onde histórias criam vida. Descubra agora