Seven

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O domingo chegou mais rápido do que eu esperava, e com ele veio o culto de oração para abençoar o meu "relacionamento" com Samuel. Vesti meu melhor vestido azul-claro, que ia até os joelhos e tinha mangas compridas, como minha mãe sempre recomendava. Prendi o cabelo num rabo de cavalo alto e usei sapatilhas mais confortáveis que tinha. Samuel, por outro lado, estava impecável como sempre, usando uma camisa social branca bem passada, calça preta, sapatos sociais, e até uma gravata azul-marinho. Ele segurava uma Bíblia de capa preta tão nova que parecia que nunca tinha sido folheada.

Quando cheguei na igreja, meus pais estavam radiantes, cumprimentando todos os presentes com sorrisos orgulhosos. Os pais de Samuel também estavam lá, sentados na primeira fileira, com sorrisos tão artificiais quanto o comportamento dele.

Ao longo do culto, Samuel era o retrato da perfeição. Ele segurava a Bíblia com a mão direita e mantinha uma expressão séria, mas de vez em quando fechava os olhos e balançava a cabeça em concordância com o sermão. Eu quase ri em certo momento, porque ele parecia um ator ensaiando para um papel.

O pastor, como sempre, estava de terno preto e Bíblia em mãos, e começou o culto com um louvor bem animado. Cantamos hinos enquanto o coral tocava no fundo, e eu via Samuel tentando acompanhar a letra no telão, mas parecia que ele estava mais preocupado em impressionar do que em cantar.

Quando chegou o momento da oração especial, o pastor chamou nossos nomes. Subimos ao púlpito juntos, com Samuel andando como se estivesse desfilando. A congregação estava toda de olhos em nós, e eu senti minhas bochechas queimarem. Samuel segurou minha mão com firmeza, um gesto que deveria parecer carinhoso, mas eu sabia que era puro teatro.

- Hoje celebramos a união de dois jovens que estão dispostos a seguir os caminhos do Senhor - disse o pastor, com a voz grave que ecoava no microfone. - Eliza e Samuel decidiram iniciar esse relacionamento sob a bênção de Deus, e é assim que deve ser.

Olhei para Samuel, que me deu um sorriso tão falso que tive vontade de revirar os olhos.

O pastor começou a oração, colocando as mãos sobre nossas cabeças. Fechei os olhos, tentando me concentrar, mas minha mente estava em todo lugar, menos ali. Pensava em Billie Eilish, em como ela se comportaria num ambiente assim, e no quanto tudo isso parecia uma encenação.

Após a oração, o pastor pediu que compartilhássemos algumas palavras. Samuel pegou o microfone, ajeitou a gravata e começou:

- Quero agradecer primeiramente a Deus, por guiar meu coração até Eliza. Ela é uma jovem incrível, dedicada à sua fé, e eu me sinto muito abençoado por estar ao lado dela.

Era difícil ouvir aquilo sem fazer uma careta, mas forcei um sorriso.

Quando chegou minha vez de falar, engoli em seco.

- É... também quero agradecer Deus por colocar Samuel na minha vida. Espero que nosso relacionamento seja sempre abençoado e... que possamos crescer juntos na fé.

Minha voz soou trêmula, mas ninguém pareceu notar. A congregação aplaudiu enquanto descíamos do púlpito.

Quando voltamos para os nossos lugares, Samuel sussurrou no meu ouvido:

- Acho que fui convincente, né?

Dei uma risadinha nervosa, mas não respondi. Meus pais estavam tão emocionados que mal perceberam a troca de olhares entre mim e ele.

O culto terminou com um louvor final, e enquanto a música tocava, Samuel voltou a sua atuação, erguendo as mãos em um gesto de adoração que parecia retirado de um manual. Eu me perguntava até onde ele estava disposto a ir para sustentar essa farsa.

𝐎 𝐏𝐞𝐜𝐚𝐝𝐨 𝐭𝐞𝐦 𝐎𝐥𝐡𝐨𝐬 𝐀𝐳𝐮𝐢𝐬 | G!POnde histórias criam vida. Descubra agora