04 capítulo

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O tempo passava devagar, enquanto eu permanecia sentado no sofá de Hana, envolto pelo silêncio e pela penumbra do apartamento

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O tempo passava devagar, enquanto eu permanecia sentado no sofá de Hana, envolto pelo silêncio e pela penumbra do apartamento. Os ponteiros do relógio na parede se moviam lentamente, e eu quase me perguntava se ela realmente voltaria. Estava prestes a me levantar quando ouvi o som suave de passos no corredor. Fiquei imóvel, atento, enquanto a porta se abria lentamente.

Mas não era Hana quem apareceu.

Uma garotinha entrou na sala, carregando um pequeno coberto nas mãos. Ela parecia ter cerca de cinco ou seis anos, cabelos escuros e lisos caindo sobre os ombros, e seus olhos grandes e curiosos refletiam a luz fraca da sala. Ela parou na entrada, me olhando surpresa e confusa, claramente não esperando encontrar alguém ali.

Por um instante, ficamos nos encarando, o silêncio tão profundo que eu podia ouvir minha própria respiração. Então, com a calma desconcertante de uma criança que ainda não conhecia o perigo, ela inclinou a cabeça para o lado e perguntou:

— Quem é você?

Eu poderia ter mentido, inventado uma desculpa qualquer, mas algo nos olhos dela me fez hesitar. A sinceridade desarmante de uma criança que não sabia quem eu realmente era. Engoli a resposta óbvia e apenas dei um sorriso pequeno, o mais amigável que pude forçar.

— Sou um amigo da sua mãe — respondi calmamente, mantendo a voz baixa. — Ela pediu para eu esperar por ela.

Ela parecia aceitar minha resposta, e seu rosto relaxou um pouco. Ela caminhou até mim, curiosa, e largou o cobertor no chão ao lado do sofá, sentando-se na poltrona à minha frente. Houve um silêncio breve, desconfortável, antes de ela falar novamente.

— Você sabe cozinhar? — perguntou de repente, com uma expressão intrigada.

Fiquei surpreso pela mudança repentina de assunto, mas balancei a cabeça devagar.

— Sim, sei cozinhar. Por quê?

— Estou com fome — ela respondeu, com a simplicidade de quem fala a verdade absoluta. — E mamãe sempre demora muito para voltar.

Eu não sabia o que esperar quando entrei naquele apartamento, mas com certeza não era acabar na cozinha, cozinhando para uma garotinha que, aparentemente, estava acostumada a ficar sozinha por longos períodos. Levantei-me, meio hesitante, e fui até a cozinha, esperando encontrar ingredientes básicos.

Ela me seguiu com curiosidade, parando na porta da cozinha enquanto eu abria os armários e a geladeira. Não havia muito, mas encontrei algumas coisas que poderiam servir. Peguei ovos, pão, queijo e alguns vegetais. Nada sofisticado, mas suficiente para um lanche rápido.

Enquanto preparava uma omelete, a pequena menina — que mais tarde descobri se chamar Aika — me observava atentamente, com os olhos atentos e curiosos. A sensação era estranha. Havia algo reconfortante em cozinhar para ela, um ato tão simples e corriqueiro, mas que parecia carregar um significado muito maior naquela noite silenciosa.

— Você mora só com sua mãe? — Perguntei casualmente, enquanto mexia os ovos na frigideira.

Ela assentiu com um aceno de cabeça, os dedos pequenos brincando com a barra da camiseta que usava.

— Sim. É só a gente. Ela trabalha muito, então às vezes fico sozinha. Mas eu sei cuidar de mim.

Havia um orgulho quase palpável na voz dela, algo que fez meu peito apertar de um jeito estranho. Eu não sabia ao certo o que esperava encontrar ali, mas a solidão daquela criança, sua independência precoce, não era algo que eu planejava. Havia algo nela que me lembrava de mim mesmo quando era pequeno, forçado a amadurecer cedo demais.

Quando terminei de preparar a comida, coloquei o prato diante dela. Aika sorriu, e algo dentro de mim, algo que eu não esperava sentir, aqueceu ao ver aquele sorriso genuíno.

— Obrigada! — disse ela, pegando um garfo e começando a comer com entusiasmo.

Eu me sentei à mesa, observando-a enquanto ela devorava o prato. Não consegui evitar um pequeno sorriso ao vê-la feliz com algo tão simples como uma refeição caseira. Durante alguns minutos, o silêncio não era mais desconfortável. Era quase... familiar.

Assim que ela terminou de comer, Aika olhou para mim com um brilho nos olhos.

— Você é legal. Quando mamãe vai chegar?

A pergunta me fez lembrar do porquê eu estava ali, do motivo pelo qual entrei naquele apartamento. Hana havia me enganado, e eu estava ali para ajustar as contas. Mas, de alguma forma, a presença de Aika, sua inocência e o modo como ela parecia confiar em mim, fizeram meu plano parecer mais complicado do que eu imaginava.

— Logo — respondi, a voz mais baixa do que pretendia. — Ela logo estará aqui.

Aika sorriu e bocejou, esfregando os olhos sonolentos. Eu a acompanhei de volta à sala, e ela se deitou no sofá, parecendo tão pequena e vulnerável naquele espaço vazio. Enquanto ela adormecia, eu fiquei ali, em silêncio, observando o ritmo suave da respiração dela.

Havia algo naquele momento que não estava nos meus planos. Um sentimento que não fazia parte do jogo.

Eu não sabia o que faria quando Hana voltasse, mas, pela primeira vez em muito tempo, sentia que minhas ações naquele apartamento tinham deixado de ser apenas sobre negócios.

𝓪𝓲𝓷𝓱𝓪 𝓭𝓮 𝓒𝓸𝓹𝓪𝓼  - Manjiro sano

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