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A noite caiu suavemente sobre Lisboa, com as luzes da cidade a refletirem no Tejo. Eu estava sentada no sofá, os olhos fixos na porta que João acabara de fechar. Ele tinha saído, mas deixou um rastro de palavras que ecoavam na minha mente. "Eu não quero perder-te." Palavras bonitas, mas seria suficiente?

Levantei-me e comecei a andar pela sala, abraçando-me a mim mesma, como se isso pudesse conter a confusão que crescia dentro de mim. João tinha sido sincero, eu sabia disso, mas também sabia que ele não tinha todas as respostas que eu precisava. E, pior ainda, eu não tinha as minhas próprias respostas.

O telefone tocou. Por um momento, pensei que fosse o João novamente, mas quando olhei para o visor, vi o nome de Carolina, a amiga que sempre esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis. Atendi com um sorriso tímido.

— Matilde, estive a pensar em ti o dia todo — começou ela, sem rodeios. — Estás melhor? Como correu a conversa com o João?

Suspirei, sentando-me no sofá.

— Foi... honesta. Mas ainda sinto que estamos presos num ciclo. Ele quer lutar por nós, mas eu não sei se tenho forças para isso, Carolina. Eu amo-o, mas não posso continuar assim.

Carolina ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder.

— Matilde, às vezes precisamos de nos afastar para perceber o que realmente queremos. Mas não podes deixar que a dúvida te consuma. Seja qual for a tua decisão, ela tem que ser tua, por ti. Não podes viver a tua vida em função de alguém que ainda está a tentar resolver os próprios problemas.

Aquelas palavras acertaram-me em cheio. Carolina tinha razão, mas o que eu não sabia era como encontrar essa clareza.

— Tens razão, mas... como é que eu faço isso? Como é que eu me foco em mim mesma quando sinto que tudo está a desmoronar?

— Um passo de cada vez, Matilde. E, às vezes, esses passos incluem aceitar a ajuda de outras pessoas. Queres vir cá a casa amanhã? O António também vai estar cá, e ele sabe sempre como levantar os ânimos.

O Tojo era um dos poucos que conseguia fazer-me rir mesmo nos piores momentos. A ideia de sair de casa e passar algum tempo com eles parecia-me quase reconfortante.

— Está bem, Carolina. Amanhã vejo-vos.

— Ótimo. Vamos cuidar de ti, Matilde. Um dia de cada vez.

No dia seguinte, fui até à casa da Carolina e do António. Era um pequeno apartamento no centro de Lisboa, sempre cheio de vida e calor. Carolina abriu a porta com um sorriso e abraçou-me apertado, como se quisesse transmitir toda a sua força. O António estava na cozinha, a preparar algo que cheirava maravilhosamente bem.

— Chegaste na hora certa! — exclamou ele, enquanto mexia uma panela. — Hoje é dia de risoto. Nada como boa comida para consertar corações partidos, não é?

Eu ri, pela primeira vez em dias.

— Não sei se comida pode resolver tudo, António, mas aprecio o esforço.

tu e euOnde histórias criam vida. Descubra agora