O feriado estudantil foi a pausa perfeita para escapar da correria da universidade. Visitar meus tios sempre foi como entrar em um universo paralelo, onde a simplicidade da vida tomava conta e o barulho era substituído por uma tranquilidade rotineira. Passei quatro dias mergulhado no dia a dia da loja de ferragens que eles administravam – um pequeno negócio com o charme de décadas passadas, mas que carecia de toques modernos.
Apesar de não serem completamente avessos à tecnologia, meus tios tinham certa relutância em usá-la como uma ferramenta estratégica. Aproveitei a estadia para criar uma loja online, configurando uma página nas redes sociais e implementando um sistema básico para o fluxo de caixa. Organizei as vendas a prazo, que até então eram feitas sem nenhum tipo de garantia, e estabeleci um método para rastrear e cobrar pagamentos pendentes.
Essa dinâmica me aproximou ainda mais deles. Minha tia tinha uma maneira peculiar de se comunicar – gritos que começavam no pé da escada e ecoavam pela casa. "John, para de mexer nesse computador e venha jantar!" O chamado dela era inconfundível, e o riso inevitável. Entre gritos e assobios, não era fácil dizer se estávamos brigando ou comemorando. Para quem olhasse de fora, nossas interações pareciam caóticas, mas, para mim, eram confortavelmente familiares.
No jantar, comi rápido demais, tentando explicar as novas senhas e funcionalidades da loja online. "Tia, já deixei tudo anotado. Qualquer coisa, é só me ligar", disse, a voz abafada por uma coxa de frango. O tapa na cabeça veio imediatamente. "Não fale de boca cheia!", ela retrucou, rindo junto comigo. Naquele momento, percebi como nossa relação era uma mistura única de afeto prático e amor espontâneo.
Na manhã seguinte, arrumei minha mala e me despedi, sabendo que voltaria à faculdade sem grandes avanços na pesquisa sobre Karen. Minha busca por informações sobre sua época ali continuava frustrante. Tudo que encontrava me levava de volta ao mesmo ponto: um vazio histórico que parecia intocável. Evitar o cemitério nos últimos dias fora uma decisão deliberada. Não sabia o que dizer a ela, mas o adiamento estava no fim.
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Foram três horas de viagem em um ônibus nada confortável. Quando finalmente cheguei à estação no centro da cidade, era fácil distinguir quem morava ali de quem estava só de passagem para estudar. Os estudantes se agrupavam em busca de caronas — geralmente com agricultores ou moradores dispostos a realizar uma pequena viagem. Uma caminhonete chamou minha atenção imediatamente.
— Ei, cara! Você demorou! Sobe logo aí, vamos para o lago! — gritou Carlos, equilibrando-se na porta aberta da caminhonete azul-escura. A pintura desbotada e a coleção de adesivos na traseira a tornavam impossível de ignorar. Mas mais chamativo ainda era o grupo de sete jovens barulhentos na caçamba, usando chapéus engraçados e acompanhados de uma caixa de som que tocava música alta.
Não consegui conter o riso. Apressei o passo, joguei minha mochila na caçamba e entrei na cabine, ocupando o banco do passageiro ao lado de Laura. O banco traseiro estava lotado com mais quatro colegas amontoados, mas ninguém parecia se importar. Não havia necessidade de conversas profundas — curtíamos o momento cantando, desafinados, qualquer música que tocasse no rádio. Foram trinta minutos de estrada, cheios de risadas e vento no rosto, até chegarmos ao lago.
Assim que descemos, nos espreguiçamos para aliviar a tensão do trajeto e começamos a organizar as coisas. Descobrimos na caçamba uma lona, uma grelha algumas linguiças e muitas cervejas, o suficiente para garantir horas de diversão.
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Lamentos sob a Lua
FantasyJohn, um estudante universitário carismático e cheio de entusiasmo, sempre acreditou no poder da lógica e na solidez dos fatos. Sua vida era marcada por objetivos claros e determinação inabalável. Contudo, o destino tem suas maneiras de desafiar até...